Hoje o genocídio armênio completa 103 anos.
O dia 24 de abril de 1915 ficou marcado na história como o início dos massacres, quando as autoridades otomanas executaram cerca de 250 intelectuais e líderes comunitários em Constantinopla.
Quando o assunto é o genocídio armênio, uma polêmica comumente levantada tem a ver com o seu reconhecimento. Atualmente, apenas 29 países reconhecem oficialmente o genocídio, incluindo o Brasil.
E Israel?
O posicionamento do país tem sido acompanhado de perto por sua sensibilidade frente a outro genocídio do século XX, o Holocausto, e pela significativa comunidade armênia que o país acolhe, principalmente no bairro armênio de Jerusalém.
Oficialmente, Israel não reconhece nem nega o genocídio armênio. E isso tem a ver, principalmente, com razões geopolíticas.
De acordo com Raphael Ahren, do jornal The Times of Israel, “Israel é um pequeno país em um bairro hostil que não pode se dar ao luxo de se contrapor aos poucos amigos que tem na região. Estados ainda mais poderosos se recusam a empregar o termo ‘genocídio’ por medo de se afastarem da Turquia”. Em segundo lugar, Israel compartilha uma “amizade crescente” com o Azerbaijão, que também se opõe fortemente ao reconhecimento. O país é fornecedor de petróleo, comprador de armas e aliado muçulmano na coalizão contra o Irã. Terceiro, de acordo com o ex-ministro Yossi Sarid, um dos maiores defensores do reconhecimento do genocídio armênio em Israel, o país tende a seguir políticas estabelecidas pelos Estados Unidos – que ainda não reconheceram.
Apesar disso, muitas figuras israelenses proeminentes, de diferentes lados do espectro político, exigem esse reconhecimento.
A convite de Karekin II, liderança da igreja católica apostólica armênia, o Rabino Chefe Ashkenazi de Israel, Yona Metzger, viajou à Armênia em 2005 e incluiu em seu roteiro uma visita ao Tsitsernakaberd, Memorial do Genocídio em Yerevan. Na ocasião, ele reconheceu formalmente o genocídio armênio.
Israel pareceu se aproximar do reconhecimento oficial em 2011, quando o parlamento realizou uma discussão aberta sobre o assunto. Mas uma sessão parlamentar especial realizada em 2012 para determinar se Israel reconheceria o Genocídio Armênio terminou inconclusiva. O então Presidente do Knesset e hoje presidente de Israel, Reuven Rivlin, e o Ministro do Gabinete, Gilad Erdan, estavam entre os que apoiaram o reconhecimento formal do governo. O reconhecimento não foi aprovado na época e, em 2015, Rafael Harpaz, embaixador de Israel no Azerbaijão, disse em uma entrevista que o ministro das Relações Exteriores Avigdor Lieberman deixou claro que Israel não reconheceria o genocídio dada a expectativa de melhora nas relações com a Turquia.
Os parlamentares que apoiam o reconhecimento relativizam o efeito que a ação poderia ter nas relações Israel-Azerbaijão e Israel-Turquia. Como disse Rivlin, “As negociações com a Turquia são compreensíveis e até necessárias sob uma perspectiva estratégica e diplomática. Mas essas circunstâncias não podem fazer com que parlamento ignore a tragédia de outro povo”. Ayelet Shaked, do partido religioso-nacionalista Casa Judaica, afirmou: “Devemos confrontar o nosso silêncio e o silêncio do mundo em face de tais horrores”. Em 2000, o então ministro da educação Yossi Sarid, presidente do partido político Meretz, anunciou planos para colocar o genocídio armênio no currículo de história de Israel. O Meretz há muito tempo luta pelo reconhecimento do genocídio. Zehava Gal-on, sucessora de Sarid como líder do partido, iniciou vários movimentos no parlamento pedindo que o governo reconheça o genocídio. Em 2013, disse: “A reconciliação com a Turquia é um passo importante e estratégico, mas não deve afetar o reconhecimento”. Sua moção de 2014 teve muito apoio no plenário, incluindo o do presidente Yuli Edelstein.
Em 2015, um grupo de renomados acadêmicos, artistas e ex-generais e políticos de Israel assinou uma petição conclamando Israel a seguir o exemplo do Papa e reconhecer o genocídio armênio. Os signatários incluíam o escritor Amos Oz, o historiador Yehuda Bauer, o major-general Amos Yadlin, o ex-ministro do Likud Dan Meridor, além de cerca de uma dezena de ex-ministros e ministros.
Saiba mais:
Why Israel still refuses to recognize a century-old genocide
Israel grapples with question of Armenian genocide recognition
Israeli chief rabbi says killing of Armenians in 1915 was genocide
Knesset Speaker Working to Boost Recognition of Armenian Genocide
Israeli minister calls to recognize Armenian genocide
Israel Won’t Recognize Armenian Genocide, Says Ambassador
Armenian Patriarch ‘Disappointed’ in Israeli Policy on Armenian Genocide
In Israel, Both Coalition and Opposition Urge Remembrance of Armenian Genocide
‘Recognizing armenian genocide is a moral imperative for jews’
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Knesset discusses Armenian Genocide
Citing Holocaust, Israeli Armenians demand genocide recognition