Ocupação e minorias em Israel foram os temas da 10ª aula do curso do IBI no RJ

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A décima aula do curso de formação do IBI no Rio de Janeiro, realizada no dia 23/11, foi dividida em duas partes. Na primeira, Alexandre Pupo Quintino, coordenador nacional do EAPPI/PAEPI-Brasil (Ecumenical Accompaniment Programme in Palestine and Israel/Programa de Acompanhamento Ecumênico na Palestina e em Israel), falou um pouco sobre a realidade da ocupação israelense nos territórios palestinos a partir de sua atuação neste programa. Na segunda, Giovana Xavier, professora da UFRJ, discutiu possibilidades de pensar interconexões entre discursos e identidades minoritárias, especialmente entre comunidades negras e judaicas.

Alexandre contou sobre a atuação do PAEPI, cuja principal diretriz é a lei humanitária internacional. Por seguirem o direito internacional, reconhecem o caso da Palestina como um território sob ocupação militar e reconhecem o direito à soberania nacional a israelenses e palestinos. Sua principal atuação, nesse sentido, é voltada para a garantia de direitos humanos na Cisjordânia. Para isso, entretanto, é necessário entender um pouco da realidade jurídica, social e politica dos territórios palestinos ocupados.

Desde os Acordos de Oslo, estabelecidos na década de 1990, a Cisjordânia é dividida em aŕeas A. B e C. Áreas A, que compõe em torno de 3% da Cisjordânia, são principalmente regiões urbanazidas, sob administração civil e militar (policial) da Autoridade Nacional Palestina (ANP) – órgão protoestatal criado para ser o embrião do Estado palestino até sua formação. Áreas B, que compõe em torno de 22% da Cisjordânia, são regiões de vilas palestinas, sob administração civil palestina, mas militar israelense. Áreas C, que compõe em torno de 75% da Cisjordânia (e tem crescido), são o espaço para os assentamentos israelenses, mas também há vilas palestinas, sob administração civil e militar israelense. Alexandre propôs dividir os assentamentos ainda entre três tipos: econômicos, que são grandes blocos, cidades mesmo, habitadas por muitas pessoas simplesmente pelos subsídios do governo para tanto; produtivos, focadas na produção econômica e que podem empregar mão-de-obra palestina; e ideológicos, motivados por religião e nacionalismo, que busca colonizar mais e mais terra em nome de uma causa. Entre esses espaços e entre eles e o território de Israel, há diversos checkpoints que fazem o controle de quem passa de um espaço para o outro: ou seja, mesmo dentro da Cisjordânia há diversos espaços controlados pelo exército israelense.
Essa dinâmica, além, por exemplo, do controle israelense sobre recursos hídricos e diversas operações militares por todo o território, somada com a presença dos assentamentos, gera um cotidiano extremamente difícil e opressivo.

Alexandre contou como a vila em que morou por três meses ficava muito próxima de um assentamento israelense, que ameaçava a existência dessa vila. Certo momento dos anos 2000, os colonos foram até a vila e expulsaram todos de lá, ameaçando-os fisicamente. Os habitantes só puderam retornar a partir de grande mobilização internacional, com apoio de nomes expressivos da sociedade israelense inclusive, e com constante presença internacional no local. Outra forma de intimidação e violência praticada por colonos, com condescendência do exército, é o corte de árvores de oliveiras, importante fonte de renda para sociedade palestina. Contra esta prática, há a presença de organizações internacionais como o PAEPI e a Rabbis for Human Rights. A presença de organizações por direitos humanos internacionais e israelenses é muito relevante para garantir o direito de ir e vir de palestinos nos check-points também, pois são frequentemente fechados arbitrariamente contrariando esse direito.
Na segunda parte, Giovana narrou a partir de sua trajetória familiar, pessoal e acadêmica a possibilidade de conexão, estranhamento e entrecruzamento de diferentes identidades e narrativas.
O ponto central de sua fala foi o relato do encontro em Israel com um judeu etíope. Antes, havia muita expectativa de que os dois se entenderiam a partir do prisma da questão racial e por uma noção de irmandade. O que não aconteceu, pois no encontro perceberem que não se viam como irmãos e suas referências de negritude eram completamente diferentes: de fato não falavam a mesma língua, não vinham do mesno lugar. Ao mesmo tempo, as relações entre identidades judaicas e negras foram colocadas em questão, seja pelo viés de que necessariamente se unem por serem minoritárias ou de que não tem nada a ver uma com a outra, por serem absolutamente excepcionais. A expectativa de reconhecimento imediato com a palestinidade na viagem à Palestina também não se materializou, na medida em que seria etnocêntrico ver neles um espelho de suas questões. Ao passo que também não se poderia descartar as possibilidades de conexão entre todas essas experiências. E desta forma nada se tornava óbvio entre negros, judeus, palestinos, muçulmanos, brasileiros, israelenses e candomblecistas: as expectativas prévias eram frustradas e só assim se abria espaço para novas conexões e revisões de identidades e narrativas contrahegemônicas.

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