Ufa, o governo não caiu. Vamos comemorar em Abu Dhabi!

Imagem do vídeo do Ministério do Turismo de Israel convidando moradores dos Emirados (Reprodução)

TEL AVIV – Ufa. O 23° governo israelense não foi dissolvido. Sim, existia essa possibilidade (falei sobre isso aqui, há duas semanas). A queda do recém-formado governo de união nacional entre as duas maiores forças políticas do país foi evitada em votação no Knesset (o Parlamento em Jerusalém), na noite desta segunda-feira (25 de agosto). Mas a “pacificação” entre o Likud e o Azul e Branco é frágil e superficial.

No domingo, Netanyahu aceitou um “compromisso” para a votação crucial do orçamento no Knesset, evitando – pelo menos temporariamente – uma quarta eleição em menos de dois anos. Para alguns, foi vitória do Benny Gantz, do Azul e Branco, que dobrou o veterano Netanyahu a “descer da árvore” (como se diz aqui) da ideia de aprovar um orçamento apenas até o fim do ano. Gantz quer um orçamento para dois anos, que inclua já 2021, para dar estabilidade ao país. Netanyahu aceitou adiar a votação para novembro – congelando também por três meses a indicação de nomes para cargos públicos (coisa que era o que ele realmente queria).

Para outros, no entanto, quem saiu humilhado foi Gantz, porque Netanyahu nem avisou ao “colega” de governo – Gantz é “primeiro-ministro alternativo” – de sua decisão de aceitar o compromisso e deu uma estranhíssima coletiva de imprensa avisando.

Para Avi Diskin, professor emérito da Universidade Hebraica de Jerusalém e membro do corpo docente do Centro Interdisciplinar de Herzliya, tudo pode acontecer quando de trata de Israel.  Antes mesmo da votação no Knesset, Diskin já dizia que não era do interesse de ninguém a queda do governo e a convocação de novas eleições. “Mas as tensões [dentro da coalizão] ainda estão lá. Elas são pessoais e ideológicas”, disse Diskin, em um Webinar do Jerusalem Press Club.

“A questão principal é o comportamento dos diferentes jogadores dentro dos próprios Likud e Azul e Branco. É bastante óbvio que o líder do Azul e Branco (Gantz) é alguém com quem você pode negociar mais facilmente do que as pessoas ao seu redor, como o ministro das Relações Exteriores (Gabi) Ashkenazi e especialmente o ministro da Justiça, Avi Nissenkorn. Portanto, há uma luta dentro do partido, em face de se estão unidos, mas não é o caso. O mesmo vale para o Likud”.

Enquanto a política interna continua quente, existe uma euforia em relação à política externa. Desde o anúncio do acordo de paz com os Emirados Árabes, no dia 13 de agosto, não faltam notícias, reportagens, artigos e textos em geral sobre turismo israelense nos EAU. Se não fosse a pandemia de Covid-19, certamente milhares de israelenses já estariam fazendo compras nos shoppings enormes e modernos de Abi Dhabi e Dubai. 

Mas será que cidadãos dos Emirados correriam para visitar Israel? O Ministério do Turismo de Israel postou, há alguns dias, um vídeo oficial convidando residentes dos Emirados Árabes Unidos a “turistar” no país. A postagem, que inclui vistas das paisagens urbanas de Israel (Jerusalém, Tel Aviv-Jaffa) e outras paisagens (Mar Morto, Eilat, Galileia e o Neguev), diz, em árabe: “Ahlan Wa Sahlan! Estamos muito felizes porque, em breve, nossos amigos dos Emirados Árabes Unidos poderão visitar Israel”.

O vídeo teve mais de 160 mil visualizações, 90% delas nos Emirados Árabes. O nível de engajamento também foi alto, com muitos comentários positivos. Uma dessas respostas foi: “Este é o meu sonho. Quero visitar Israel”. 

Realmente, o acordo com os EUA foi uma bola dentro do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O anúncio foi um “win-win-win-win-win” para todos os envolvidos, como diz Amos Yadlin, diretor do Institute for National Security Studies: “A lista de vencedores é longa. O primeiro deles é Donald Trump. Seu plano de paz não chegou a lugar nenhum. Mas, ao invés de enterrar o plano, que ele pensou que renderia um Prêmio Nobel da Paz, ele ganhou um bom evento na grama da Casa Branca às vésperas das eleições”.

“O segundo win é para o Bibi (Netanyahu)”, continua Yadlin. “Ele trocou o Plano de Anexação (de partes da Cisjordânia), que era arriscado, por algo que só traz benefícios para Israel. O terceiro vencedor é o Sheikh Mohammed Bin Zayed, que se posicionou como um líder muçulmano moderado e recebeu alguma munição para lidar com as críticas em relação ao que seus militares estão fazendo no Iêmen basicamente abrindo ao público relações que já existiam há uma década ou duas”. 

Para Yadlin, a lista de vencedores continua: “Mais um é a Jordânia, que estava sob muita pressão por causa da anexação. Por um lado, Israel é um aliado estratégico, mas, por outro, os jordanianos se importam muito com a Autoridade Palestina. Estavam com medo de que a AP fosse desmoronar. Eles são ideologicamente contrários à anexação e o fato de que a anexação sumiu – pelo menos por agora – é fonte de alívio”. 

Yadlin ainda cita mais dois lados que saíram ganhando com o acordo Israel-EAU: “O penúltimo vencedor são os palestinos. Sim, eles são apaixonados pela vitimização, mas eles foram salvos pela anexação unilateral. E por último: os colonos (israelenses). Eles estavam infelizes com a anexação. A liderança dos colonos era contra o fato de que o plano de Trump previa um Estado palestino e dava a Israel apenas a área dos assentamentos”. 

A conclusão é que esse plano de paz foi um golpe de mestre de Netanyahu e mostra que sempre quando se usa a diplomacia e não a força bruta unilateral, os resultados são positivos.

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