Ao longo da história, Israel existiu em três épocas distintas, duas
na antiguidade e uma em tempos modernos. A primeira manifestação do
estado de Israel começou com a invasão liderada por Josué e durou até a
divisão em dois reinados. A segunda manifestação começou com a recriação
de Israel em 540 B.C. pelos Persas, que haviam derrotado os Babilônios,
passando por períodos de domínio Grego até culminar no controle Romano
da região. A terceira manifestação começou em 1948 inserida no contexto
de declínio e queda do Império Britânico.
Nos três períodos em
que Israel existiu como um estado independente, a dinâmica comum foi o
constante desafio de controlar as tensões internas, consolidar sua
independência e gerenciar as ambições imperiais de outros países. O
local onde Israel está inserido – região do Levante – sempre foi, e
continuará sendo, um imã para grandes potências e a presença israelense
nessa zona de convergência demanda atenção dobrada com os movimentos de
potências externas. Israel deixou de existir quando tais potências, não
adjacentes ao seu território, formaram impérios: Babilônia, Pérsia,
Macedônia, Roma, Turquia, Grã Bretanha. De uma forma simples, Israel
precisa se inserir em contextos globais maiores para forjar alianças com
potências globais capazes de garantir a sua segurança contra ambições
imperiais de inimigos.
Após 1967, a aliança estratégica com os
EUA é um dos pilares israelenses de sobrevivência e de poder de
dissuasão. Portanto, qualquer enfraquecimento da posição americana no
Oriente Médio tem um impacto negativo direto na posição estratégica
israelense. A chegada de Trump na Casa Branca pressupôs um alivio para
as preocupações estratégicas israelenses. Por outro lado, eu acredito
que a complexidade do mundo contemporâneo e o nível de instabilidade do
sistema internacional demandem estratégias menos absolutistas e maior
capacidade de adaptação. Isso significa que Israel não pode se sentir
segura apenas com a chegada de Trump e deve continuar expandindo sua
rede de alianças.
Em um mundo globalizado e sem fronteiras, os
países capazes de construir a maior rede de apoio serão os que
enfrentarão menos riscos decorrentes de instabilidades no sistema.
Israel deve continuar expandindo suas relações diplomáticas, políticas,
militares, econômicas e culturais com o maior numero de potências
regionais e globais. Principalmente Rússia, China, Índia e Brasil.
Muitas oportunidades têm se apresentado para Israel nesse campo. Abaixo
menciono brevemente, a titulo de ilustração, alguns pontos positivos
sobre Rússia, China e Índia a serem explorados.
RÚSSIA
Rússia
tem demonstrado compreensão e proximidade com Israel – apesar de sua
aliança e suporte ao Irã e à Síria e continuar votando com os Palestinos
na ONU. Putin é a figura por trás da aproximação com Israel. Ele foi o
primeiro líder russo a visitar (duas vezes) o estado de Israel. A
diáspora russa em Israel contribui para que a aliança entre os dois
países seja de longa duração e possibilita o fortalecimento de laços
culturais.
CHINA
China é um dos lideres mundiais de
produção de manufaturados e Israel um dos lideres em pesquisa e
desenvolvimento (P&D). Os chineses precisam da tecnologia israelense
e os israelenses precisam dos produtos baratos chineses. A relação
comercial dos dois países deu saltos exorbitantes de U$50 milhões em
1992 para U$11 bilhões em 2015. A crescente tensão e competição na Ásia
demanda que a China procure outras fornecedores de tecnologia além dos
EUA e Europa.
ÍNDIA
Em Julho desse ano, Israel
receberá a primeira visita de um líder indiano. O primeiro ministro
Narenda Modi vai visitar Israel no aniversário de 25 anos de relações
diplomáticas dos dois países. Independente dos laços comerciais e da
relação estratégica com o Irã, a relação bilateral israelense-indiana
tem crescido muito nas áreas de defesa, comércio, investimento direto
externo por parte de Israel, agricultura e educação. Defesa é a área
mais proeminente na qual Israel é o terceiro maior fornecedor de armas
do elefante asiático. Outra área de enorme potencial é o campo da
tecnologia. O ecossistema israelense de startups tem muito para oferecer
para o rico capital tecnológico indiano.
Para concluir, em um
mundo Ocidental cada vez mais distante politicamente de Israel, a
continua expansão do BDS (Boycott, Divestment and Sanctions) na Europa e
outras dificuldades demandam que Israel continue procurando outros
parceiros e formando alianças diversas.
Heni Ozi Cukier é
cientista político, professor de relações internacionais da ESPM,
consultor e palestrante. Atualmente é Secretario Adjunto de Segurança
Urbana de SP.