O professor Bernardo Sorj começou a terceira aula do curso de formação do IBI, “Israel x Palestina: o confronto de interpretações” definindo o que são interpretações. Segundo ele, interpretações são narrativas que conjugam crenças, valores e uma seleção de fatos (por vezes indemonstráveis, falsos, ou versões unilaterais dos mesmos), para explicar/justificar/orientar nossa postura frente a fenômenos sociais.
Assim, as interpretações que fazemos do mundo dependem do que chamou de “vieses cognitivos”, isto é, de tendências inconscientes que afetam nossas visões de mundo sem que possamos percebê-las com clareza.
Quando se trata de pensar o conflito israelo-palestino, Sorj falou sobre diversos vieses que orientam nossas visões sobre o tema, como o “viés da confirmação”, citando como exemplo o fenômeno das fake news. Apontou que, hoje em dia, é muito comum que as pessoas busquem informações apenas para reforçarem suas crenças, independente da origem e veracidade das notícias.
Sorj chamou a atenção também para o “viés teológico”, muito presente nas visões e discussões que envolvem o conflito no Oriente Médio. Segundo ele, o principal problema deste viés é que, em muitos casos, tanto do lado israelense como palestino, o nacionalismo foi sequestrado pelo discurso religioso, impedindo que as discussões se deem fora deste viés.
Por fim, ao ser questionado sobre como fazer para entrar nos debates de interpretações, o professor afirmou que um bom caminho é não permitir que as discussões se cristalizem em conceitos muito abertos, como “Deus” e “sionismo”, que, segundo ele, são múltiplos e cada um tem o seu.