Em sua visita a Israel, Donald Trump manteve o Hamas na categoria de organização terrorista, ignorando completamente (assim como o governo israelense) os recentes eventos relacionados ao grupo. Analisemos, portanto, se houve mudanças e o que mudou.
O momento escolhido pelo Hamas para modificar sua Carta está diretamente ligado aos interesses políticos da liderança palestina e às disputas entre o Hamas e a Autoridade Palestina. Neste mosaico enquadra-se também a greve de fome anunciada pelos prisioneiros palestinos em Israel, liderada por Marwan Barghuti, considerado hoje o principal candidato à sucessão de Mahmoud Abbas, apesar de condenado a cinco penas de prisão perpétua.
Assim como a OLP reconheceu a existência de Israel em 1988 (na esteira da Primeira Intifada), agora o Hamas abandona o discurso da guerra contra o povo judeu e seu vínculo com a Irmandade Muçulmana egípcia, passando a demandar um estado palestino nas fronteiras de 1967 sem, entretanto, reconhecer Israel.
Os otimistas tentam encontrar na ação do Hamas um elemento de pragmatismo, resultante das seguidas derrotas nos confrontos militares com Israel e na incapacidade de administrar, política e economicamente, a Faixa de Gaza sob seu controle. E a postura militante do Hamas também o mantém como o representante da parcela da população palestina que rejeita os acordos de Oslo e exige a reversão da partilha de 1947.
Na nova Carta, entretanto, não há nenhum reconhecimento de Israel como o fez a OLP em 1988; a aceitação de um estado palestino nas fronteiras de 1967 é considerada um passo tático para continuar a luta pela destruição de Israel. Assim, também a luta armada e o terrorismo continuam sendo o instrumento a ser utilizado para alcançar o objetivo de controlar todo o território entre o Mediterrâneo e o rio Jordão.
O novo líder do braço político do Hamas, Ismail Haniyeh, pode ter interesse em reconciliar-se com o Fatah e encerrar o confronto entre as duas liderança que já dura uma década, e o ônus da nova posição adotada pelo Hamas poderá ser de Khaled Meshal, seu antecessor. Faltará ainda lidar com o braço armado da organização, e com os outros grupos radicais, menores, que operam a partir da Faixa de Gaza.
Com a Síria se desmembrando, o Irã se fortalecendo, o ISIS longe de ser destruído e a ameaça de atentados como o que vitimou os jovens de Manchester, é pouco provável que o mundo dê alguma atenção a qualquer mudança, cosmética ou real, que não transforme radicalmente a liderança palestina.
Tel Aviv, 24/5/2017