Desde que começou a crise mundial do coronavírus, as autoridades em Israel levam tudo a sério e tomaram medidas práticas para tentar salvar vidas no país. Eles contam com a ajuda de especialistas nacionais e estrangeiros. Por vezes, o primeiro-ministro e o presidente conversam com líderes mundiais para trocar ideias e selar colaborações – filosóficas, médicas, comerciais. Falam sobre parcerias em pesquisas, estudos e desenvolvimento de vacinas ou curas. Ou apenas trocam experiências e, provavelmente, se consolam mutuamente pelos mortos e doentes e pelas economias em crise.
O presidente Reuven “Ruvi” Rivlin, já conversou por telefone ou videoconferências com dezenas de colegas e autoridades internacionais, nas últimas seis semanas. Ele falou com o Papa Francisco, com os reis da Espanha e dos Países Baixos, com os presidentes de Alemanha, Itália, França, Áustria, Moldávia, República Tcheca, Croácia, Armênia, Chipre, Grécia, Portugal, Romênia, Bulgária, Cazaquistão e Sérvia.
Mas não falou só com personalidades europeias. Rivlin falou com os presidentes de países latinoamericanos como Colômbia, Peru e Honduras.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu também anda conversando com líderes mundiais. No dia 24 de março, por exemplo, ele falou com a chefe de governo alemã, Angela Merkel. No mesmo dia, ele participou de uma videoconferência com outros seis: o chefe de governo austríaco, Sebastian Kurz; o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison; da Nova Zelândia, Jacinda Ardern; da Dinamarca, Mette Frederiksen, da Grécia, Kyriakos Mitsotakis; e da República Tcheca, Andrej Babis. Kurz é que convidou o grupo, que disse ser de países que estão se destacando como modelo no combate à COVID-19.
Pois é, acho que quem chegou a essa parte do texto – e leu o título – já entendeu onde quero chegar. Ninguém falou, ligou, consultou ou se interessou em falar com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Nem Netanyahu, que fez história ao ser o primeiro premiê de Israel a realizar uma visita oficial ao Brasil para justamente participar da posse de Bolsonaro. Quando se trata da atual epidemia, no entanto, a amizade parece ter dado uma esfriada. Aliás, Netanyahu também não conversou sobre o assunto com o presidente americano Donald Trump – a não ser que confidencialmente.
É claro que isso não quer dizer que o premiê de Israel decidiu se afastar totalmente de Trump ou Bolsonaro. Mas, enquanto os dois baixavam a bola do coronavírus, Netanyahu não saiu em defesa de seus aliados. Pelo contrário: fazia, em hebraico, para a população local, aparições quase diárias explicando os perigos do vírus, apelando para as pessoas adotarem o isolamento social e não sairem de casa a não ser em casos urgentes. Ele também se colocou em quarentena quando o marido de uma assessora pegou o vírus. E não saiu às ruas ou participou de reuniões. Os discursos na TV, a um certo momento, passaram a ser da casa dele, sem público e sem ministros.
Netanyahu também nunca defendeu remédios experimentais como a cloroquina para uso da população em geral – apesar de médicos locais terem sim experimentado com a droga em hospitais com doentes diagnosticados (não sei se alguém chegou a conclusões sobre a eficácia ou não). E, claro, ninguém aqui cogitou sugerir estudos ou a ingestão de desinfetantes pelas pessoas.
Não sei se Bolsonaro esperava apoio internacional a suas ideias ou se chegou a cobrar isso de líderes aliados ou seus representantes no país. Também não sei até que ponto esse vírus servirá de catalizador geopolítico.
Se o vírus declinar rápido e o corona se tornar uma memória esdrúxula, será apenas um espirro na diplomacia mundial. Mas, se a epidemia mundial durar muito tempo, talvez seja um elemento importante na nova realidade pós-COVID-19.