A crise na esquerda israelense

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A esquerda israelense está em crise e isso não é nenhuma novidade. Nas vésperas das eleições para a o 21º Parlamento, os partidos da esquerda sionista – Avoda e Meretz – se encontram em uma situação apertadíssima, na qual podem até não chegar a somar 15  mandatos juntos1

A primeira coisa que pode-se perguntar sobre essa crise é sobre seu início. É comum que se diga que a crise da esquerda começa com o assassinato de Rabin. Muitos de nós sabemos de cor a frase na qual se afirma que Ygal Amir não matou Rabin, apenas. Ele matou a chance de paz. Outro pensamento comum é que Ygal Amir não foi um fenômeno individual, mas a consequência de atos políticos (dos quais Bibi participou), de afirmações comunitárias radicais (de líderes religiosos dos assentamentos) e de propaganda com objetivos desumanizadores. Eu concordo com tudo isso e, além de concordar, acho importantíssimo estabelecer esses pensamentos como base para a nossa discussão hoje. No entanto, a crise da esquerda israelense não está somente no assassinato de Rabin. 

Até 2011, a esquerda israelense estava focada em mensagens de paz. Em 2011, manifestações populares tomaram as ruas do Oriente Médio e também as ruas de Tel Aviv e de outras cidades em Israel. Pela primeira vez, a mensagem sobre o custo de vida foi um tema central na política da esquerda partidária em Israel. Importante ressaltar que alguns lideres dessas manifestações hoje ocupam posições na Knesset, como Stav Shaffir, entre outros2

Ainda assim, a esquerda israelense não conseguiu formar uma liderança que tenha um alcance de sucesso dentro da população do país. Principalmente com a direção de Avi Gabay e sua postura frente Tzipi Livni com objetivo de quebrar a coligação (Machane HaTzioni)3. Por outro lado, Tamar Z. não consegue se desvencilhar de sua agenda política particularista. 

A próxima pergunta seria: o que você quer dizer com agenda política particularista? Em um nível teórico, agenda política particularista significa uma política que se baseia nos cidadãos do centro e não da periferia. Na prática, eu não vejo na agenda do Meretz uma política que abraça a periferia e traz mensagens de fora da bolha de Tel Aviv4. Sim, essa última frase vem de uma pessoa que vive em Jerusalém e não encontra no Meretz uma opção de partido para as suas questões políticas. 

Me pergunto, então, se há alguma relevância na esquerda sionista como ela está organizada hoje. Enquanto a esquerda sionista permanecer “batendo na mesma tecla”, a crise continuará. É uma responsabilidade muito grande para eu sugerir um caminho, no entanto, gostaria de compartilhar com vocês, leitores e leitoras, o que eu espero ver na agenda política da esquerda sionista. 

De maneira geral, eu gostaria de ver na agenda política da esquerda sionista a inclusão do povo. Isso significa: ao mesmo tempo que o partido no poder atualmente – Likud – trabalha com o medo do outro, eu quero ver a esquerda falar sobre inclusão do outro. Sem deixar de lado o argumento de segurança. A esquerda ainda não conseguiu consolidar um discurso de segurança, no qual o centro da discussão seja a inclusão e não o armamentismo ou a defesa através da exclusão. 

A mais nova coligacao “Kachol Lavan”, da qual participam grandes figuras militares5, não propõe um Israel que inclua os aposentados ou todos cidadãos que se encontram na linha da pobreza para Israel – segundo a pesquisa do Bituach Leumi (o paralelo ao INSS aqui em Israel) havia um pouco mais 460 mil famílias que viviam na linha da pobreza em 20176.

Ademais desses pontos, há uma crise no jogo político em geral. Essa crise se caracteriza por um cisma entre os partidos politicos e o povo. Representatividade de seus eleitores, foco político frente a mídia e propostas legislativas são os três meios que temos para configurar a conexão entre partidos e povo. Nesses três pontos, o Parlamento israelense está desfalcado. 

Nesse sentido, para garantir que a democracia liberal se mantenha como forma de governo, independente da minha ou da sua tendência política, é preciso que estejamos de acordo que a oposição seja fortalecida. Hoje, a oposição é a esquerda e enquanto os partidos não aceitarem o desafio de sair do gabinete e descer para a rua, a política israelense será liderada pelo primeiro ministro com maior número de acusações por improbidade devido à corrupção na história do Estado de Israel7.

1https://www.10.tv/news/181997
2https://main.knesset.gov.il/mk/pages/MkPersonalDetails.aspx?MKID=903
3https://www.ynet.co.il/articles/0,7340,L-5438958,00.html
4https://hazmanhazeh.org.il/newpolitics/
5Benny Gantz, Moshe (Bugi) Ayalon, Gabi Ashkenazi
6https://www.btl.gov.il/Publications/oni_report/Pages/oni2017.aspx
7https://www.telegraph.co.uk/news/2018/12/02/israeli-pm-benjamin-netanyahu-should-charged-third-corruption/

Imagem: Oren Ziv (activestills.org)

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