Ômicron leva a lockdown de fato em Israel

TEL AVIV – Oficialmente, Israel não está em lockdown. Mas, extraoficialmente, a situação é outra. Desde a chegada da variante Ômicron, o país registra recordes diários de casos em meio a uma poderosa 5ª onda de Covid-19. A confusão é enorme e a sensação é a de que o governo perdeu o controle da pandemia. Entre mensagens contraditórias das autoridades e milhares de pessoas em quarentena, os israelenses estão preferindo ficar em casa. O resultado é um lockdown de fato, que o premiê Naftali Bennett faz de tudo para não admitir.

Os dados são incríveis: os engarrafamentos caíram 35% e, nas horas de rush em Tel Aviv, a velocidade média dos carros passou a ser 70 km por hora, muito mais do que a média normal de 15 km. Shoppings estão mais vazios, assim como restaurantes. Muita gente não se anima a ir em shows, teatros ou cinemas. Isso sem falar nos setores hoteleiro e de turismo, que não têm clientes.

Tudo isso em meio a números assombrosos de casos diários registrados: cerca de 50 mil (o auge na 4ª onda foi de 10 mil casos diários). Mas, como as pessoas podem agora fazer testes caseiros sem que isso seja reportado aos planos de saúde e ao Ministério da Saúde, os casos provavelmente devem ser o dobro disso.

Comerciantes reclamam da falta de apoio do governo diante do que parece ser um fechamento informal da economia. Mas Bennett e o Ministro da Fazenda, Avigdor Lieberman, insistem em dizer que a economia está aberta, “viva e quicando”. Só recentemente admitiram que alguns setores estão sendo prejudicados e irão receber algum tipo de ajuda, mesmo que tímida. 

Não poderia ser diferente. Bennett foi o maior crítico da política anti-Covid de seu antecessor, Benjamin Netanyahu, entre março de 2020 e meados de 2021. Principalmente dos lockdowns de 2020 (pré-vacinação) decretados por Netanyahu para evitar contaminação em massa. Bennett chegou a escrever um livro de 133 páginas, na época, sobre como vencer a Covid-19. Nele, dizia que lockdowns só acabavam com a economia e que em duas semanas ele conseguiria vencer a pandemia.

Mas uma coisa é ser oposição, outra é governar. Ok, dizer que em “duas semanas é possível acabar com uma pandemia” é ingênuo, mas realmente em 2020 ninguém ainda sabia que surgiriam tantas variantes. Ignorar, no entanto, que a economia no começo de 2022 está praticamente fechada mesmo sem um lockdown oficial só para não se contradizer é complicado. 

Bennett não quer pronunciar a palavra “lockdown” para não ser cobrado pelo que escreveu antes. Mas, ao fazer isso, deixa a população confusa e se sentindo abandonada. Em seu livro, Bennett criticou os meses de seguro-desemprego pagos por Netanyahu em 2020 e 2021, dizendo que o governo estava “dando o peixe em vez de ensinar a pescar”. Agora, seu Ministro da Fazendo diz que o governo não vai sair “distribuindo dinheiro” porque não é “eleitoreiro”. Mas os dois insistem em enterrar suas cabeças na areia diante de uma situação que é, claramente, de desaceleração da economia.

Quando ainda era oposição, Bennett disse, em uma entrevista: “Posso dizer inequivocamente, hoje, que o governo de Israel perdeu completamente o controle da pandemia. Não há controle, não há testes, ninguém sabe realmente o que está acontecendo”. Atualmente, em janeiro de 2021, a oposição a ele pode dizer exatamente as mesmas palavras. 

A sensação, agora, é a de que o governo desistiu de lutar contra a Ômicron, talvez apostando na suposta baixa mortalidade da variante e na efetividade da 4ª dose da vacina (que 500 mil israelenses com mais de 60 anos já receberam). O número de casos é tão grande que as filas para testes (PCR e antígeno) em postos oficiais duram horas. Os laboratórios estão sobrecarregados. 

Para lidar com isso, Bennett e sua equipe decidiram simplesmente suspender a exigência de testes oficiais e limitar os testes PCRs apenas a pessoas com menos de 60 anos, com comorbidades ou de alguns setores (como o médico). Quer dizer: quem acha que pegou corona pode comprar um teste caseiro – desses que nem sempre são confiáveis. Além disso, o tempo de quarentenas caiu de 10 para 7 dias. O resultado é que ninguém sabe realmente quanta gente tem o vírus e o está transmitindo. Isso é que se chama de “perda de controle” e “falta de testes”. 

Por enquanto, parece que a variante realmente não leva a tantos casos graves e mortes. Mas o número de hospitalizações está crescendo e ninguém sabe o que pode acontecer em duas semanas, se os hospitais ficarem sem leitos. E ninguém sabe se a 4ª dose é realmente uma boa proteção (há muita discussão sobre isso). Mas Bennett reza para que suas apostas (menor morbidade da Ômicron e 4ª dose) deem frutos. Pelo menos deve ter aprendido a não escrever livros “definitivos” sobre algo que depois terá que enfrentar. 

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