O Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu diz ver uma “oportunidade histórica”, junto da administração empática de Trump, para começar a estender a lei israelense, a partir da semana que vem, por todos os territórios ocupados no Vale do Jordão, de maneira unilateral – os 30% da Cisjordânia alocados a Israel na proposta de paz de Trump.
Mesmo? Por quê?
Isso poderia causar um surto nos níveis de violência local; talvez até, como temem as agências de segurança, uma nova intifada.
Isso pode causar o colapso do nosso tratado de paz com a Jordânia, cujo rei disse que a anexação unilateral é inaceitável, e indicou que, no mínimo, vai retirar o embaixador e reduzir os laços.
Isso vai diminuir e possivelmente travar as relações entre Israel e as outras nações na região que compartilham do interesse de enfrentar o Irã.
Isso complicará colossalmente as nossas relações com a União Europeia.
Isso irá alienar grande parte do Partido Democrata nos Estados Unidos, o que provavelmente reverteria qualquer reconhecimento por parte da administração de Trump, caso eles reassumam o controle da Casa Branca.
Isso vai agradar ao BDS (movimento de Boicote, Desenvolvimentos e Sanções), que vai pintar Israel como um regime de apartheid impondo dois pesos e duas medidas nas populações israelenses e palestinas na Cisjordânia, e vai encontrar sucesso nas suas iniciativas de isolar Israel diplomaticamente, economicamente e culturalmente. (Em contraste com as Colinas de Golã, onde Israel impôs suas leis em 1981 e foi endossado pela administração de Trump no ano passado, Netanyahu não vai garantir cidadania aos palestinos nas áreas que serão anexadas; eles continuarão em enclaves sob controle de Israel. Desde que Israel anexou a Jerusalém Oriental depois da guerra de 1967, foi formalmente oferecida a possibilidade de cidadania israelense aos palestinos de lá, embora através de um longo e complicado processo).
Isso vai agradar aos nossos inimigos mais perigosos, particularmente o Irã, que farão de tudo para capitalizar o estado de pária de Israel.
Isso vai alienar grande parte dos judeus da diáspora.
Mas seu maior impacto vai ser em Israel – no que acreditamos, e em como nos enxergamos.
Confiança doméstica na nossa causa e legitimidade
Esse país foi revivido por mandato internacional 72 anos atrás, na correção tardia de um erro histórico – tardia pois a restauração da soberania da histórica terra natal judaica não veio a tempo suficiente para a Israel moderna salvar milhões de judeus europeus dos nazistas.
Foi revivida na base de uma solução de dois Estados – o retorno do Estado judeu histórico, e um inédito Estado independente para os residentes árabes da região. Os pioneiros sionistas de Israel ficaram desapontados com a divisão da Palestina sob domínio inglês, mas, com relutância, aceitaram sua alocação. Por contraste, aqueles na região em torno da nascente da Israel moderna, se recusaram a aceitar o ressurgimento da soberania judaica, e muitos buscam destruir o país desde então.
Na comunidade internacional, muitos, preguiçosos ou cegos ideologicamente para distinguir entre causa e efeito, castigaram Israel por décadas pelo crime aparente de se defender contra aqueles que buscam nossa destruição, quando uma inspeção rápida confirmaria que o “conflito no Oriente Médio” acabaria se a agressão contra Israel parasse.
Mas Israel sabe a verdade. Sua resiliência – sua capacidade não apenas de sobreviver, mas de prosperar por décadas de guerras, terrorismo e tentativas de demonizá-la – é o maior testamento da sua confiança doméstica na nossa causa e legitimidade.
Estender o domínio israelense na Cisjordânia unilateralmente – precipitando os esforços declarados da administração de Trump para negociar um acordo, tomando terras e transformando Israel no partido rejeicionista – marca o oposto do nosso interesse como nação. Isso não apenas prejudica o modo como somos vistos mundialmente, mas também muda o jeito como nos apresentamos e nos enxergamos.
A Autoridade Palestina rejeitou o plano de Trump antes mesmo dele ter sido revelado. Rotineiramente causa intriga com Israel, e seu presidente, Mahmoud Abbas, através de discursos deliberadamente intransigentes e intolerantes, procura separar a Israel moderna do seu patrimônio histórico judaico. Nós não podemos renunciar territórios para essa liderança palestina com segurança, não nesse clima tóxico que eles ajudaram a criar. Nós também estamos atentos às consequências devastadoras das renúncias dos territórios adjacentes no norte (a “zona de segurança” do sul do Líbano em 2000) e no sul (a Faixa de Gaza em 2005), onde, em ambos os casos, organizações terroristas tomaram esses espaços, criando guerras, conflitos e causando perigo constante.
Mas nós não deveríamos subverter nossos objetivos de longo prazo, nem os princípios fundamentais da nossa Declaração de Independência – para prosperar como um Estado democrático judeu, preparado e disposto a defender-se dos inimigos, e com sua mão estendida como um sinal de paz aos vizinhos que realmente desejam viver com tranquilidade ao seu lado.
Por que Netanyahu alega ver uma “oportunidade histórica” na declarada extensão da soberania territorial israelense às partes disputadas da Cisjordânia, agravando o imbróglio entre Israel e os palestinos e cedendo sua superioridade moral, que é central para a resiliência e auto-confiança de Israel, é difícil compreender. Ele antes era cauteloso quanto aos perigos de um Estado binacional entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo, onde Israel iria perder sua maioria judaica, ou ter que subverter sua democracia.
Mas ele disse que só vai prosseguir se tiver o apoio dos Estados Unidos, nosso mais importante, mais confiável, e mais próximo aliado. Então, cabe à administração de Trump, agora contemplando se deve dar sinal verde à aposta de Netanyahu, dizer ‘não’.
Em janeiro, o presidente americano Donald Trump apresentou uma proposta projetada “para beneficiar os palestinos, israelenses, e a região como um todo”, como uma base para negociações diretas entre israelenses e palestinos numa “solução de dois estados realista”.
Vamos ficar com esse plano.
Texto publicado originalmente no jornal The Times of Israel.
Tradução: Amanda Hatzyrah.