“Rotatividade é uma boa opção, mas impasse pode continuar”, afirma analista israelense

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Uma das
mais importantes blogueira políticas de Israel, Tal Schneider não se lembra da
última vez que Israel se encontrou em um imbroglio tão profundo. Ativa no
Twitter com mais de 115 mil seguidores, Tal acredita que a primeira semana de
outubro será fatídica, com o juramento dos novos parlamentares eleitos em 17 de
setembro e a audiência do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu diante da
promotoria pública.

Segundo a
jornalista, Netanyahu – investigado em três casos de corrupção – será
indiciado, mesmo que apenas por quebra de confiança. Tudo isso junto é como um
terremoto político que leva a mais insegurança depois do resultado das
eleições, que não deram vitória a ninguém. Abaixo, ela desfila os possíveis
cenários e análises da situação, no momento.

Como está
o clima em Israel em meio ao impasse político?
Tem estado bastante
tenso em Israel, com uma eleição após outra. Nunca vimos nada parecido na
história do país. O resultado da eleição é muito complicado. Analisando as
eleições, acho que muitos dos israelenses apoiaram o Azul e Branco para impedir
Netanyahu de seguir seu caminho em busca de imunidade política. Portanto, ambas
as partes sabem que não têm como obter um governo sem o outro. Obviamente, Netanyahu,
se não podemos dizer que perdeu a eleição, podemos dizer que definitivamente
não venceu. Não é o resultado desejado que lhe permitirá conseguir imunidade.

Esse
tipo de impasse aconteceu antes, não?
Sim, em
1984. Mas aconteceu de maneira um pouco diferente. Naquela época, o presidente
Herzog, pai de Yitzhak Herzog, estava muito envolvido no processo. Foram
tomadas medidas para unir as partes e ele também teve a ideia de compartilhar a
posição de primeiro-ministro: dois anos para um e dois anos para o segundo. Esta
é a razão pela qual todos os israelenses falam sobre a possibilidade de rotatividade.

É uma
boa opção?
Um governo
de unidade ou de rotatividade pode ser forte porque representa grande parte da
sociedade, mas também é um governo fraco, porque cada partido quer divulgar à
imprensa muitas histórias sobre o outro.  Portanto, esse impasse
ainda pode continuar depois que o governo for formado. A pergunta é: quem será
primeiro-ministro antes, caso a rotatividade aconteça. O Likud diz que Gantz
não tem experiência. Que é melhor que ele seja vice-premiê por dois anos,
aprenda um pouco de política e só então se torne primeiro-ministro. O problema
é que há muita desconfiança entre Netanyahu e Gantz, ou, na verdade, entre
Netanyahu e qualquer outro político. A maior desconfiança é que, se Netanyahu ocupar
no posto pelos dois primeiros anos, ele poderá lançar mão de algum truque para
dissolver o Knesset quando chegar a vez de Gantz.

Netanyahu
tem chance de formar um governo que não seja de rotatividade com Gantz?
Ele tem o
bloco 55 recomendações de parlamentares. O outro lado tem 54, que, na verdade,
pode ser menos, porque a Lista Árabe Unida recomendou Gantz, mas disse que não
vai entrar no governo. Portanto, Netanyahu tem a maior chance, apesar de suas
chances serem muito baixas. Devemos ficar de olho em (Avigdor) Lieberman. Ele talvez
quebre sua promessa e se junte a um governo do Likud.

Acredita
nisso?
Para dizer
a verdade, não vejo isso acontecendo. Penso que uma das razões pelas quais
Lieberman realmente levou a uma segunda eleição é porque não queria entrar em
um governo sob Netanyahu, então nada mudou que justifique uma mudança. Em sua
campanha, ele repetiu que quer apenas um governo de unidade nacional com Likud,
Azul e Branco e ele. Mas temos outros jogadores nesse jogo.

Quem?
Por exemplo
o ministro do Interior Aryeh Deri, líder do Shas, o partido ultraortodoxo
sefaradita, que saiu-se muito bem nas eleições, com nove cadeiras. Ele também carisma
político e é muito pragmático e lógico. Um problema com Deri é que ele também
está sob investigação, mesmo que ainda tenha um ano e meio pela frente até um
indiciamento. Como ator político, ele pode fazer a diferença. Ainda não o vejo
desempenhando o papel de moderador entre Likud e Azuel e Branco, conhecendo-o
bem, acho que ele poderia ser o “adulto responsável” e desempenhar esse papel.

