Prêmio dado ao rabino extremista Yitzchak Ginsburgh derrota simbolicamente parte moderada do movimento sionista religioso

Rafi Peretz, atual Ministro da Educação de Israel, e Bezalei Smotrich, Ministro dos Transportes, irão discursar em conferência que prestará homenagem ao rabino Yitzchak Ginsburgh, acusado de incitação ao racismo e ao terrorismo. O evento é organizado por uma organização chamada Cátedra de Torá e Sabedoria. 

Ginsburgh é conhecido pela publicação de um panfleto em que elogia as ações do extremista religioso Baruch Goldstein, que realizou, em 1994, na cidade de Hebron, um massacre na Tumba dos Patriarcas, matando 29 muçulmanos durante uma oração. 

Para muitos que frequentaram o movimento sionista religioso, o aprendizado que ficou foram os ensinamentos de Rav Kook sobre o amor à criação, à terra e ao gratuito. Junto de figuras como o rabino Drukman, o rabino Amital e o rabino Shark, puderam aprender também que a ecologia não é contraditória à Torá, que direitos humanos é parte da tradição judaica e que respeito ao próximo está à frente do respeito aos mandamentos. 

Nos anos 90, porém, os Acordos de Oslo produziram um ponto de inflexão nos ensinamentos do sionismo religioso, que sofreu um racha até hoje sentido. Enquanto setores ligados à primeira geração kookiana se posicionaram, em muitos casos, de maneira favorável à possibilidade dos acordos de paz com os palestinos, a segunda geração se opôs radicalmente aos Acordos de Oslo. 

Assim, grupos de extremistas até então pouco relevantes ao sionismo religioso ganharam espaço ao se aproximarem da segunda geração kookiana. Posições antes marginalizadas, como as do rabino Kahane – rabino norte-americano, extremista e considerado racista pela justiça israelense nos 90 –, começaram a ser levadas em consideração. Grupos fanáticos começaram a incorporar o discurso extremista ao sionismo religioso tradicional, produzindo uma enorme ruptura.

Esse “novo setor” do sionismo religioso que ganhou espaço não soube reagir ao avanço das demandas do mundo da política. Numa pretensa contradição entre ética e política, esqueceram a ética e ficaram com a política, como afirma Beni Lau, também membro do sionismo religioso.

Yitzchak Ginsburgh é membro da corrente mais radical do movimento Chabad e, dentre suas obras, algumas como “Torá Hamelech” afirmam textualmente que é legítimo assassinar não judeus e até judeus seculares “hereges”, além de conter fortes críticas ao movimento sionista.

O prêmio dado a Ginsburgh simboliza não apenas um suicídio simbólico do sionismo religioso, mas também de parte da atual política israelense. Ao menos dois dos atuais ministros de Israel estarão no evento, representantes oficiais que honrarão a obra de um fanático. 

Nessas horas, é preciso lembrar que estamos a uma semana de Tishá Beav, dia que nos permite pensar sobre o ódio gratuito. Segurando as mãos de “Laus”, “Melkiors” e “Burgs”, lembramos do sionismo religioso que não queremos ver enterrado na areia movediça, aquele que nos ensinou que falar em judaísmo é falar também em direitos humanos.

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