Karina Calandrin: discutir “quem merece mais” a posse da cidade é deveras superficial

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Com objetivo de enriquecer o debate e honrar seu espaço democrático, o IBI convidou colaboradores a responderem perguntas sobre a transferência da embaixada americana para Jerusalém e o futuro da região. Leia a análise da cientista política Karina Calandrin, Doutoranda e Mestre Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP – UNICAMP – PUC-SP)

Quais serão as consequências (simbólicas e práticas) da decisão de Donald Trump de mudar a embaixada americana para Jerusalém?

A decisão possui mais efeitos simbólicos do que práticos.
Na prática, haverá a mudança física da embaixada, mas o que é mais significativo é o simbolismo da decisão. Os Estados Unidos como o primeiro país a ter uma embaixada em Jerusalém como capital de Israel corrobora e da força para movimentos internos israelenses que reivindicam a cidade como sua capital indivisível. Do ponto de vista internacional, de um lado, pode suscitar que outros Estados sigam a decisão, mesmo sendo improvável; de outro lado pode levar a retaliações graves na arena multilateral. No que tange o conflito com a Palestina poderemos observar protestos e ondas de violência como forma de represália. 

Há quem diga que esse movimento dos EUA coloca uma pá de cal em negociações de paz que poderiam acontecer. Seria um passo atrás na solução de dois estados?

Definitivamente sim. O status de Jerusalém é uma das questões mais sensíveis relativas ao conflito Israel-Palestina e a posição dos Estados Unidos dificulta o progresso das negociações de paz, uma vez que torna mais difícil cessões neste âmbito.

Acredita que essa mudança pode dar início a uma nova onda de violência entre israelenses e palestinos?

Sim. A mudança da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém representa o aceite de parte das reivindicações israelenses referentes ao território, reivindicações existentes também do lado palestino e que não deixarão de existir a partir da decisão de Donald Trump.

Há quem afirme que essa decisão é apenas um reconhecimento histórico. Você concorda?

Não. Jerusalém é igualmente sagrada para as três maiores religiões monoteístas do mundo, discutir “quem merece mais” a posse da cidade é deveras superficial. Tanto o judaísmo, cristianismo, quanto o islamismo possuem ligações diretas com a cidade de Jerusalém e essas conexões não deveriam ser descreditadas por decisões políticas (incluindo aqui a última resolução da UNESCO que ignorou a ligação de Jerusalém com os judeus, igualmente equivocada).

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