Editorial: É chegado o momento

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É chegado o momento. Nossas posições, nossas perspectivas, nossas reflexões têm causado reações, à direita e à esquerda. Reações hermeticamente ideológicas. É chegado o momento de nos explicarmos. Não porque queremos convencer a ambos os grupos de que temos razão, mas porque parece que a extrema direita e setores da esquerda não estão entendendo o que dizemos e, assim, não há diálogo possível. Nos tempos em que vivemos é quase um mandamento buscar diálogo. Então, vamos lá.

É difícil o papel do tradutor. Ou ele é muito literal, ou é profundamente metafórico. Em ambos os casos ele erra. O bom tradutor é aquele que sabe a medida certa entre o literal e o metafórico. Não é fácil. No caso do conflito palestino-israelense, antes de qualquer debate, temos que entender a tradução palavra hasbará. Entender mesmo, não apenas passar por ela.

A tradução literal do termo é “explicação”. No entanto, hasbará não está nem no campo da explicação nem do conhecimento. Não está nem mesmo no campo da política. A nosso ver, hasbará tem a ver com consumo. Consumo porque é propaganda. O consumidor, pois, tem que estar convencido que o produto que compra o satisfaz. Que precisa dele. Se ele tem dúvidas, se afasta. Compra depois, e o pior, não recomenda que conhecidos e amigos o comprem também. Aqui no Brasil, até bem pouco tempo, gente interessada no conflito palestino israelense somente tinha à disposição a propaganda, a hasbará, seja nas prateleiras acadêmicas ou políticas.

Nesse contexto, Israel era todo bom ou todo ruim. Pra lá ou pra cá, era a hasbará que mandava. De um lado, a negação da ocupação de 1967 e, de outro, afirmações de que Israel era ocupação em sua totalidade. Pronto. Denúncias ou defesas. Quem queria pensar, analisar e refletir ia embora ou escolhia outro tema. Israel e Palestina era colonizado pela propaganda, hasbará, pró ou contra. Assim, desenvolveu-se uma categoria de análise: “Israel imaginário”. Como qualquer categoria de análise, não queremos afirmar um quadro no lugar de outro. Não é ‘tutti buono’ ou ‘tutti malo’ em Israel. Quem crê nisso são os que compram a hasbará e se deixam colonizar por ela.

Há gente que imagina que Israel seja a parada gay de Tel Aviv, e isso é um equívoco. Mas imaginar que Israel se restrinja ao esforço de marketing do governo também é. Ambos são equívocos ideológicos. Falsificações da realidade em nome da ideologia de quem imagina. Nada pode ser pior para quem quer estudar um tema, seja qual for. O que é interessante, e a categoria de “Israel imaginário” nos ajudou a pensar isso, é que grupos ultra-conservadores e progressistas pensam a mesma “Israel imaginária”, a Israel armada, religiosa e intolerante. Ambos produzem a mesma Israel. Para os primeiros, isso é positivo, para os segundos é negativo. Ambos erram e produzem um modelo ideológico que tem a ver com suas agendas e não com as condições objetivas da realidade.

E quais são essas condições? A verdade é que Israel (assim como o Rio de Janeiro, o Capão Redondo ou Belém do Pará) é múltiplo e cheios de contradições. Há ocupação e há movimentação LGBT, há coerção religiosa e veganismo, há extrema direita e há uma nova esquerda. Talvez seja difícil conviver com essas contradições. Talvez seja difícil não atacar ou denunciar, não defender ou apenas elogiar, mas é preciso. É preciso sair das teias da hasbará, seja ela positiva ou negativa, e entender que as contradições são a vida em si, e não apenas parte dela.

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