Retrospectiva 2021: Pandemia, Guerra e revolução política em Israel

TEL AVIV – O ano de 2021 foi uma montanha-russa de emoções, em Israel. Alguns acontecimentos que chacoalharam o país parecem uma lista de eventos pré-apocalípticos: pandemia de um vírus mortal, mísseis caindo dos céus, onda de assassinatos… Ao mesmo tempo, uma reviravolta política após mais uma eleição (a 4ª em apenas 2 anos) levou a uma mudança de paradigma e a vacinação em massa mitigou os efeitos da pandemia. 

PANDEMIA: PIONEIRISMO E DESILUSÃO

O ano de 2021 começou com uma mistura de desespero e otimismo e terminou com o fim da ilusão de que seria possível erradicar totalmente a Covid-19 do país. Israel foi o primeiro do mundo a começar a vacinar em massa contra a Covid-19, ainda em dezembro de 2020, levando à esperança de que a pandemia poderia se tornar coisa do passado. Mas, como os efeitos da vacinação levam algum tempo, janeiro e fevereiro foram os meses mais mortais. Em 14 de fevereiro, a média semanal de mortes ficou em 58 por dia, o maior número até hoje.  

Mas em março, os números começaram a cair, dando início a uma fase eufórica no país. No dia 1 de maio, não foi registrada nenhuma morte pelo vírus. A vacinação em massa em Israel se tornou modelo em todo o mundo, com reportagens nos maiores jornais do mundo – e também do Brasil – sobre o pioneirismo de Israel em vacinar sua população de 16 anos para cima.  

Israel se tornou um caso de estudos para a própria Pfizer (produtora da vacina mais usada no país), que utilizou os dados de vacinação em Israel para entender como sua vacina contra a Covid-19 funcionava super bem. O país passava por uma animação e júbilo, principalmente depois da orientação do governo de que já era possível deixar de usar máscaras em locais fechados. Parecia que os lockdowns e as restrições haviam desaparecido do mapa. 

Mas o entusiasmo durou menos de 3 meses. Em julho, os números começaram a subir e a maior onda de coronavírus, a da variante Delta, desembarcou em Israel, alcançando o auge em meados de setembro, com 10 mil casos de Covid-19 detectados por dia. O número de mortes diárias voltou a subir e chegou a 51 em 5 de setembro.  

Novamente, o que salvou a situação foram as vacinas. Israel foi de novo pioneira ao ministrar o booster (a terceira dose), além de vacinar com duas doses adolescentes de 12 a 17 anos. Houve uma euforia, quase tudo voltou a funcionar normalmente (escolas, comércio…). Até o turismo voltou em 1° de novembro. Mas o sobe e desce da montanha-russa não havia acabado. Com a chegada da variante ômicron, Israel fechou novamente as fronteiras para estrangeiros em 28 de novembro e agora enfrenta o começo de uma quinta onda de coronavírus.  

Uma 4ª dose da vacina para idosos já foi aprovada e, novamente, Israel se tornou pioneira nessa questão. A esperança do governo, agora, é que a vacinação em massa de crianças de 5 a 11 anos, que começou há algumas semanas, ajude a mitigar a nova variante.  

Pode-se dizer que 2021 foi o ano em que os israelenses deixaram de se iludir com o fim da Covid-19 e entenderam que todo o mundo terá que lidar com o vírus Sars-Covid-2 por anos a fio.

REVIRAVOLTA POLÍTICA

Em meio à montanha-russa da Covid-19, Israel passou por uma reviravolta política. Depois de 12 anos de Benjamin Netanyahu no poder e quatro eleições gerais em apenas 2 anos, surgiu um novo governo, comandando por uma estranha coalizão de sete partidos de um amplo espectro político: dois de esquerda, três de direita e dois de centro, apoiados por um partido árabe-israelense, que, pela primeira vez, apoia um governo em vigor. As eleições aconteceram em março e o governo tomou posse em maio. 

Netanyahu, um líder populista do partido conservador Likud, conseguiu acumular tantas críticas e inimigos políticos que serviu de “cola” para unir tantos partidos tão diferentes, numa união nacional nunca vista no país e que muitos acreditavam que não iria durar. Mas essa estranha coalizão completou mais de seis meses e está funcionando relativamente bem, até agora.  

Quem comanda a coalizão são dois “brothers” que pensam totalmente diferente: Naftali Bennett, um direitista conservador contrário à criação de um Estado Palestino, e Yair Lapid, um progressista de centro-esquerda a favor de Dois Estados. Bennett é, no momento, o premiê. Mas Lapid deve assumir o cargo, em 18 meses. 

Eles decidiram que, pelo objetivo maior, o de afastar Netanyahu do cargo, o melhor é não focar nas diferenças, só nas ideias em comum: a luta contra a pandemia, a alta do custo de vida, a violência armada nas cidades da minoria árabe, os engarrafamentos que paralisam o país e etc.  

Não que nada disso tenha sido solucionado, até agora. Mas pelo menos o governo não é mais dominado por um líder populista, considerado por muitos egocêntrico e interessado apenas em seu futuro, principalmente com os três indiciamentos por corrupção que enfrenta na justiça. Seu julgamento começou este ano, também, e ninguém sabe quando vai terminar. 

