TEL AVIV – Chegou o dia mais esperado e temido pelos pais neste 2020: 1° de setembro. É o dia da volta às aulas, em geral um alívio para os pais. Mas, este ano, com a pandemia do coronavírus, os pais não sabem o que é pior: enviar os filhos para a escola e arriscar que eles sejam infectados ou mantê-los em casa e arriscar perder o emprego ou diminuir, em geral, a capacidade de prover para a família? Trata-se de um dilema que os israelenses estão vivendo na pele.
Só para se ter uma ideia, duas escolas já fecharam no primeiro dia de aula depois que professores foram diagnosticados com Covid-19. E 24 cidades nem puderam abrir suas escolas porque foram classificadas de “vermelhas”: onde o surto de coronavírus só piora. Quer dizer, 332 escolas e 716 jardins de infância nem abriram enquanto Israel foi dividido em 4 cores: vermelho, laranja, amarelo e verde (da situação pior à situação melhor).
É sempre no primeiro dia de setembro que começam as aulas do ano letivo israelense. Todos os anos, os pais contam os segundos para esse dia. Julho e agosto são meses das férias de verão e os pais têm muita dificuldade em trabalhar normalmente e, ao mesmo tempo, entreter e cuidar dos filhos. Israelenses não têm empregada em casa para tomar conta dos filhos. E os dois pais, em geral, trabalham.
As colônias de férias só funcionam algumas semanas e são caras. Nem todos podem pagar. Para os mais novinhos, as creches ficam abertas quase todo o verão, mas no final de agosto, também fecham. Resultado: em 1° de setembro, os pais estão preparadíssimos para mandar os filhos de volta a instituições de ensino. Mas, este ano, tudo é diferente.
Primeiro, a incerteza é enorme. Todos sabem que a volta às aulas é sinônimo de aumento da infecção por Covid-19. Todos sabem que assim que os 2,5 milhões de alunos voltarem a estudar, algumas escolas vão ter que fechar de novo assim que algum professor ou criança adoecer. Todos sabem que o número de doentes – incluindo doentes graves – vai subir pelas paredes. Mas, ao mesmo tempo, todos sabem que é impossível manter as escolas totalmente fechadas e arriscar o futuro educacional do país.
A tentativa é de alcançar um meio termo com o menor risco possível. Não ajuda o fato de Israel estar enfrentando uma segunda e mais severa onda de Covid-19, nos últimos dois meses. O país até enfrentou bem a primeira onda, em março e abril. Em junho, o otimismo era enorme.
Mas em julho, o pesadelo recomeçou. Atualmente, Israel registra mais de 2 mil infectados por dia. Na primeira onda, o máximo diário foi de 600. Na primeira onda, o número de mortos não chegou a 300. Agora, Israel está prestes a ultrapassar a marca de 1.000 mortos por Covid-19.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu queria muito diminuir drasticamente esses números antes do 1° de setembro. Queria fazer um lockdown no final de agosto. Mas não conseguiu. Ao contrário da primeira onda, quando ele tinha o poder de centralizar tudo porque liderava um governo interino, agora existe um governo eleito e inúmeros comitês e burocracias a serem seguidos. Inúmeros acordos políticos e parlamentares que só pensam em aliviar para seus eleitores. Mas esse “alívio”, que pode significar uma abertura maior nas restrições, também pode significar um aumento drástico de doentes e mortos.
E como será o novo ano letivo nas escolas que abriram? As turmas foram divididas em “cápsulas” de no máximo 18 crianças. Cada cápsula chega em uma hora diferente na escola e passa o dia inteiro em contato só com os colegas de cápsula. Os mais velhos usam máscara o tempo todo. Os mais novos, podem tirar quando estão na classe. Os alunos mais novos vão à escola todos os dias (ou quase todos). Os mais velhos vão de dois a cinco dias (dependendo da escola e do grau), sendo o que o resto do tempo, estudam online.
É uma confusão para os pais e um anticlímax para as crianças. Não é um começo normal de ano letivo. E ninguém sabe o que vai acontecer daqui a duas semanas. Mas esse é o novo normal deste momento histórico e complicado.