Quando alguém como a atriz israelense e judia Natalie Portman decide se ausentar de uma cerimônia que contaria com a participação do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, por discordar de seu governo, cria-se uma daquelas situações em que militantes de todos os espectros fazem as mais esdrúxulas interpretações sobre o fato, com aproximações inusitadas.
De um lado, ativistas do boicote a Israel apressam-se em anunciar vitória, atribuindo a decisão de Portman ao sucesso de sua campanha. Afinal, é preciso prestar contas aos patrocinadores, assim como energizar a militância, que é mobilizada a partir da percepção de ganhos concretos.
Do outro lado, e seguindo a mesma lógica, o governo israelense e seus subordinados, alvos do protesto da atriz, não demoram a classificar a atitude de maneira deturpada, como uma agressão a todo Estado, que flerta com o antissemitismo, procurando, com isso, escapar do foco da crítica. Atribuem, eles também, a decisão a uma vitória das campanhas de deslegitimação, visando aglutinar sua própria militancia de hasbará.
No diálogo de surdos em que o debate se transformou, poucos ouviram o que a atriz realmente tinha a dizer.
Com a palavra, Natalie Portman:
“Minha decisão de não de comparecer à cerimônia do Prêmio Genesis foi mal interpretada por outros. Deixem-me falar por mim mesma. Escolhi não comparecer por não querer aparentar endossar Benjamin Netanyahu, que faria um discurso na cerimônia. Pela mesma razão, não faço parte do movimento BDS e não o apoio. Assim como muitos israelenses e judeus ao redor do mundo, eu posso ser crítica sobre a liderança em Israel sem desejar boicotar a nação inteira. Eu valorizo meus amigos e minha família israelenses, assim como a comida, os livros, a arte, o cinema e a dança israelenses. Israel foi criado, exatamente 70 anos atrás, como um paraíso para refugiados do Holocausto. Mas os mau-tratos daqueles que sofrem com as atrocidades atuais simplesmente não estão de acordo com meus valores judaicos. Pelo fato de me importar com Israel devo me posicionar contra a violência, a corrupção, a desigualdade e o abuso de poder.
Por favor não recebam quaisquer palavras que não venham diretamente de mim como se fossem minhas.
Essa experiência me inspirou a apoiar inúmeras instituições de caridade em Israel. Eu as anunciarei em breve e espero que outros se juntem a mim para apoiar o grande trabalho que eles vêm desempenhado”.