TEL AVIV – A pandemia do Covid-19 está sendo enfrentada de formas distintas por cada país. Quando o vírus começou a se espalhar pelo mundo, em fevereiro deste ano, cada nação fez sua aposta. Seria melhor ordenar que ninguém saísse de casa ou seria preferível manter a vida normal, esperando a chamada “imunidade de rebanho”? Seria melhor fechar as fronteiras do país ou seria preferível apenas restringir a chegada de pessoas das nações mais afetadas?
Se os resultados de cada aposta nacional eram obscuros, antes, agora que convivemos com o novo coronavírus há alguns meses já podemos apontar o que deu certo e o que deu errado. Proponho um estudo dos casos da Suécia e de Israel, países com populações semelhantes e que enfrentam o vírus desde a mesma época.
A epidemia de COVID-19 começou oficialmente na Suécia em 31 de janeiro de 2020. Mas a coisa começou a pegar por lá no final de fevereiro. A primeira morte foi registrada em 11 de março. Ao contrário de quase todos os países europeus, o governo sueco decidiu que a vida continuaria praticamente normal no país. Quem quisesse, se isolaria socialmente. Mas quem não quisesse, tudo bem. Até teve uma limitação de aglomerações, mas escolas foram mantidas abertas, assim como bares e restaurantes. As orientações de distanciamento social, não sair de casa e não visitar idosos foram isso: só orientações. Não instruções.
Se, em março, poucos criticavam essa posição da Suécia – e alguns ainda hesitam em criticar –, acho que, dois meses depois, já dá para perceber que não deu certo. Até hoje, 27,272 casos foram diagnosticados e 3,313 pessoas morrem no país de 10 milhões de pessoas (dados do site Wordometer). Ainda há 18,988 casos ativos na Suécia, com 4,971 doentes tendo se recuperado. O total de mortes por 1 milhão de pessoas é 328 (número altíssimo até para o Brasil, que registra 55 mortes de 1 milhão de habitantes).
Como sabemos que esse não é um bom resultado? É só colocar os dados da Suécia ao lado dos de Israel, um país também com cerca de 10 milhões de habitantes. Em Israel, o surto de COVID-19 começou em 21 de fevereiro. Em 20 de março, a primeira pessoa morreu. Mas, antes mesmo da primeira morte, o governo israelense já havia decretado regras de distanciamento social em 11 de março (dia da primeira fatalidade na Suécia).
Em 19 de março, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu decretou estado de emergência nacional: os israelenses entrariam basicamente em lockdown. Não poderiam sair de casa – a não ser para supermercados e farmácias (com exceção de trabalhadores super essenciais como médicos, paramédicos em bombeiros). Em 25 de março, as máscaras viraram obrigação. E cidades e bairros inteiros, como Bnei Brak (de ultraortodoxos), Meá Shearim (também de ultraortodoxos, em Jerusalém) e Hura (aldeia beduína, no Sul do país), começaram a ser isolados e fechados.
Até o momento, Israel tem “apenas” 258 mortes entre 16,526 casos (4,312 ativos e 11,956 recuperados). A proporção de fatalidades é 30 por 1 milhão de pessoas.
Novamente: Israel, com suas restrições e regulamentos severos, registrou 258 óbitos, ou seja, 30 a cada 1 milhões de pessoas. E a Suécia, com sua noção de normalidade em meio à pandemia, registrou 3,313 falecimentos, 328 a cada 1 milhão. Acho que já podemos concluir que a ideia de “imunidade de rebanho” não deu certo. Que o que deve ser feito é incentivar o isolamento social e severas medidas de proteção à vida como eventuais lockdowns.
Aliás, a Grã-Bretanha também decidiu esperar para ver, no começo da pandemia. O primeiro-ministro Boris Johnson também achou que era besteira. Chegou a se orgulhar de ter “apertado a mão” de doentes com coronavírus – como se isso o elevasse ao patamar da princesa Diana, que foi a primeira a apertar a mão de um doente com HIV, em 1987.
Neste caso, no entanto, apertar a mão de alguém não é heroísmo: é um perigo real. Apertar a mão de um doente não é mostrar solidariedade a ele e sim desdém à vida. O resultado é que os britânicos registram mais casos do que a China, a Itália e a Espanha. Estão em segundo lugar no mundo em óbitos pelo COVID-19, perdendo apenas para os EUA.
O Brasil, com seus 55 óbitos por 1 milhão de pessoas (por enquanto), já está em 6° lugar no mundo em número de óbitos, mesmo com a proporção baixa. Seria realmente bom que todos entendessem que é melhor agir como Israel do que como a Suécia.