Após o assassinato de Rabin, “não houve uma reflexão profunda. Esse é o problema até hoje”, diz Yaron Zilberman

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No último dia 2 de dezembro, a colaboradora do IBI, Ana Clara Buchmann, recebeu o cineasta israelense Yaron Zilberman para uma conversa sobre seu filme mais recente, Incitement (2009), um drama que reconstitui os passos do assassino de Yitzhak Rabin, a partir de seu ponto de vista. Também participou do encontro o Dr. Rani Jaeger, pesquisador do Kogod Research Center e chefe da Tanakh Initiative no Shalom Hartman Institute. O evento, produzido pelo IBI em parceria com a Comunidade Shalom, foi transmitido ao vivo pelo YouTube e redes sociais de ambas as instituições.

O filme de Zilberman é resultado de anos de pesquisa que incluíram muitas horas de entrevistas com o próprio Yigal Amir, condenado à prisão perpétua pelo assassinato de Rabin. Segundo o cineasta, aprender sobre a personalidade do assassino o fez entender que “ele não é um louco como as pessoas gostariam de acreditar”. Do ponto de vista de quem vive no mundo em que o assassino vivia o assassinato pareceu justificado. Para o diretor, o episódio não foi um acidente, mas “um plano de incitação conduzido por políticos, professores, e também por rabinos. Foi algo feito a sangue frio, bem calculado, com história por trás. É isso que o filme mostra”. 

Para Jaeger, mesmo 25 anos após o crime contra Rabin, a sociedade israelense ainda não teria superado o trauma. “Por quase vinte anos, houve silêncio. Ainda não encontramos uma maneira de dar significado ao evento”. Zilberman lembrou que direita israelense não assumiu nenhum tipo de culpa pelo contexto que produziu o assassinato. Além disso, após a prisão de Amir, decidiu-se não investigar a participação de líderes políticos e religiosos no processo de incitação à morte de Rabin. “Prenderam o cara, ele falou do envolvimento do seu irmão e dos seus amigos e foi isso. Eles ficaram satisfeitos porque não queriam sair prendendo rabinos e talvez provocar uma guerra civil”.

Na avaliação de Zilberman e de Jaeger, a dificuldade da sociedade israelense de fazer uma autocrítica e falar sobre as tensões que culminaram na morte de Yitzhak Rabin se arrastaria até os dias de hoje, em que as lideranças da região não parecem interessadas em reiniciar um processo de paz com a Palestina. “Encontramos a paz com países árabes que na verdade já têm uma boa relação com Israel. Tudo bem, sou a favor disso, mas esses não são os desafios que Israel enfrenta hoje”, provocou Zilberman.

O maior desafio de Israel hoje, para Jaeger, poderia ser resumido na seguinte formulação: “ou deixaremos de ser uma democracia, ou deixaremos de ser um estado judaico”. O dilema contemporâneo se apoiaria na impossibilidade de manter o controle sobre a Cisjordânia em sintonia com valores ao mesmo tempo judaicos e democráticos. Se Israel formalizar a anexação desses territórios, a população árabe passaria a ser maioria no país. “Então teremos um voto por pessoa e não seremos mais um estado judaico. Ou então será um estado de apartheid, o que não será nem democrático e nem judaico, porque os judeus do resto do mundo não terão como se identificar com um país assim. Será algo que desrespeita os valores judaicos e os judeus do resto do mundo”.

Após o assassinato de Rabin, “não houve uma reflexão profunda. Esse é o problema até hoje”, diz Yaron Zilberman, diretor de Incitement”.

Assista à conversa na íntegra em inglês ou em português.

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