Por causa do antissemitismo latente que vem assombrando o mundo
inteiro, a AJC instituiu o dia de hoje como o Jewish And Proud Day, onde
nós, judeus, devemos mostrar para o mundo que não temos vergonha de
sermos quem somos e que o preconceito e o ódio contra nós devem acabar
de vez.
Isso não é difícil de fazer. Eu tenho o maior orgulho de
ser judeu. Minha formação judaica é a responsável por eu ser quem sou.
Tudo que apresenta algum tipo de temática judaica eu vou atrás, seja
palestras, livros, filmes, músicas.. A história do nosso povo é rica e
plural, tem para todos os gostos. Eu leio Amós Oz e Etger Keret, vejo
Billy Wilder e Mel Brooks, escuto Barbra Streisand e Billy Joel. Somos
uma comunidade plural e diversa. Não a toa que o político que mais
abomino e o político que mais admiro são judeus.
Meu humor veio
totalmente do humor judaico, seja pelo meu avô, seja pelos comediantes
que busquei me inspirar ao longo dos anos. Se vocês me acham engraçado,
saibam que a cultura judaica é responsável por isso. Minha preocupação
com causas sociais também. Até minha opinião negativa sobre mim mesmo,
tudo tem sua origem no mesmo lugar.
Não falarei sobre religião,
porque isso não é tão importante para mim. Respeito as tradições muito
mais pelo nosso legado e nossa história, vinda de gerações e gerações,
do que necessariamente por uma crença religiosa. Acho que, por mais que
alguns digam que não, o judaísmo engloba toda uma variedade de coisas
que não se limitam somente a uma crença e pronto. São suas ações e
confianças no que você acha certo e o caminho que o leva a realiza-las. É
passar seu conhecimento adiante e receber conhecimento de quem você
menos esperaria. É ajudar na Construção do Mundo. É fazer Tsedaká, que
não quer dizer “caridade”, quer dizer “justiça social”. Um mundo mais
igualitário, um mundo mais justo para todos. É isso que eu tiro do meu
legado e da minha cultura. O que adiantaria eu ir à sinagoga todo
Shabbat e não ter boas ações depois?
De uns anos para cá, vocês
devem ter percebido que me afastei do judaísmo. Não é verdade, nunca me
afastei do judaísmo e nem me afastarei. Me afastei, sim, da comunidade
judaica paulistana. Ou da maior parte dela. O máximo que faço é
trabalhar, com muito orgulho, em uma escola judaica maravilhosa.
Infelizmente, a comunidade judaica paulistana e carioca, em sua maioria,
foi por um caminho que eu discordo veementemente. Cada um tem seu
motivo, claro, mas tenho muita dificuldade em aceitar meus valores
judaicos ao lado dos valores judaicos de quem só se importa com o
próprio umbigo. Independentemente se faz “caridade” ou não.
Sei
que isto não representa nossa comunidade mundial, já que a maior parte
de grupos com os quais eu concordo e dos quais apresentam bons valores
são muitas vezes chefiados ou popularizados por judeus. Grupos que
discutem o meio ambiente, a mudança climática, a enorme desigualdade
social, os direitos de povos marginalizados, etc.. Grupos que atacam de
frente toda forma de fascismo, nazismo e autoritarismo, seja protestando
pacificamente ou, em casos extremos, violentamente. É um imenso prazer
ver judeus lutando por um mundo melhor ao redor do mundo, e me dá um
enorme orgulho de ver os nossos valores judaicos fortes e prontos para
fazerem a diferença.
Como um certo futuro presidente
norteamericano, o mais amado do país. Ele é nosso e tem muito orgulho
disso. E é o que mais representa nosso judaísmo. Não acredite se te
disserem o contrário.
É isso que sempre faço questão de destacar
quando vejo algo antissemita por aí. Há pessoas que infelizmente veem
um microcosmo de judeus e pensam que eles representam a todos e todas.
Isso causa raiva em muita gente. Causa desilusão. A melhor forma que
vejo para combater esses comentários é discutir e conversar. Muitas
vezes, isso vem de uma ignorância sobre o cenário global e tudo o que é
necessário é simplesmente mostrar para a pessoa da onde vem o
preconceito dela. Conversem em vez de cancelarem. Serve para todos os
lados. Claro, se você ver alguém com o símbolo nazista na rua, não há
diálogo. É melhor quebrar na porrada mesmo.
Escrevi bastante,
agora vou ao Cinema. Provavelmente, ver um filme israelense. Que vocês
tenham um bom dia do orgulho judaico e que sempre levem seus valores
judaicos em conta, aqueles que você preza e que você põe em prática
diariamente. Eu, com certeza, irei.
Ah, isso serve para quem não é judeu também. Ninguém foi escolhido aqui. Somos todos iguais.