Você pode ser a favor, contra ou mesmo ter sentimentos dúbios em relação ao ataque americano que matou o general iraniano Qasem Soleimani.
Mas chega a ser estranho ver grupos de esquerda se compadecendo das autoridades do regime, apressando-se a prestar-lhes condolências e fazendo isso justamente no espaço mais representativo do aparato oficial.
Não é de hoje que o silêncio ensurdecedor de alguns desses grupos frente as constantes violações dos princípios universalistas tem sido a regra. O “imperialismo” tornou-se argumento para passar pano para ditaduras e teocracias que, às vezes, aparecem de forma combinada, como no caso em questão. A dinâmica “opressor” e “oprimido” acaba por distorcer a realidade, apagar a complexidade das relações sociais e faz com que se cruze linhas morais inimagináveis.
Já estamos acostumados com o olhar torto sobre as nações do Oriente Médio. No caso de Israel, costuma-se ignorar a sociedade civil, as contradições internas do país, assim como as manifestações que desafiam a política hegemônica. O mesmo se dá com o Irã, mas ao contrário: busca-se higienizar o seu governo, escondendo-se aquilo que não combina com os valores supostamente defendidos.
Ao fazer isso, tais grupos produzem o duplo isolamento das vítimas do regime e contribuem para perpetuá-lo no poder. Nada mais distante do papel histórico que têm a desempenhar.