O voto árabe em Israel

Entrar ou não uma coalizão de governo? Eis a pergunta que a liderança da minoria árabe em Israel enfrenta às vésperas de todas as eleições. Em geral, a resposta é “não”. Historicamente, os partidos que representam a minoria árabe-israelense (20% da população) não apoiam formalmente os governos do país – mesmo os que são liderados por líderes de esquerda.

Mas a questão de um engajamento formal voltou à tona diante da possibilidade de que a lista Azul e Branco (união de 3 partidos de centro) vença as eleições de 17 de setembro.

O Azul e Branco de Benny Gantz e Yair Lapid empatou com o Likud, o partido conservador do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, no votação de 9 de abril. Ambos receberam 35 das 120 cadeiras do Knesset, o Parlamento em Jerusalém. Coube a Netanyahu tentar costurar o governo por ter recebido mais indicações para isso. Depois de seu fracasso e da convocação de um novo pleito, novamente Likud e Azul e Branco disputam o privilégio de formar a próxima coalizão. E novamente disputam páreo a páreo as intenções de voto.

E se Gantz e Lapid superarem o Likud, desta vez? O único cenário possível para que consigam desbancar Netanyahu seria com apoio formal da Lista Árabe Unida – a terceira maior força eleitoral do país, união de quatro partidos: Hadash, Balad, Ra’am e Ta’al.

A criação da Lista Árabe Unida, em 2015, ajudou no aumento na participação de eleitores árabes de Israel nas eleições para o Knesset: 64% votaram. Mas a lista se separou antes da votação de abril deste ano e os eleitores minguaram nas urnas, com apenas 49%.

Agora que a Lista Árabe Unida se uniu novamente, pode ser que haja um novo aumento no percentual de votantes – mesmo que ninguém espere que ele volte aos 85% das décadas de 50 e 60 (quando até superava a votação judaica de, em média, 81%). Principalmente depois que a Comitê Central Eleitoral proibiu a colocação de câmeras nas sessões eleitorais de vilarejos árabes – desejo de partidos de direita. A presença dessas câmeras poderia inibir muitos eleitores.

“O maior potencial inexplorado para aumentar o número de votos para a esquerda é a participação da população árabe”, escreveu o ex-ministro e ex-líder do Partido Meretz Yossi Beilin no site Al Monitor. “Que mais da metade desse bloco de votação ficou em casa nas eleições de 9 de abril significa que, sob certas circunstâncias específicas, esse setor poderia determinar o resultado das novas eleições”.

O líder da Lista Árabe, o advogado Ayman Odeh, afirmou que não descarta ingressar em uma coalizão com o Azul e Branco. E boa parte dos eleitores parece aberta a essa possibilidade diante da sensação geral de que os políticos árabes não influenciam em nada na política nacional, defendendo mais a ideia de um Estado palestino do que os direitos dos palestinos que vivem no próprio Estado de Israel.

Mas nem todos gostam da ideia: “Representamos nossa comunidade em duas frentes, a social e a nacional política”, explica o mais conhecido político árabe-israelense, Ahmad Tibi, líder do partido Ta’al (Movimento Árabe para Mudança), um dos mais ferrenhos adversários da ideia de engajamento de partidos árabes em coalizões de governo.

“Somos uma minoria nacional. É por isso não podemos apenas entrar num governo israelense. É muito complicado, é muito ideológico, porque se você é parte do governo, você tem uma responsabilidade coletiva em relação a qualquer decisão tomada por ele. Se o governo decidir atacar Gaza, podemos até votar contra isso. Mas, como parte do governo, seremos responsáveis caso haja realmente o ataque”, explica TIbi.

É preciso destacar também que a minoria árabe de Israel está longe de ser homogênea. Há quem vote em partidos judaicos (cerca de 15%). Há partidos socialistas, islâmicos, nacionalistas. Justamente por isso, as posições variam e podem parecer até contraditórias.

Isso talvez reflita a sensação de indiferença da minoria árabe, que não acredita realmente em mudanças diante das alegações de discriminação. Pesquisas de opinião apontam que eles querem mais segurança. Nas cidades e vilarejos com maioria árabe, os níveis de criminalidade superam em muito a média nacional – com gangues armadas controlando a vida social.

A polícia sempre promete mais envolvimento para combater a violência e limitar o porte de armas, mas nada realmente acontece. Um maior engajamento dos partidos árabes talvez ajudasse a melhorar a situação.

A pergunta é se as lideranças de minoria árabe-israelense vão decidir por um câmbio histórico e apoiar uma coalizão de esquerda ou se continuarão a atuar da oposição.

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