Substituto David Miranda discorda de Jean Wyllys quando o assunto é Israel

Tweet de David Miranda em 6 de maio de 2018.

Com o anúncio de Jean Wyllys da desistência de seu mandato como Deputado Federal e saída do Brasil, as atenções voltaram-se a David Miranda, o próximo da lista dos candidatos mais votados da coligação PSOLPCB no Rio de Janeiro, que vai assumir o seu lugar na Câmara.

Como Jean Wyllys, David Miranda é gay e defensor de bandeiras LGBT. Mas os dois tiveram desavenças no passado, especialmente em temas relativos à política externa, tais como Israel.

Wyllys costumava denunciar o antissemitismo travestido de crítica a Israel e se contrapunha a decisões majoritárias do PSOL. O deputado insurgia-se especialmente contra campanhas de boicote, decepcionando alguns de seus eleitores e correligionários. Depois que viajou ao país e aos territórios palestinos, fazendo relatos diários sobre a experiência nas redes sociais, as críticas intensificaram-se.

Miranda, que buscava o mesmo eleitorado carioca de esquerda atento às pautas LGBT, apresentava-se como alternativa ao parlamentar. Nas eleições de 2018, por pouco não conseguiu o lugar de Wyllys. Jean Wyllys recebeu 24.295 votos, ficando em quarto lugar entre os candidatos da coligação PSOL-PCB, e tendo sido o Deputado Federal eleito com o menor número de votos. David Miranda ficou em quinto na lista do partido, com 17.356 votos.

Em 6 de maio de 2018, em meio à escalada da violência na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, David Miranda publicou no Twitter: “É no mínimo interessante que o pequeno grupo (porem vocal) da esquerda brasileira, [que] tenta pressionar o meu partido PSOL para que seja mais “pró-Israel”, esteve em silêncio esse último mês, quando a verdadeira repressiva cara do que eles apoiam é revelada. #Gaza #AntiApartheid”.

A mensagem soou como um recado a Jean Wyllys. O “pequeno grupo (porém vocal) da esquerda brasileira” seria liderado por ele. Pouco tempo antes, em 15 de fevereiro, Gleen Greenwald, fundador do The Intercept e casado com David Miranda, havia publicado, também no Twitter: “Existe um pequeno grupo no PSOL (liderado por Jean) que quer torná-lo um partido pró-Israel — o que faria dele um caso único entre os partidos de esquerda do mundo democrático”.

Greenwald foi além. “@jeanwyllys_real deve parar de explorar a grave acusação de antissemitismo (e homofobia) contra críticos de Israel dentro do PSOL, para tentar proibir as críticas a Israel e destruir a reputação dos seus adversários no partido. A parte mais irônica do uso frívolo e manipulador da política identitária por Jean é seu racismo contra Palestinos — sua tentativa contínua de justificar a opressão daquele povo por um governo racista. Se @jeanwyllys_real quer ver o preconceito, ele deveria arrumar um espelho”.

Greenwald não havia gostado da reação do parlamentar a uma nota do PSOL. Na ocasião, Wyllys afirmou pelo Facebook: “Está circulando nas redes sociais uma nota publicada pela executiva nacional do PSOL com relação ao conflito israelense-palestino que não me representa. Não assino, não concordo e repudio energicamente seu conteúdo. A esquerda brasileira precisa fazer um debate qualificado sobre a situação do Oriente Médio — que inclui, mas não se limita a esse conflito, e que deveria considerar também a grave ameaça do terrorismo e a situação dos direitos humanos na maioria dos países da região, onde as mulheres são oprimidas, os homossexuais são criminalizados e até executados e não há democracia e nem liberdade de expressão. A obsessão de uma parte da esquerda em atacar Israel, a única democracia da região, é suspeita de estar contaminada por preconceitos antissemitas (assim como uma parcela da direita está contaminada de preconceitos islamofóbicos) que, como ativista de direitos humanos, eu acho inaceitáveis”.

Jean Wyllys respondeu a Greenwald, fazendo referência a uma suposta “‘arbitragem’ partidária” e “compra de candidaturas”. “Eu sempre tratei @ggreenwald com respeito, apesar de ele não fazer o mesmo comigo. Aliás, ainda lembro a charge que o site dele publicou quando visitei Israel e Palestina, na qual eu apareço com a estrela de Davi nos óculos. Não foi antissemitismo, sei… Também lembro o conteúdo mentiroso da matéria que acompanhava essa charge ofensiva e de mau gosto, inclusive citando falsas ‘declarações’ da minha assessoria, que ele não quis ouvir antes de publicar. Apesar disso, nunca ofendi @ggreenwald, sempre o tratei com respeito e nunca questionei publicamente sua ‘arbitragem’ partidária (a força da grana que compra candidaturas)”.

Já no início de junho, a polêmica envolveu a 22ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. David Miranda publicou nota do Setorial LGBT estadual do PSOL/SP repudiando a presença de Israel no evento, “pois o país pratica uma política notoriamente de Apartheid e genocida contra o povo palestino”.

Jean Wyllys rebateu. “Qualquer pessoa de bom senso e com senso de humanidade deseja uma paz com voz (para palestinos e israelenses!) no Oriente Médio. Qualquer pessoa de bom senso sabe que nada disso tem a ver com a participação de israelenses ou palestinos na parada LGBT de SP! Esse boicote contra os turistas israelenses na parada LGBT é um absurdo! E mais absurdo ainda é que isso tenha sido apoiado por pessoas do meu partido, o Psol, o que muito me envergonha. Não faz qualquer sentido participar-se de um evento desses para, em vez de tentar impedir participação de pessoas, sobretudo quando essa tentativa se funda num equívoco que resvala no antissemitismo”.

Logo após a entrevista em que Jean Wyllys afirmou que abriria mão do mandato e sairia do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter “Grande dia!”. David Miranda respondeu: “Respeita o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”.

De fato, vem por aí um militante aguerrido na militância de esquerda, especialmente em defesa dos direitos LGBT. Mas não se espere dele ponderações quando o assunto é Israel.

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