A propaganda sionista: o KKL, os periódicos e o cinema

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O sionismo, como
um movimento plural, criou frutos muito diferentes ao longo de sua história, às
vezes até de maneira conflitante. O trabalho na terra, o “fazer florescer no
deserto”, está muito presente na memória sionista desde o início da migração
judaica para a Palestina, ainda sob o domínio britânico, como aparece no
registro feito por Moshe Shriki, na década de 1960, que mostra o plantio de
árvores nas montanhas de Gilboa. Nesse sentido, o KKL teve importância central
na consolidação do sionismo, e sua história se confunde a do Movimento
Sionista, suas diferentes visões. Para entender o lugar do KKL na história do
sionismo, é necessário, primeiramente, entender um pouco da história do Movimento
Sionista.

Duas vertentes do
movimento se consolidam logo nos primeiros Congressos Sionistas visando uma
posição hegemônica: o sionismo político, que tem Theodor Herzl como seu
fundador, e o sionismo prático, representado em grande maioria pelos representantes
da Europa oriental nos Congressos. As ideias sobre migração para a Palestina
são fundamentais para entender a diferença entre esses dois movimentos.  O
sionismo político visava a utilização das estruturas do Movimento Sionista em
benefício da articulação política com as potências imperialistas e com os
países interessados na região. Por outro lado o sionismo prático pretendia
utilizar as estruturas da Organização Sionista Mundial a fim de garantir a
contínua e crescente onda de crise migratória para os territórios palestinos.

A tensão entre
esses dois projetos conflitantes também criou instituições de diferentes
naturezas que ajudariam cada um dos lados a levar adiante seus projetos
sionistas de maneira paralela para a criação de um “lar nacional judaico na
Palestina”, e é aí que o Fundo Nacional Judaico (em hebraico, Keren Kayemet
LeIsrael, ou simplesmente KKL) foi criado. Tendo como mentor o matemático e
sionista russo Hermann Shapira, o KKL foi idealizado para ser um fundo que
tinha por objetivo principal a compra de terras no território palestino, para
que fossem utilizados a posteriori na colonização da Palestina. A raiz
ideológica do KKL, criado por Shapira, era o sionismo prático. Para que seu
projeto fosse viabilizado, o mentor do KKL apresentou fundamentos básicos para
a implementação do Fundo Nacional Judaico, sendo eles a exclusividade do
destino do Fundo para a compra de terras na Palestina, que esta restrição
constasse em ata de fundação e que, além disso, o fundo contasse apenas com a
doação de judeus de todos os cantos do globo. O sionismo político, de Herzl,
também criou uma maneira de financiamento paralela e concorrente: o Banco
Nacional Judaico.

Apesar de ter sido
apresentado e aprovado no I Congresso da Basileia (1897), o KKL é implementado
somente no V Congresso Sionista já sob a liderança de Johan Kremenezky – uma
referência do sionismo político e um dos maiores aliados de Herzl -, e
finalmente em 1901 o Fundo estava estabelecido. Após seu estabelecimento, o KKL
se torna uma das entidades mais importantes no campo da institucionalidade
sionista e na futura relação com comunidades judaicas (sionistas) pelo mundo
inteiro. Ao longo das décadas, o KKL como uma das maiores referências
institucionais do Movimento Sionista, abordava a participação dos judeus que
sofreram a diáspora nos novos esforços nacionalistas, principalmente com
relação às doações financeiras.

Desde o princípio
o KKL se apresentou como um projeto florestal que visava transformar uma terra
desolada em um maravilhoso país verde. Para que houvesse a “colonização” dos
territórios palestinos, era necessário que o povo judeu se dispusesse a ocupar
e zelar por sua “Terra Prometida”, e portanto o Movimento Sionista passou a
incentivar essa ocupação. Esse incentivo foi elaborado e implementado pela
propaganda sionista, que passou a motivar a ida de judeus para a Palestina em
busca da formação do “lar nacional judaico”, utilizando diversos meios para
concretizar tal investida. A propaganda sionista, uma das principais
ferramentas para a efetivação da ocupação, recorreu a disseminação de suas
ideias por meio do uso de selos, como a estrela de David, panfletos e
brochuras, além da circulação de periódicos e panfletos que circulavam como
recurso divulgador do Movimento Sionista, como os jornais Hatzfirá (A
sirene), Hod Hayom (Ainda Hoje), A Columna, entre outros.

Outro recurso
utilizado pela propaganda sionista foi o cinema. A produção cinematográfica
surge em Israel, independente em 1948, por parte do Estado, por meio da
produção de documentários, que visavam incentivar a imigração para o novo país
e utilizando filmes que exaltavam a Guerra de Independência (1948-1949), o
papel dos pioneiros, os valores coletivos, o trabalho, a produção agrícola, a
construção de cidades e estradas em meio ao deserto, etc. Essa produção
didática, que possuía um conteúdo de cunho propagandístico e ideológico, e que
formou o “realismo sionista”, inaugurou o primeiro gênero do cinema israelense,
denominado “nacional-heroico”.

Atualmente
o trabalho do KKL gira em torno de três projetos e atividades independentes
intituladas como sustentabilidade, periferia e educação. Tendo em vista a
responsabilidade com as gerações futuras, parte de quatro princípios: o
ecológico, que se preocupa com o equilíbrio da natureza e de sua diversidade,
permitindo que os serviços do ecossistema sejam sustentáveis e constantemente
renovados; o social, que compreende a natureza e o ecossistema como um bem
comum de todos os cidadãos e, portanto, possuem o direito de participar das
decisões que afetam seu futuro; o econômico, que enxerga os recursos naturais
com respeito ao meio ambiente e ecologicamente consciente, e o princípio
transnacional, que acredita na preservação de recursos naturais e da
biodiversidade privilegiando as gerações atuais e futuras. A educação se tornou
primordial, e é trabalhada através de ações pedagógicas, capacitação de
docentes, publicações e campanhas que criam um vínculo entre as novas gerações
de judeus e a Terra de Israel.

Pesquisa e texto: Bianca Bastos.

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