Os 25 anos do acordo de paz entre Israel e Jordânia – uma paz fria, mas que ainda está de pé

Há 25 anos, em 26 de
outubro de 1994, Israel e Jordânia assinavam um histórico acordo de paz. A
Jordânia se tornou o segundo país a firmar um tratado com Israel (o primeiro
havia sido o Egito, uma década e meia antes). Havia um certo otimismo no ar
naquele meados de década de 90. Um ano antes, o primeiro-ministro de então,
Yitzhak Rabin, havia assinado os Acordos de Oslo com o então líder palestino
Yasser Arafat. Parecia que, depois de egípcios, jordanianos e palestinos,
Israel tinha encontrado finalmente o seu local no Oriente Médio.

Mas, como se sabe, o
futuro foi um tanto diferente. Os Acordos de Oslo nunca foram totalmente implementados.
Rabin foi assassinado em 1995, Yasser Arafat levou os palestinos à Segunda
Intifada e, nos últimos 20 anos, a solução de dois Estados para dois povos
parece ter se tornado uma miragem.

Em meio a tudo isso, no
entanto, o acordo de paz com a Jordânia continua de pé. Às vezes, por um fio.
As tensões entre os dois países aumentam volta e meia. Crises diplomáticas
levam alguns a especular sobre o futuro do relacionamento. Questões como o
status de Jerusalém, o conflito com os palestinos e a animosidade da opinião
pública jordaniana em relação a Israel parecem ameaçar o acordo. Recentemente,
a prisão de dos cidadãos jordanianos em Israel levou Amã a chamar de volta seu
embaixador em Tel Aviv. Com a transferência dos prisioneiros, um corte de relacionamento
foi evitado.

Mas, apesar de tudo isso,
o ex-diplomata Oded Eran e atual pesquisador do Instituto Nacional de Estudos
de Segurança (INSS) acredita que os benefícios do acordo são muitos para os
dois lados – apesar de manterem uma
“paz fria” (ausência de guerra, mas sem o calor de uma verdadeira amizade). Ex-embaixador
de Israel na Jordânia e na União Europeia, ele também atuou como chefe da
equipe de negociações de Israel com os palestinos. Abaixo, trechos da
entrevista de Oded Eran (produzida com ajuda da ONG Media Central):

Em que pé está o
relacionamento entre Israel e Jordânia, hoje?
Está em um nível muito
baixo. Não há um diálogo de alto nível entre os dois Estados há um bom
tempo. Certas partes das relações continuam funcionando, principalmente na
área de segurança, mas a impressão geral, em ambos os países, é a de existe uma
paz fria”. Na Jordânia, há quase diariamente apelos de grupos da oposição
para revogar o acordo, chamar o embaixador da Jordânia de volta e expulsar o
embaixador de Israel de Amã. Não é muito animador, nesse sentido.

Recentemente, houve mais
uma crise diplomática entre os dois países, certo?
Sim, por causa da
detenção, em Israel, de dois cidadãos jordanianos e a prisão, na Jordânia, de
um israelense que fugiu para lá. Além do fato de que dois enclaves que estavam
em uso por Israel, segundo o Acordo de Paz de 1994, foram exigidos de volta
pela Jordânia. Esses eventos são, de certa forma, simbólicos quanto às relações
atuais entre os dois Estados.  

Que enclaves são esses?
A Acordo de Paz
reconheceu a soberania jordaniana sobre dois pedaços de terra, mas os
jordanianos aceitaram que eles fossem utilizados por Israel para fins agrícolas
e estipulou que, em 25 anos, esse uso poderia ser estendido. Recentemente, os jordanianos preferiram
não estender esse privilégio.
(Trata-se do enclave de Tzofar, na parte Sul
da fronteira (4.500 dunams), e o de Naharayim, na parte Norte da fronteira
(1.100 dunams). Apesar dos esforços do governo israelense, os jordanianos não
aceitaram continuar a deixar que agricultores israelenses trabalhem nessas
terras.)

Existe o perigo de o
acordo ser cancelado?
Eu sustento que os dois
lados têm um interesse profundo e estratégico em manter as relações bilaterais
porque ambos se beneficiam. A Jordânia se beneficia com o suprimento de
água, uma questão importante hoje em dia devido à chegada de mais de 1 milhão
de refugiados sírios ao país. Fora isso, a Jordânia em breve receberá gás
natural de Israel, substituindo o gás egípcio, cujo fluxo foi interrompido por
causa das atividades terroristas no Sinai. Fora isso, Israel ajuda na
exportação de produtos da Jordânia para a Europa. Por causa da guerra na Síria,
os portos de lá não estão mais disponíveis. Então, o porto de Haifa foi
disponibilizado para os exportadores jordanianos. Existem outras formas e
meios de cooperação, também. 

Imagino que Israel também
se beneficie…
Sim. Israel se beneficia
da estabilidade da Jordânia em uma região muito instável. O país é uma
espécie de zona tampão entre Israel e certas partes da Síria e do
Iraque. Isto é muito importante. Também há troca de informações,
fornecimento de certos equipamentos e contatos regulares entre agências e inteligência
militar. Toda a extensão da fronteira entre os dois Estados, incluindo a parte
que se relaciona aos territórios palestinos, é uma fronteira tranquila com
pouquíssimos incidentes. E isso se deve aos esforços dos dois
lados.  As relações estão certamente em um nível muito frio, mas o
interesse estratégico permanece como era em 1994.

 Isso pode mudar? Israel
precisa se preocupar com o futuro do acordo?
Quando tivermos um novo
governo, uma de suas principais tarefas deve ser a tentativa de retomar o
diálogo entre os dois países no mais alto nível possível e discutir todas as
questões da agenda para preservar as relações e implementar o que ainda não
saiu do papel. Mas, mesmo em uma situação em que o acordo seja revogado, isso
não quer dizer necessariamente uma ausência de cooperação. Tínhamos
cooperação antes da assinatura do tratado, mesmo informal. Haverá maneiras
de continuar certas partes da cooperação bilateral. 

A questão palestina
influencia?
Penso que a frieza das
relações é fruto da decepção de ambos os lados por promessas, de ambos os lados. Mas,
certamente, a questão palestina é o elemento central. Não é segredo: algo
entre 50% e 60% da população jordaniana é de origem palestina. Os
jordanianos são muito sensíveis em relação ao que acontece no lado ocidental do
Rio Jordão. Fora isso, quando escutam sobre as intenções de certos grupos de
anexar partes da Cisjordânia, acreditam que é uma tentativa israelense de fazer
da Jordânia a alternativa a um Estado palestino. E isso causa uma profunda
preocupação. 

Qual é a perspectiva em
relação ao futuro do relacionamento entre os dois países no contexto da
estagnação da negociação com os palestinos?
Em 1994, os jordanianos negociaram
a paz sabendo da existência dos Acordos de Oslo com os palestinos. Eles
avaliaram que Oslo continuaria e levaria a criação de um Estado palestino. Infelizmente,
Oslo está paralisado e minha avaliação é de que não há perspectivas de uma
solução abrangente no futuro próximo. Isso não significa que os envolvidos
com o conflito palestino-israelense devam ficar parados. Acho que, em
vez de negociar uma solução abrangente, devem tentar obter progresso parcial,
que acabará por levar à solução de dois Estados. Nesse contexto, as
diferenças entre Israel e Jordânia devem ser resolvidas de maneira sóbria e séria.

 

 

 

 

 

 

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