Possível novo premiê de Israel, Benny Gantz, quem é você?

As embaixadas de Israel pelo mundo talvez tenham que trocar em breve o retrato do primeiro-ministro. Há dez anos, a foto nas paredes é a de Benjamin Netanyahu. Mas, a partir de 2019, o sorriso emoldurado pode passar a ser de outro Benjamin: o Benny Gantz, líder da lista Azul e Branco, de centro-esquerda, que recebeu mais votos do que o Likud de Netanyahu.


A possibilidade de que Gantz substitua Netanyahu aumentou depois que a Lista Unida, que representa a minoria árabe-israelense (20% dos cidadãos do país), o indicou como premiê ao presidente Reuven Rivlin. Desde 1992, quando Yitzhak Rabin foi eleito como líder do Partido Trabalhista, a liderança árabe de Israel não indicava um líder judeu para montar o governo. Mas quem é esse potencial novo premiê?

Benny Gantz, 60 anos, é um general da reserva que serviu como chefe Estado-Maior das Forças Armadas entre 2011 e 2015. Ele nasceu em 1959 no moshav (cooperativa agrícola) Kfar Achim, perto de Ashkelon, no Sul de Israel, filho de uma sobrevivente do Holocausto húngara e um imigrante romeno. Estudou em um internato em Ramat Hasharon, cidade de classe média alta próxima de Tel Aviv, e se formou em História pela Universidade de Tel Aviv. Tem dois mestrados: em Ciências Políticas pela Universidade de Haifa e em Gestão de Recursos Nacionais pela National Defense University, dos Estados Unidos.

Casado com Revital, ele é pai de quatro filhos e mora em Rosh HaAyin, cidade de classe média com 50 mil moradores a 30km de Tel Aviv. Alto (tem 1,95m) e de poucas palavras, não costuma fazer discursos populistas ou estrelar vídeos em redes sociais. É conhecidamente lacônico a avesso aos holofotes. Nesse sentido, é a antítese de Netanyahu, um carismático e populista líder que sabe como poucos, em Israel, “manipular as massas”.

Gantz entrou para o exército aos 18 anos para uma carreira militar de 38 anos. Primeiro, foi paraquedista. Participou, como boa parte dos jovens de sua geração, da Guerra do Líbano (1982-2000). Em 1991, comandou Operação Salomão, de retirada-relâmpago de 14.500 judeus da Etíopia com destino a Israel. Já como oficial, em 1994, comandou a divisão da Cisjordânia. Em 2000, participou da retirada das tropas israelenses do Sul do Líbano. Foi adido militar de Israel nos EUA entre 2005 a 2009.

Em 2011, foi nomeado chefe do exército, mas não sem antes se envolver em um mini-escândalo quando o jornal “Israel Hoje” (pró-Netanyahu) descobriu que ele havia incorporado ao jardim de sua casa um pedaço de propriedade pública. Ele admitiu o erro e diminuiu o jardim. A única outra vez estrelou em manchetes jurídicas foi em fevereiro deste ano, quando uma mulher o acusou de tê-la assediado, há 40 anos. Gantz afirmou que se tratava de perseguição política e acionou a acusadora por difamação.

Em seu mandato como chefe do exército, Gantz apontou a primeira general mulher, Orna Barbivai. Ele também teve que lidar com um aumento da exigência de soldados ultraortodoxos e com a constante tensão na fronteira com a Faixa de Gaza – controlada pelo grupo terrorista Hamas desde 2007.

No entanto, há os que acreditam que qualquer líder militar de Israel seja responsável por crimes contra palestinos – mesmo que decisões sobre incursões militares sejam, ultimamente, da cúpula política do país. Durante a gestão de Gantz, Israel se envolveu – com Netanyahu como premiê – em dois confrontos com o Hamas (2012 e 2014). Um relatório da ONU de 2015 apontou que os dois lado teriam cometido crimes de guerra. Mas, atualmente, atitvistas palestinos tentam acionar Gantz na Justiça da Holanda como grande culpado.

