Minha relação com a Mari teve início em 2016, quando participamos juntos de atividades sobre intolerância no Rio de Janeiro e no Brasil. Desde o primeiro momento, seu discurso, na forma e no conteúdo, me impressionou. Mulher, negra e cria da favela da Maré, defendia os direitos humanos e se colocava na luta contra todo o tipo de intolerância, incluindo sempre o combate ao antissemitismo em suas falas.
Em uma dessas atividades, que aconteceu na ASA – Associação Scholem Aleichem, Mari demonstrou que sua luta contra o antissemitismo não ficava apenas no discurso. Em determinado momento da atividade, uma senhora, numa fala cheia de preconceitos, disse que não se poderia fazer um evento desse tipo num ambiente “sionista, que incentiva o genocídio palestino”. O mal-estar foi imediato. Eu e Mari trocamos olhares, enquanto algumas pessoas indignadas começaram a bater boca. No final, quando novamente houve outra discussão acalorada, Marielle chegou para acalmar os ânimos e reconheceu que o PSOL precisava aprofundar o debate sobre Israel dentro das suas fileiras. Disse, também, que se sentia assustada ao presenciar antissemitismo.
Desde então, Marielle me procurou algumas vezes para dialogar sobre o conflito israelo-palestino. Repetia, sempre, que não se identificava com extremismos, de qualquer que fosse o lado, onde uma das perspectivas era apagada. Mari, assim como Jean Wyllys e Marcelo Freixo, defendia a existência de dois Estados para dois povos.
Recentemente, fizemos um convite para que ela visitasse Israel e a Palestina conosco. O convite foi recebido com muita alegria. Ela respondeu que precisava ajustar sua agenda, mas que tinha vontade de conhecer essa realidade com seus próprios olhos.
A notícia de sua morte foi um duro golpe, que ainda estamos tentando digerir. Além de grande amiga, vereadora e defensora dos direitos humanos, perdemos, também, uma parceira na luta contra o antissemitismo.