Com objetivo de enriquecer o debate e honrar seu espaço democrático, o IBI convidou colaboradores a responderem perguntas sobre a transferência da embaixada americana para Jerusalém e o futuro da região. Confira o que o jornalista Alon Feuerwerker, analista político na FSB Comunicação, tem a dizer.
Quais serão as consequências (simbólicas e práticas) com a decisão de Donald Trump de mudar a embaixada americana para Jerusalém?
A posição dos Estados Unidos somente reconhece uma realidade, que Jerusalém Ocidental é a capital de Israel. Essa parte da cidade já estava toda dentro da área de soberania de Israel mesmo antes da Guerra dos Seis Dias. Faz parte do território internacionalmente reconhecido como israelense por todos os países que apoiam o direito do estado judeu à existência. Ou seja, não é e não será objeto de negociação na busca de um acordo de paz definitivo. Dentro das fronteiras pré-1967, Israel coloca sua capital onde quiser. Como todo país normal.
Há quem diga que esse movimento dos EUA coloca uma pá de cal em negociações de paz que poderiam acontecer. É um passo atrás na solução de dois estados?
Coloca uma pá de cal na ideia de que Israel tem soberania apenas relativa sobre seu território enquanto não aceitar as condições dos países árabes e dos palestinos. Nesse aspecto, enfraquece uma das barreiras à paz, reduz o estímulo a que os palestinos perpetuem o impasse na esperança de que o passar do tempo imponha suas condições para um acordo final. Se você parte da premissa de que o tempo joga a favor dos palestinos, é natural que eles busquem prolongar o impasse. Mas se o tempo começa a jogar contra, cresce o estímulo a encontrar uma solução negociada.
Acredita que essa mudança pode dar início a uma nova onda de violência entre israelenses e palestinos?
A violência faz parte da paisagem do Oriente Médio, infelizmente. Então é sempre razoável contar com essa possibilidade. Mas as experiências anteriores mostram que os resultados não foram bons para os palestinos na maioria das vezes. Seria inteligente que buscassem aproveitar a situação do governo Trump, que fez um gesto importante agora a favor de Israel e portanto tem mais legitimidade para apoiar reivindicações palestinas e árabes. Mas nunca é demais lembrar a máxima de Abba Eban: ele dizia que os árabes (na época não se usava a expressão “palestinos”) nunca perdem a oportunidade de perder uma oportunidade.
Há quem afirme que essa decisão é apenas um reconhecimento histórico. Você concorda?
É essencialmente um gesto político. Os Estados Unidos reconheceram no seu talvez principal aliado de hoje um país com plena soberania sobre seu território. Tem muita lógica do ângulo das relações internacionais.