Há diversas formas de se queimar a bandeira de Israel.
De um lado, de forma literal, ateando fogo, como fizeram mais de uma vez setores sectários da esquerda brasileira.
De outro lado, há formas metafóricas de se queimar a flâmula israelense, como usá-la em manifestações com as quais não tem nenhuma relação.
Se queimando a bandeira, de maneira literal, vemos fumaça e cinza, ao fazê-lo de forma metafórica os prejuízos podem ser menos visíveis num curto prazo, mas são tão graves quanto.
Nesse último domingo, em diversas cidades brasileiras, a bandeira de Israel foi vilipendiada e queimada em manifestações organizadas pela extrema-direita. Nos atos de cunho antidemocrático e com exaltações à ditadura militar e ao AI-5, saltava aos olhos a bandeira azul e branca.
Os manifestantes, no entanto, hasteavam uma Israel imaginária, com pouquíssima relação com a Israel real – diversa, complexa e contraditória. Ignoravam as conquistas feministas, os direitos LGBT’s e outros tantos que colocam a Israel contemporânea a milhares de quilômetros das agendas defendidas por grupos extremistas nas ruas do Brasil.
Mas não é somente isso.
A utilização da bandeira do Estado judeu em atos que pedem a volta do AI-5 deturpa e ofende a memória de Ana Rosa Kucinski, de Iara Iavelberg, de Vlado Herzog e de todos os outros judeus mortos e torturados pela ditadura.
Ainda pior, essas bandeiras foram erguidas na véspera do Yom HaShoá (Dia de Lembrança do Holocausto), desrespeitando a memória dos judeus e das judias que, segurando a bandeira com a Estrela de David, resistiram aos nazistas e lutaram por um mundo mais democrático e justo.
Curiosamente, esses atos no Brasil aconteceram justamente quando milhares de Israelenses erguiam as mesmas bandeiras em Tel-Aviv, mas defendendo um Estado de Direito e democrático.
Seria mais interessante se essa Israel fosse levada em consideração.