A fim de entender os desafios e o fascinio da cobertura jornalística em Israel, o IBI foi perguntar diretamente os jornalistas sobre essa experiência. Confira nosso primeiro entrevistado: Jamil Chade, repórter de O Estado de S.Paulo.
Como é cobrir um dos conflitos mais complexos do mundo à distância?
Como em qualquer outra situação, a apuração é o que deve prevalecer e superar qualquer ideologia, pré-conceito ou restrições conscientes ou não. Sempre tomo como base a necessidade de ouvir todos os lados. De fato, não apenas de ouvir. Mas entender por qual motivo uma posição é tomada, por qual motivo um medo existe. As pressões existem e vem de todos os lados. Ela vem daqueles que acreditam que você tem sido suave de mais com um lado ou crítico demais com o outro.
Acha que a imprensa, de uma maneira geral, faz uma cobertura equilibrada?
É muito difícil generalizar. O equilíbrio supostamente adotado por alguém pode até mesmo ser considerado como tendencioso por meios que assumem a defesa de um dos lados e se transformam em braços de publicidade para a mensagem de um governo ou de um grupo armado. A guerra não se limita jamais ao campo de batalha. Ela ocorre nas redes sociais, nos jornais e na opinião pública. Existem sofisticadas estratégias de comunicação em ambos os lados, tentando enquadrar o assunto de uma forma que os favoreçam. Nossa tarefa é a de ver para além da comunicação e buscar a informação.
Qual é o maior desafio como jornalista ao abordar este tema?
O primeiro deles é o de entender a história e os atores envolvidos. Num conflito de tantas décadas, nenhuma frase é dita sem que haja um contexto histórico e religioso como base. Outro desafio é o de superar a retórica, amplamente usada por ambos os lados, e tentar reportar acima de tudo sobre os fatos.
O que foi mais revelador na sua viagem para Israel?
O mais revelador é a profunda distância entre duas comunidades vizinhas e a manipulação de vidas por líderes políticos em ambos os lados. Conheci crianças palestinas que jamais conheceram um israelense que não fosse um soldado. Como culpá-las por ter uma imagem negativa do vizinho? Conheci israelenses que se recusavam a ir a certas ruas de sua própria cidade, mesmo sem um muro. Conheci líderes palestinos que manipulam suas populações de refugiados para usá-los como arma de pressão política.
Acredita que existem caminhos possíveis para paz?
A possibilidade da paz jamais pode ser abandonada. Ao meu ver, ela hoje não interessa ao comando dos grupos palestinos e parte de suas elites corruptas e nem ao governo israelense que tem sua popularidade baseada na promessa de que defenderá seus cidadãos contra a ameaça árabe. Em ambos os lados, as vítimas colaterais dessa guerra são pessoas comuns que sonham todos os dias com a paz e uma vida normal.
Com viagens a mais de 70 países, Jamil Chade foi eleito um dos 40 jornalistas mais admirados do Brasil e melhor correspondente brasileiro no exterior em duas ocasiões. Chade faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção organizada pela Transparência Internacional e foi um dos pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade, estabelecida para investigar os crimes da Ditadura. Suas reportagens sobre os bastidores da Copa do Mundo, da Fifa e do movimento olímpico levaram a polícia na Espanha a prender cartolas e auxiliaram nos trabalhos em Comissões de Inquérito no Senado. Chade publicou cinco livros no Brasil e nos EUA. Dois deles foram finalistas do Prêmio Jabuti. Na Suíça, também recebeu o prêmio Nicolas Bouvier.