Israel e o novo governo norte-americano

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A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e a
guinada à direita logo no início de seu governo, foram vistos em Israel como
uma indicação do alinhamento potencial entre os dois governos. No encontro
promovido pelo Instituto de Estudos sobre Segurança Nacional (INSS) era nítida
a percepção por parte dos ministros israelenses da “carta branca” que devem
receber do novo governo norte-americano em relação a sua política frente aos
palestinos. A ministra da justiça, Ayelet Shaked, enfatizou a tendência mundial
que inclui a eleição de Trump, o Brexit, o recrudescimento da xenofobia e o
fortalecimento da direita na Europa e o fortalecimento dos sentimentos
nacionalistas, em detrimento da globalização e do multiculturalismo. E instou
os israelenses a “abraçar uma reação natural contra o terror islâmico  e a imigração em massa”.

O
primeiro-ministro Netanyahu somou-se ao processo, gerando uma crise
internacional ao “twitar” um elogio à proposta de construção do muro entre os
EUA e o México, citando o exemplo bem sucedido da barreira que hoje separa
Israel do Egito. O ministro da educação, Naftali Bennett , não usou meias
palavras ao defender sua proposta de anexação da área C da Cisjordânia, onde se
encontra a maior parte dos assentamentos israelenses isolados, que deveriam ser
evacuados no caso de um acordo para a criação de um estado palestino
independente. Segundo Bennett, um estado palestino não é viável, e uma
autonomia ampliada seria a solução mais apropriada. E Avigdor Liberman,
ministro da defesa, lembrou sua proposta de um acordo com os palestinos, no
qual haveria troca de territórios, com as populações que neles vivem, ou seja,
a transferência com os territórios de parte da população árabe-israelense.
         
Mas
apesar dessas expressões da direita radical israelense, hoje no poder, a
democracia e seus “checks and balances” continuam funcionando: nessa mesma
semana o soldado Azaria, acusado de matar a sangue frio um terrorista palestino
já desarmado, aguarda a definição de sua condenação, reforçando os valores
morais da sociedade e das forças armadas. E na Cisjordânia, encerrou-se um
longo capítulo de uma disputa entre colonos e palestinos proprietários de
terras. A Corte Suprema determinou que o assentamento de Amona, construído
ilegalmente, fosse evacuado e assim o fizeram as forças de segurança, apesar da
oposição dos setores mais radicais do governo e da sociedade.
           
A
discussão em torno de uma solução para a questão palestina também teve novos
desdobramentos com a manifestação, através dos mais amplos meios de comunicação,
de um grupo de 200 ex-oficiais de alta patente dos mais variados setores da
segurança e inteligência de Israel, exigindo o final da presença israelense na
área C da Cisjordânia, justamente aquela que Bennett propõe anexar. Segundo
eles, tem que haver uma separação da população palestina dos colonos radicais e
hostis, que promovem a delegitimização de Israel no cenário internacional. Mas
aparentemente, somente se Netanyahu perder o mandato por causa das acusações de
corrupção que vem sofrendo, haverá alguma mudança significativa neste cenário.

 

*Samuel Feldberg é professor de Relações
Internacionais da USP,  fellow do
Instituto Dayan da Universidade de Tel Aviv, e do Institute for Israel Studies
da Universidade de Brandeis. Especialista em conflitos internacionais, encontra-se
atualmente em Israel realizando uma pesquisa sobre democracia e a população
árabe-israelense.

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