O aprendizado da barbárie

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Há 12 anos trabalho como Diretor Educacional do projeto Marcha da Vida organizado pelo Fundo Comunitário de São Paulo. Uma proposta que inciou com o objetivo de levar alunos de escoas judaicas de São Paulo para conhecer a vida judaica na Polônia, os cenários da Shoá e depois a realidade de Israel. Este projeto teve mudanças e se transformou na Marcha da Vida Jovens para uma faixa etária mais alta.

A proposta pedagógica da Marcha, no que diz respeito à identidade e continuidade, foi sair do lugar comum, do clássico relato da tragédia que foi a Shoah, sem jamais banalizá-la. O principal elemento do novo eixo é trazer, a partir do estudo do que foi esta barbárie, ocorrida em pleno século XX e onde judeus foram as maiores vítimas junto com ciganos, homossexuais e presos políticos, uma reflexão profunda do que fazer com o legado que este capítulo nefasto da história ensina.

A partir de uma visita a Auschwitz- Birkenau temos a oportunidade de refletir acerca da banalização do mal e do desrespeito aos direitos humanos. Visitando a “sauna” de Birkenau e suas centenas de fotos, aprendemos que cada ser humano tem uma história e que seres humanos podem facilmente acabar com a mesma pela intolerância e pela arrogância.

O que fazer em homenagem a todas as vítimas que morreram da forma mais desumana possível naqueles lugares?

Esta é uma das perguntas chave do propósito pedagógico das visitas da Marcha da Vida. 

Muito sucintamente, respondo que não é somente apresentar a Shoah como algo incomparável e cair num discurso de vitimização conhecido e utilizado há tantos anos. É sim lembrar e aprender o que houve para alertar, manifestar indignação, quando for preciso até gritar, EM HOMENAGEM e INSPIRADO pelas milhões de vítimas que foram assassinadas.

É sim evitar novas barbáries que obviamente não são comparáveis mas vêm da mesma origem… do mal que habita o ser humano!

Assim, vejo com muita admiração a iniciativa de uma professora homenagear a vereadora Marielle Franco, assassinada for “forças ocultas” no Rio de Janeiro. Não é o caso de dizer que uma coisa é mais importante que outra e que não se pode banalizar a Shoah comparando com a barbárie do Rio. É, sim, prestar homenagem ali ao que aqueles lugares nos ensinam.

Indignar-se com a morte de Marielle em Auschwitz é indignar-se com a morte das crianças de Korczak em Treblinka, com a morte de milhares de refugiados na Síria e em tantos outros lugares da Terra.

Ficar no passado de forma exclusiva não colabora com a memória da Shoah. Aprender o que a barbárie nos diz e trazer para o presente é uma experiência desafiadora, mas infelizmente contemporânea. O que gerou Auschwitz e Birkenau, Majdanek ou Treblinka ainda paira no ar e somos convocados a prestar homenagens a todos aqueles que morrem por defenderem direitos humanos. Parabéns à professora que fez este ato em Birkenau na Marcha da Vida.

Eu teria feito a mesma coisa e farei quantas vezes forem necessárias enquanto visitar os campos. 

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