O que
Yair Lapid, que concorreu ao lado de Gantz nas eleições, pensa de um possível
governo de união nacional? Gantz prometeu a Lapid dividir com ele a posição de
premiê, se o Azul e Branco vencesse. Mas caso haja um governo de rotatividade
com Netanyahu, isso fica impossível…
Lapid é
muito influente e é um político muito forte. Realmente, todo o sucesso do Azul
e Branco foi graças aos ativistas do Há Futuro, o partido de Lapid, que se uniu
ao Azul e Branco. Benny Gantz não poderia ter vencido essas eleições sem o
trabalho do Há Futuro. Mas Lapid quer mesmo ser o ministro das Relações
Exteriores. Como eu sei disso? Ele me disse, on the record. Esse é o primeiro
objetivo dele. Mas Lapid vai estar por trás de tudo. Gantz é menos experiente.
Lapid sabe jogar o jogo político.

Existe a
possibilidade de o Azul e Branco se separar diante uma possível pressão de
Netanyahu para atrair Gantz para um governo de união nacional sem Lapid e os
outros membros da lista?
Pode ser
que o Azul e o Branco seja frágil. Mas, dito isso, se não se separou em abril,
por que faria isso agora, quando alcançou um resultado melhor do que antes? Esse
grupo de pessoas conseguiu derrotar políticos veteranos com uma super
infraestrutura. O Likud tem o apoio de um imenso grupo de prefeitos e
ativistas. Acho que o Azul e Branco permanecerá unido, pelo menos no início do
próximo Knesset. Não o vejo se dissolvendo quando ainda estão surfando na
sensação e na atmosfera de vitória 

Se não
houver um governo de união nacional e nem Netanyahu ou Gantz conseguirem formar
uma coalizão, há alguma outra pessoa que pode despontar como próximo premiê?
Se nada
funcionar, então, segundo a Lei Básica de Israel, 61 membros do Knesset podem
procurar o presidente e indicar um primeiro-ministro. Por exemplo, digamos que parte
do Likud entenda que Netanyahu não tem como formar um governo. Eles podem recomendar,
por exemplo, o ministro do Exterior Israel Katz com apoio do Shas e do Lieberman.
Mas, para que isso aconteça, é preciso que o Likud se divida internamente. Não
vejo isso, no momento. For a isso, esse tipo de opção nunca aconteceu,
mesmo sendo possível.

Será que
Israel irá novamente às urnas, pela terceira vez, se nada der certo?
Não acho
que vamos chegar a esse ponto, mas semana que vem será uma semana crucial em
todo esse processo. Na quarta e na quinta-feira que vem (2 e 3 de outubro), vão
acontecer as audiências de Netanyahu com a promotoria pública sobre as três
acusações criminais que ele enfrenta. E, na quinta, também temos a inauguração
do novo Knesset, o 22º. É verdade que o procurador-geral deve levar quatro,
seis ou sete semanas para decidir por um indiciamento ou não. Mas tudo isso
acontecendo junto é um terremoto político.

Deve
haver um indiciamento?
O entendimento
geral é sim. Mas pode ser que o promotor Avichai Mandelblitt decida indiciar
Netanyahu só por quebra de confiança, não suborno. Aí Netanyahu sairá a público
dizendo: “eu disse a vocês que não havia nada”. Mas, o primeiro-ministro Olmert
foi preso por oito meses por quebra de confiança. 

Mas não
há membros do Likud que só esperam a queda de Netanyahu para buscar a liderança
do partido?   
Sim, mas parece
que nenhum dos membros do Likud está disposto a sair contra Netanyahu agora.
Ser o primeiro rebelde. Eles sabem que os ativistas do partido não vão gostar
disso. Temem por seu futuro político. É um tipo de impasse interno. Ninguém
está disposto a dizer o que pensa de verdade. Mas isso pode mudar se houver um
governo de rotatividade e um indiciamento. Vai haver uma luta aberta sobre a
herança no Likud. 

O apoio da
Lista Árabe Unida a Gantz é mesmo uma revolução na política israelense?
Sim, é um
evento histórico. Isso não acontece desde 1992, desde os dias de Yitzhak Rabin.
Muitas pessoas comparam Gantz a Rabin por causa da semelhança física e das
credenciais de ex-general do exército. O fato de que um grupo de 10 parlamentares
árabes recomendaram o Azul e Branco – que tem três ex-generais na liderança, é
simplesmente incrível. Foi muito difícil para eles fazer isso. Mesmo que não
entrem numa coalizão, esse apoio pode ser transformado em benefícios caso Gantz
seja primeiro-ministro. Pode haver mudanças orçamentárias em benefício às
comunidades árabes em Israel, seu padrão de vida, infraestrutura e verba para
educação. Portanto, nem tudo foi negativo nessas eleições. Há um lado
positivo.     

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