A situação no Monte do Templo – ou Esplanada das Mesquitas – nunca foi tranquila, mas nos últimos meses a tensão só aumenta.
A administração do local é responsabilidade da Jordânia, com fortes laços com o reino saudita, e os governos de Israel e da Autoridade Palestina seguiam o status quo. As coisas parecem estar mudando.
Do lado israelense, grupos religiosos minoritários, interessados numa espécie de “conquista” do Monte do Templo, vem ganhando espaço no governo e produzindo um discurso que cria tensões. A narrativa da construção do terceiro templo e o receio da destruição das mesquitas pode insuflar todo o mundo muçulmano.
Do lado islâmico, disputas internas, entre Hamas e Fatah, Arábia Saudita e Qatar, também têm alterado a correlação de forças no local, consolidando narrativas de “Guerra Santa” contra a suposta ameaça de conquista da Esplanada das Mesquitas.
A situação piorou na semana passada, quando dois jovens árabes-israelenses de Umm al-Fahm, influenciados pelo movimento islâmico, entraram armados no local e mataram dois guardas.
Palestinos acusam Israel pela falha na segurança. Israel, por sua vez, decidiu colocar um detector de metais para monitorar a entrada de muçulmanos e, em seguida, proibiu a entrada de pessoas abaixo dos 50 anos no local. Essa foi a gota da água. Jerusalém Oriental está em chamas.
Claro, não foi apenas o ocorrido na Esplanada das Mesquitas que causou tudo isso. O congelamento das negociações, a ameaça de novas construções e um certo discurso religioso faz com que palestinos tenham cada vez mais desconfiança do governo israelense. Por outro lado, Mahmoud Abbas coleciona frustrações e é considerado fraco por setores da sociedade palestina.
O risco maior é que o confronto seja levado para o campo da religião. Aqui, os políticos perdem o poder de negociação e os líderes religiosos, nem sempre os mais moderados, ditam as regras do jogo.
Quando a religião entra no campo de batalha, a guerra só termina quando Deus quiser.