Alunos do Curso de Formação do IBI fazem viagem de campo a Israel

Grupo em frente ao monumento em homenagem a Janusz Korczak, no Yad Vashem

Foram dias intensos, que começavam de manhã cedinho e terminavam invariavelmente num restaurante, bar ou hall do hotel para uma conversa sobre aquilo que havíamos visto.

Visitamos lugares sobre os quais a maioria de nós só tinha ouvido falar no noticiário. E outros tantos que nem imaginávamos que existiam – “e por que raios ninguém fala deles?”, pensamos.

Encontramos pessoas de todos os estratos sociais, que abriram suas casas, escritórios e corações para dividir conosco histórias e pensamentos sobre o passado, o presente e o futuro.

Israelenses e palestinos, religiosos e laicos, lideranças político-partidárias e ativistas, que dedicaram um pouco de seu tempo para conversar com esse grupo de brasileiros ansioso para descobrir tudo o que fosse possível sobre essa porção de terra, ao mesmo tempo pequena e monumental.

A realidade em preto e branco, como muitas vezes a região é retratada, ganhou múltiplas cores e nuances.

A viagem vai deixar saudades. Mas estamos também ansiosos para voltar ao Brasil e compartilhar um pouco mais dessa experiência com familiares, amigos e todos aqueles que carregam consigo um pouquinho do Oriente Médio.

Confira abaixo o relato da viagem, dia a dia, publicado no Instagram do IBI

Dia 1
Hoje de manhã, em Tel-Aviv, os alunos do curso do IBI, jovens de São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, se encontraram para conversar sobre as expectativas e objetivos da viagem.
Serão 10 dias em campo para aprofundar as discussões sobre Israel, Palestina e Oriente Médio, tratadas ao longo do curso do IBI em cada cidade.

Dia 2
O segundo dia da viagem do IBI começou no Kibutz Zikim, no sul de Israel. A visita foi conduzida por Mark Levy, ex-diretor geral do Movimento Kibutziano e morador do Kibutz desde 1971.
Zikim, fundado em 1949, fica apenas a 3 km da Faixa de Gaza, região controlada pelo Hamas.
As fronteiras de Gaza com Israel estão praticamente fechadas desde 2007, quando o Hamas expulsou a facção palestina rival, o Fatah, e tomou conta da região.
Ainda assim, por mais que a circulação nas fronteiras seja restrita, a região em que o Kibutz está localizado é uma das mais sensíveis às tensões entre Israel e Gaza. Desde 2009, o Hamas e Israel entraram em confronto algumas vezes. Nesses conflitos, os ataques aéreos de Gaza sempre paralisaram o sul do país e, por isso, Zikim e outras comunidades do entorno dispõem de abrigos antiaéreos e sirenes.
Segundo Mark Levy, o dia a dia em Zikim, fora de momentos de grandes conflitos, costuma ser tranquilo.

Dia 3
No terceiro dia da viagem do IBI, o grupo encontrou-se com a sociedade drusa. A atividade começou com uma conversa com Anuar Saab, Tenente Coronel da Reserva do Estado de Israel, e acabou com uma refeição tipicamente drusa.
Os drusos são uma comunidade autônoma que segue uma religião derivada do islamismo. Eles falam a língua árabe e estão concentrados principalmente na região da Síria, Líbano e Israel.
Em Israel, são por volta de 140.000 pessoas (1,6% da população). De maneira contrária aos árabes muçulmanos do país, os drusos se alistam no exército de defesa de Israel, sendo que 491 deles já morreram em combate.

Dia 4
O grupo encontrou Sandra Kochman, rabina que luta pelo direito das mulheres na religião judaica.
Sandra é membro do grupo Nashot HaKotel (Mulheres do Kotel), organização que luta pelos direitos das mulheres principalmente no Muro das Lamentações, como o direito de rezarem coletivamente e em voz alta, usarem artefatos religiosos reservados aos homens (talit e tefilin), entre outras reivindicações.
Durante o ano, todos os meses, elas fazem o serviço de Rosh Chodesh (início do mês) no muro, em que elas vão em conjunto reclamar seus direitos.

A luta delas é pelo pluralismo religioso

Dia 5

Dia de conhecer as diferentes narrativas e histórias a respeito da realidade em Israel e nos territórios controlados pela Autoridade Palestina.
O que pensa o prefeito de um assentamento na Cisjordânia? E o que tem a dizer um palestino que vive num campo de refugiados em Belém? Como são divididos os territórios árabes e judaicos na região?

Para discutir essas questões, o grupo visitou o assentamento de Efrat e conversou com o prefeito local. Depois, a visita foi na cidade de Belém, no assentamento palestino Dheisha, e a conversa foi com um morador que participou de protestos na primeira intifada.

Dia 6

Encontro com Ioshua Wainberger, representante da comunidade Chassídica Karlin (ultraortodoxa), em Jerusalém. A conversa foi sobre as relações da ultraortodoxia judaica com o Estado de Israel e com outros grupos da sociedade israelense.

Um dos pontos da fala de Ioshua foi a relação entre feminismo e judaísmo. Para ele, feminismo não é parte da religião judaica, “religião é uma coisa, feminismo é outra”. Nessa perspectiva, ao ser questionado sobre mulheres ortodoxas que participam do movimento Mulheres do Kotel, ele respondeu: “não, elas não são ortodoxas, se fossem, não estariam lá”

Dia 7

Visita ao Museu de Israel, com a artista Julia Scherer, para uma discussão sobre a sociedade israelense refletida na arte contemporânea, que envolve história, política, religião, democracia e conflito.
O primeiro quadro apresentado foi um autorretrato de Boris Schatz, artista conhecido como responsável por estabelecer o ponto de partida da arte israelense. Ele fundou, em 1906, em Jerusalém, a Bezalel Academy of Arts and Design, com o objetivo de criar um centro que serviria de berço para a nova arte Hebraica.

Dia 8

Encontro com professores da Ben-Gurion University para uma conversa sobre a atualidade do campo acadêmico nas pesquisas que envolvem Israel, dentro e fora do país.

Arieh Saposnik, professor no Instituto Ben-Gurion, falou sobre sua pesquisa a respeito da imagem e usos de Israel no mundo hoje. Arieh trabalhou a ideia de que a presença de Israel nos discursos da direita e da esquerda funcionam como uma espécie de código cultural que explica os posicionamentos políticos a partir da imagem produzida sobre israel.

Último dia

Visita à Ramallah para um encontro com Muhamed Ode, representante do Conselho Palestino de Contato com a Sociedade Israelense, vinculado à Autoridade Nacional Palestina.

O objetivo do encontro foi entender a dinâmica política da sociedade palestina e suas relações com a sociedade israelense.

O dia também incluiu uma passagem pelo museu em homenagem ao poeta palestino Mahmoud Darwish e pelo túmulo do líder palestino Yasser Arafat.

Acompanhe mais detalhes da viagem nos  Stories em destaque no Instagram do IBI

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