O que está acontecendo em Gaza?
Protestos na Faixa de Gaza, próximo à divisa com Israel, reuniram cerca de 30 mil pessoas na última sexta-feira (30), data em que é celebrado o Dia da Terra. Já são 15 mortos e mais de mil feridos em confrontos com soldados israelenses posicionados ao longo da fronteira.
O que é o Dia da Terra?
Palestinos em todo o mundo celebram o Dia da Terra desde 1976, quando seis árabes-israelenses que protestavam contra a expropriação de terras de propriedade árabe no norte de Israel foram mortos. Outras 100 pessoas ficaram feridas e centenas foram presas durante os protestos em 30 de março daquele ano.
Quem controla a Faixa de Gaza? Quem está organizando os protestos?
Desde julho 2007, a Faixa de Gaza é controlada pelo grupo fundamentalista islâmico Hamas. Lideranças do grupo tem convocado protestos, que contam também com a participação de outros grupos.
O que está sendo reinvindicado?
O protesto, conhecido como Marcha do Retorno, demanda a volta de palestinos e seus descendentes ao território em que hoje está estabelecido Israel e a destruição deste Estado.
Como funcionam os protestos? As manifestações são pacíficas?
A grande maioria dos quase 30.000 manifestantes palestinos permaneciam a cerca de 500 metros da fronteira com Israel, em torno das tendas que haviam sido erguidas em terreno alto, fora de perigo. Alguns deles avançaram até a estrada de terra, do lado de fora da faixa de 300 metros da fronteira. Essa foi a dimensão pacífica do protesto.
Mais perto da fronteira, porém, grupos muito menores, principalmente de homens jovens, atiravam pedras, pneus em chamas e avançaram em direção à cerca. Estes foram atingidos principalmente por granadas de gás lacrimogêneo lançadas em mini-drones. De tempos em tempos, alguns se lançavam para a frente para alcançar a cerca e outras instalações de fronteira, tentando destruí-los ou incendiá-los, e eram atingidos por disparos de atiradores de elite posicionados do lado israelense. Pelo menos cinco mortos eram integrantes do braço armado do Hamas.
A manifestação configura-se como um nova estratégia do Hamas?
Analistas de inteligência israelenses acreditam que o Hamas chegou à conclusão de que, como sempre será superado pelas armas e tecnologia israelenses, seu investimento em foguetes e túneis é inútil. Estes tornaram-se obsoletos pelo sistema de defesa aérea Iron Dome e pela nova barreira subterrânea.
Se a percepção é correta, pode-se dizer que o Hamas encontrou uma forma renovada de desafiar Israel e, se considerarmos a narrativa da imprensa internacional até agora, conseguiu confundir os protestos pacíficos da maioria com os menos pacíficos perto da fronteira.
O exército israelense está agindo de forma desproporcional?
Ninguém duvidava que quem adentrasse na na zona de proteção de 200 a 300 metros da fronteira se machucaria – com severidade. Atiradores do exército tinham ordens para atacar os tornozelos e matar pessoas armadas. Até que ponto todos eles aderiram às ordens não está claro. Filmagens da cena mostram pelo menos alguns casos em que palestinos foram baleados ao tentar fugir da zona de proteção, e há aqueles que afirmam terem sido baleados mais longe. Mas é certo que, mesmo se os soldados israelenses cumprissem rigorosamente as ordens, a política de atirar em qualquer um na zona de proteção acarretaria num número de vítimas equivalente ao número de pessoas que adentrassem nela. Já o exército israelense afirma estar defendendo uma fronteira soberana, reconhecida internacionalmente. Assim, entende como ato violento qualquer tentativa de transpô-la.
Quais as perspectivas no curto prazo?
Até a tarde de sábado, não houve novos protestos significativos e os cerca de 30 mil que compareceram na sexta – menos de 2% da população de Gaza e número bem inferior aos 100 mil estimados na convocatória dos protestos – não indicam apetite por uma revolta de grandes proporções. Entretanto, manifestações devem atingir um ápice dia 15 de maio, data da fundação do Estado de Israel – ou nakba (“catástrofe”, em árabe), como é conhecida pelos palestinos.
2018 é um ano carregado de simbolismos. Além da efeméride dos 70 anos da independência de Israel (ou nakba), está prevista a mudança da embaixada americana a Jerusalém, que pode reacender os ânimos na região.
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