Com objetivo de enriquecer o debate e honrar seu espaço democrático, o IBI convidou colaboradores a responderem perguntas sobre a transferência da embaixada americana para Jerusalém e o futuro da região. Confira o que o cientista político Heni Ozi Cukier, professor de relações internacionais da ESPM tem a dizer:
Quais serão as consequências (simbólicas e práticas) com a decisão de Donald Trump de mudar a embaixada americana para Jerusalém?
No campo da política pode haver incômodos para Israel com seus aliados. Seus inimigos devem usar isso, como usariam qualquer coisa, para deslegitimar Israel e ganhar apoio daqueles que estão lado dos Palestinos. No campo prático nada substancial deve acontecer a menos que os incômodos no campo político sigam escalando. Temos que esperar para ver as reações políicas de aliados e inimigos israelenses.
Há quem diga que esse movimento dos EUA coloca uma pá de cal em negociações de paz que poderiam acontecer. Seria um passo atrás na solução de dois estados?
Não acredito nisso. As negociações de paz já enfrentavam muitos e sérios desafios, além do contexto político desfavorável dos últimos anos. A solução por dois estados é a ideal, mas como todas as soluções de conflitos internacionais idealizadas precisam de uma convergência de fatores raros de acontecer. Talvez um dos fatores mais básicos ainda ausente seria a maturidade do conflito para a sua resolução. Muitas intervenções externas foram muito mais danosas para um acordo do que esta última decisão americana. Ainda vale ressaltar: mesmo se houver a mudança da embaixada americana e for localizada na parte Ocidental da cidade, não descredita as demandas palestinas, como os críticos colocam.
Acredita que essa mudança pode dar início a uma nova onda de violência entre israelenses e palestinos?
Infelizmente, violência já é parte da realidade no Oriente Médio e entre palestinos e israelenses. Quase tudo pode ser um gatilho para aumento da violência quando dois povos estão em conflito por tanto tempo. Mesmo assim, já vimos muitas situações que achávamos que causariam tensão, como a Primavera Árabe se voltando para Israel, e não aconteceram.
Há quem afirme que essa decisão é apenas um reconhecimento histórico. Você concorda?
É um atestado de realidade e não altera o status de uma negociação porque nada mudou e nada foi imposto. Aliás, os EUA reconhecem universalmente todas as capitais, sempre definidas pelo país com quem mantém relações diplomáticas. Dizer isso não desvalida a possibilidade de um acordo com partes de Jerusalém no controle palestino.