Após deixar o exército, em 2015, Benny Gantz passou um tempo trabalhando na iniciativa privada. Mas, em 2017, já começou a dar sinais de que entraria para a política. Em dezembro de 2018, depois de muita especulação, finalmente criou um partido, o Resiliência para Israel, que mal saiu do papel e já se uniu, em janeiro de 2019, a alguns aliados para formar a lista Azul e Branco. Gantz se uniu a outros dois ex-chefes do exército: Moshe “Booguie” Ya’alon (do Telem, sigla de Movimento Nacional de Estado) e Gaby Ashkenazy. Completando o Azul e Branco está o partido Há Futuro (do ex-âncora Yair Lapid).

A maior plataforma do Azul e Branco é ser uma alternativa ao governo de Benjamin Netanyahu. Quer dizer: tirar Bibi do poder. A lista promete limitar o mandato dos premiês israelenses a apenas três termos completos (o equivalente a 12 anos). Netanyahu completou 13 anos há poucos meses. Fora isso, a legenda promete aprovar a Lei da União Civil no país, além de introduzir transporte público durante o Shabat (o sábado judaico), bandeiras antigas dos seculares.

Quanto a questões de segurança e o relacionamento com os palestinos, porém, o Azul e Branco é menos claro. Gantz sinalizou com concessões territoriais aos palestinos, mas não deixou claro se defende um Estado palestino independente. Ele também disse ter a intenção de manter o Vale do Jordão (Cisjordânia) sob jurisdição israelense – sem explicar se faria isso através de uma anexação unilateral – como anunciou Netanyahu – ou através de negociações bilaterais.

Apesar de tudo isso, a bancada árabe-israelense da Lista Unida – que toma as dores dos palestinos da Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental – considera que Gantz é uma alternativa melhor a Netanyahu. E mesmo que, durante a campanha eleitoral para o pleito de 9 de abril deste anos, Gantz tenha sido criticado por aprovar a uma série de vídeos que tentavam moldar sua imagem de “líder forte”. Um deles dizia que, em 2014, Gaza voltou “à Idade da Pedra” após o exército ter atingido 6 mil alvos do Hamas. Em outro, mais criticado ainda, aparece a contagem de 0 até 1.364, que seria o número de militantes do Hamas mortos no conflito. Por causa das reações, a campanha foi retirada do ar.

Analistas acreditam que os marketeiros de Gantz acreditavam que ele tinha que se estabelecer como “Sr. Segurança” para roubar votos do Likud, de Netanyahu. Mas, para a campanha de 17 de setembro, ficou claro que Gantz tinha que apostar no voto dos eleitores liberais e seculares – e não dos direitistas – contra o aumento da influência dos partidos ultraortodoxos na política.

Aqui, cabe uma contextualização: generais na política não é algo incomum, em Israel. Nomes como Yitzhak Rabin e Ehud Barak, ambos ex-chefes do das Forças Armadas, se tornaram primeiros-ministros (pelo esquerdista Partido Trabalhista). Ariel Sharon foi outro ex-militar que se tornou premiê (pelo  direitista Likud e pelo centrista Kadima).

Em Israel, ser militar não tem a mesma conotação que no Brasil: ainda é – mesmo 71 anos após a criação do país – algo visto com bons olhos pela maioria da população. O exército permeia a vida pública devido às circunstâncias regionais e ao alistamento obrigatório (a maioria dos israelenses tem alguma patente). Generais são respeitados, mesmo que não mais cultuados como no passado (vide ícones como Moshe Dayan e o próprio Rabin).

Ao contrário do que pode parecer às sensibilidades brasileiras, grande parte dos generais tende para o lado esquerdo do mapa político. O conhecimento profundo que acumularam do conflito com os palestinos e o mundo árabe parece levá-los à conclusão de que a opção militar deve ser a última – depois de diplomacia e negociações – para resolver esses impasses.

Em outras palavras: “milico”, em Israel, não é sinônimo de direita ou de preferência por ações militares. Se é sinônimo de algo é de força e assertividade, algo que os israelenses prezam. Afinal, vivem no sempre conturbado Oriente Médio.

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