Os israelenses aprenderam, em 2021, que o mundo não acabou na era pós-Bibi. O sol nasceu todo o dia mesmo com um outro premiê.

GUERRA

Outro marco em 2021 foi uma guerra. Na verdade, um conflito de 11 dias entre 10 e 21 de maio entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que controla à força a Faixa de Gaza há 15 anos. 

Tudo começou com distúrbios em torno do possível despejo de seis famílias palestinas de propriedades em Sheik Jarrá, um bairro de Jerusalém Oriental. A questão envolve a Justiça para saber quem é dono das propriedades, mas é certamente encarada como política, como se Israel como um todo estivesse pressionando para despejar palestinos de suas casas. 

Em seguida, houve confrontos entre palestinos e policiais na Esplanada das Mesquitas, ou Monte do Templo, e uma parada do Dia de Jerusalém com bandeiras israelenses. Tudo isso levou o Hamas a decidir intervir, no dia 10 de maio, como se fosse o grande representante do Povo Palestino e estivesse protegendo as mesquitas de Israel, como se Israel tivesse algum interesse em destruir o local que é considerado o terceiro mais importante para o islamismo. 

O Hamas e outros grupos terroristas passaram a lançar mísseis e foguetes contra Israel, que reagiu com ataques aéreos contra Gaza. Foram cerca de 4.500 projéteis. Desses, 90% foram interceptados pelo sistema antiaéreo Domo de Ferro e alguns caíram na própria Faixa de Gaza. Israel realizou 1.500 ataques, a maioria aéreos. 

No final das contas, 13 israelenses morreram – incluindo 2 crianças. E 256 palestinos morreram, incluindo 66 crianças. 

Os 11 dias de crise foram traumáticos para os dois lados. Certamente mais para os palestinos de Gaza, mas em Israel, posso dizer que foram dias tensos, com dezenas de alertas antibomba soando pelo país todos os dias e pessoas tendo que se esconder em bunkers dentro de casa ou abrigos antiaéreos públicos. 

Um míssil caiu a 2 km da minha casa, por exemplo, e destruiu a casa de um jogador de futebol brasileiro que estava jogando aqui. Ele e a esposa pegaram o primeiro avião e voltaram para o Brasil. 

Os israelenses aprenderam, em 2021, que o Hamas consegue, quando quer, controlar a região: além de dominar a vida dos palestinos de Gaza com mão de ferro, o grupo terrorista é capaz de paralisar quase toda Israel e provocar contra-ataques violentos de Israel, levando ainda mais críticas internacionais contra o país. Na verdade, essa foi uma lição que os israelenses aprenderam desde o primeiro conflito com o Hamas, em 2007.

ONDA DE VIOLÊNCIA INTERNA

O ano que acaba também foi marcado por uma onda de violência entre a minoria árabe-israelense que começou há alguns anos, mas que chegou a patamares inéditos. Mais de 120 assassinatos com armas de fogo foram registrados em cidades ou bairros árabes, em Israel.  

Não se trata de um conflito entre a maioria judaica de Israel (75% da população) e a minoria árabe (21%). E não há soldados ou policiais envolvidos nos ataques. Quase sempre, a violência é fruto de brigas entre famílias árabes-israelenses rivais ou de conflitos relacionados a gangues locais, cada vez mais armadas. As vítimas são, às vezes, criminosos conhecidos ou membros das famílias. Às vezes, apenas pessoas que estavam no lugar errado, na hora errada. 

A situação é certamente fruto da negligência dos governos israelenses em relação às cidades e bairros árabes, que se transformaram numa espécie de “Velho Oeste”. As autoridades prometeram lutar contra a situação investindo em mais policiamento e na apreensão de armas ilegais. Também prometeram investir mais na infraestrutura de cidades e bairros árabes. Mas o futuro é que dirá se a situação será resolvida. 

Os israelenses aprenderam, em 2021, que varrer problemas para debaixo do tapete não leva a lugar nenhum. A minoria árabe do país, após anos de negligência do governo e de influência de grupos criminosos, não pode mais ser esquecida.

ALTOS E BAIXOS

Em geral, o ano de 2021 foi complicado em Israel. Houve outros momentos de desespero e dor, como, por exemplo, a tragédia do Monte Meron, onde 45 pessoas morreram pisoteadas; ou a briga diplomática entre Israel e Polônia sobre a responsabilidade (ou não) dos poloneses durante o Holocausto.  

Mas também houve momentos de alegria e euforia, como os feitos de atletas israelenses nas Olimpíadas de Tóquio; ou a abertura da embaixada dos Emirados Árabes em Tel Aviv. A cidade de Tel Aviv, aliás, ganhou o pouco invejado título de cidade mais cara do mundo da Economist Intelligence Unit.  

Definitivamente, Israel passou por altos e baixos em 2021. Nisso, não foi diferente do resto do mundo, que enfrentou um biênio especialmente complicado. Esperemos que 2022 seja mais generoso. Feliz Ano Novo!

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