Os ultraortodoxos e o Coronavírus

Judeus ultraortodoxos, alguns deles usando máscaras, atravessam uma rua na cidade religiosa israelense de Bnei Brak, perto de Tel Aviv, em 3 de março de 2020, durante a pandemia do coronavírus. (AFP)

Uma das questões mais comentadas em Israel ultimamente tem sido as altas taxas de contaminação por coronavírus nos grupos ultraortodoxos (ou charedim). No entanto, ao falarmos sobre estes grupos, é preciso cuidado com as generalizações. Se há, sim, uma cultura religiosa que, apesar das diferenças, os unifica em um grande grupo, politicamente eles são muito diversos. 

A relação que os ultra-religiosos estabelecem com a atual pandemia segue, em grande medida, o padrão das relações que estabelecem com o Estado de Israel e o sionismo.

A parte oriental do bairro ultraortodoxo de Mea Shearim, em Jerusalem, é um bom exemplo para ilustrar esse padrão. Ali estão presentes os grupos mais radicais de oposição à concepção moderna do Estado judeu e que negam radicalmente qualquer relação com o sionismo. Como exemplo, os Neturei Karta, o Toldot Aron, os Satmer e os setores mais extremistas do Breslev.

Para eles, qualquer intervenção do Estado é vista como ameaça ao judaísmo como um todo. É por isso que muitos não respeitam as orientações governamentais para lidar com a atual pandemia e não é casual que, entre eles, o nível de infecção pela Covid-19 esteja muito acima da média nacional. Chegando, em alguns casos, a quase 50%.

Por outro lado, os sefaraditas ortodoxos (que não estão presentes na parte mais radical de Mea Shearim), estabelecem uma relação muito mais pragmática com o sionismo e com o Estado de Israel. Não é casual que respeitem, em geral, as orientações públicas e, entre eles, a infecção pelo coronavírus esteja dentro da média nacional.

Durante o feriado de Simchat Torá, o rebe de Beltz, um dos mais importantes grupos chassídicos, criticou justamente os grupos ultraortodoxos que “querem agradar as autoridades”. Para ele, a pandemia da alma é pior do que a do corpo, sugerindo que ninguém mudasse seu comportamento religioso em função da pandemia. A chassidut (grupo) de Beltz é  dos mais afetados pelo coronavírus. Durante o feriado, enquanto faziam aglomerações e quase ninguém usava máscara, a polícia sequer entrou no bairro. Os policiais seriam certamente atacados pelos religiosos, assim, preferiram manter um a acordo onde uns não entram (nas sinagogas) e outros não saem (do bairro). A festa rolou solta altas horas.

Na saúde e na doença, os ultraortodoxos mantêm, em sua maioria, o divórcio do Estado de Israel. Entre serem contaminados pelo Covid ou pelo sionismo, eles parecem ter optado pelo primeiro.

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