Renúncia do líder do Knesset acirra crise política em Israel

Yuli Edelstein, o presidente do Parlamento israelense, o Knesset, renunciou na manhã desta quarta-feira (25), acirrando a crise política em Israel em meio à pandemia do coronavírus, com mais de 2 mil casos confirmados e 5 mortes, e ao aumento extremo do desemprego no país, que pulou de 4% para 20% desde o começo de março. A crise no Knesset não tem precedentes desde a criação de Israel.

A renúncia dele entra em vigor na manhã de sexta-feira, quando, se não houver uma votação para escolha do sucessor, Amir Peretz, líder do Partido Trabalhista, que é o parlamentar mais antigo no plenário, ocupará seu lugar. Pela lei israelense, é o mais veterano que se torna o líder nesses casos. Mas, se houver uma votação, provavelmente deve ser o eleito o parlamentar Meir Cohen, da legenda Azul e Branco, de centro-esquerda.

Edelstein, parlamentar do partido de direita Likud (do premiê Benjamin Netanyhau) estava na posição desde 2013. Ele culpou a Suprema Corte pelo que chamou de “crise constitucional sem precedentes”, acusando os juízes de se intrometer em questões do Parlamento. Edelstein renunciou depois que o Supremo exigiu que ele convocasse o plenário para escolher um novo presidente depois das eleições de 02 de março e do fato de que 61 dos 120 novos parlamentares indicaram Benny Gantz, líder do Azul e Branco, como primeiro-ministro. Edelstein se negou.

Mesmo com a renúncia, Edelstein terá que convocar a votação para seu sucessor e pode enfrentar consequências legais caso recuse. Por enquanto, ele se recusa: “Lamento que o tribunal tenha decidido o que decidiu e, de maneira sem precedentes, se intrometendo no trabalho do Knesset e no meu julgamento, mas minha consciência não me permitirá cumprir a ordem”, escreveu Edelstein.

O drama parlamentar é o mais recente acontecimento da crise política em Israel, que enfrentou três eleições gerais em apenas um ano. Nenhum partido conseguiu maioria no Knesset ou conseguiu formar uma coalizão com maioria do Knesset. Mas, depois das eleições de 2 de março, o Azul e Branco conseguiu receber a indicação de 61 parlamentares para tentar formar um governo (somando a Lista Árabe Unida). Com maioria no Parlamento, o Azul e Branco pediu a realização de votação para escolher um novo presidente de Knesset. Foi aí que Edelstein se negou.

Ele se recusou inclusive a dar sinal verde para a criação dos comitês do Knesset, que são formados sempre depois que um Parlamento toma posse. Ao contrário, ele adiou qualquer votação no plenário, aparentemente em nome da crise do Covid-19, afirmando que só deveria haver atividade parlamentar quando “a situação política ficar clara”. Na prática, Edelstein e o Likud não aceitam um Knesset com maioria anti-Likud apoiada na minoria árabe.

“Um presidente permanente do Knesset nunca foi eleito em um momento de tanta incerteza quanto à composição da futura coalizão”, disse Edelstein. “Além disso, dada a gravidade da crise do coronavírus, é irresponsável realizar uma votação agora”.

Gantz reagiu dizendo que o Knesset pertence ao país e não ao Likud. Por outro lado, apoiadores do Likud apoiam obviamente Edelstein, buscando culpar a Justiça pela crise.  O próprio ministro da Justiça, Amir Ohana, que também e do Likud, disse que Edelstein “deve se manter firme”.

“A medida de Yuli Edelstein ajuda o Likud e Netanyahu a manter a Knesset em suas mãos e também seria prova da narrativa de Netanyahu de que o Supremo e as elites o perseguem”, diz Yonatan Freeman, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Segundo ele, o que Edelstein e o Likud querem é pressionar o Azul e Branco a aceitar formar uma coalizão de União Nacional e não se basear em parlamentares árabes para formar um governo. Mas essa União Nacional aconteceria apenas nos moldes que o Likud quer: um governo liderado por Benjamin Netanyahu e com a presença de partidos de extrema-direita como o Yemina e ultraortodoxos como Shas e Judaísmo da Torá. O Azul e Branco se recusa a isso, sugerindo uma União Nacional com Benny Gantz como primeiro-ministro – ou pelo menos com Netanyahu por pouco tempo antes de Gantz – e sem partidos de extrema-direita.

“Quando se trata do vírus, estamos vendo que o Likud e os líderes do Azul e Branco estão sendo infectados com a sensação de ter que é preciso unidade. Penso que há cada vez mais pressão popular por causa do coronavírus”, diz Freeman.

“Israel é de fato uma democracia vibrante e deve ser reconhecido como tal, mas está em perigo”, acredita o professor Amnon Reichman, professor de Lei Pública do Centro Minerva. “Na verdade, eu diria que, quando usamos uma matriz de verde, amarelo, laranja e vermelho, estamos entrando no estágio laranja”.

Reichman diz que Israel tem um governo de facto, mas atualmente não tem a maioria do Knesset, algo sem precedentes. Isto é: o governo em vigor não tem apoio da maioria dos cidadãos. E, mesmo assim, esse governo tem usado de medidas emergenciais e legislações como monitoramento tecnológico de cidadãos com coronavírus e suspenção de julgamentos como o do primeiro-ministro Netanyahu, indiciado por corrupção.

Reichman diz que soluções estão sendo pensadas, como a manutenção de um governo de facto como Poder Executivo, mesmo com minoria no Knesset, que se tornaria apenas o Poder Legislativo. É o modelo americano, que talvez fosse adotado em Israel diante de tantas crises. Seja como for, as crises parlamentar e constitucional só pioram o impasse político em meio à maior crise de saúde e econômica que Israel enfrenta desde sua criação.

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