Natal Cristão no Estado Judeu: entre celebração e desconfiaça

TEL AVIV – O Natal está presente nas vitrines do Sul de Tel Aviv. Árvores de Natal, guirlandas, bonecos de Papai Noel… Neve artificial enfeita os arranjos, mesmo que não haja sinal de neve real no começo do inverno, em Israel. Mas, como o Estado no qual três em cada quatro pessoas são judias lida com os crescentes sinais da festa cristã pelas ruas? A resposta é, como tudo por aqui, complexa e ambivalente. As árvores de Natal são vistas com curiosidade, mas também com desconfiança.

Nas cidades com maior presença de cristãos, como Jerusalém, Tel Aviv, Nazaré e Haifa, os símbolos natalinos convivem quase sem conflito com as chanukiot, os candelabros de nove braços de Chanuká, a Festa das Luzes comemorada também em dezembro em lembrança de uma revolta judaica contra os selêucidas em 164 A.C. – um século e meio antes do nascimento de Jesus Cristo.

Em Haifa, por exemplo, dezembro é palco, anualmente, da “Festa das Festas”, um festival de música, culinária e dança celebrando três datas religiosas que, algumas vezes, caem no mesmo mês: Chanuká (judeus), Natal (cristãos) e Ramadã (muçulmanos). Dezenas de milhares de israelenses e turistas participam da comemoração – exemplo de convivência e aceitação. “Papais Noel” circulam pelas ruas lado a lado com candelabros judaicos e símbolos muçulmanos.

Na cidade bíblica de Nazaré, na Galileia, árvores de Natal podem ser vistas em toda a cidade, bem como peregrinos e pessoas fantasiadas. Há festivais, cultos e distribuição de presentes e festas. Na véspera do Natal, uma enorme e colorida procissão desfila pela rua principal. A Missa de Natal na Basílica da Anunciação, à meia-noite do dia 24 de dezembro, é tradição.

Em outras cidades com população mista, o Natal é evidente nas ruas. Em Jerusalém, a Via Dolorosa se enche de peregrinos e turistas de todo o mundo. E a prefeitura distribui árvores de Natal aos moradores cristãos. Em Akko (Acre), mercados vendem todo tipo de bugiganga natalina.

Mas em cidades israelenses com população quase que exclusivamente judaica, o clima natalino é pouco aparente. É difícil encontrar enfeites ou árvores de Natal nas ruas – em geral, apenas em lojinhas nos centros mais populares.

A maioria dos israelenses entende a importância do turismo e da peregrinação cristã para o país, principalmente na época do Natal. Mas muitos torcem o nariz para a presença de símbolos cristãos nas ruas por causa de fantasmas do passado, como perseguições, discriminação, assassinatos e conversões forçadas realizadas por cristãos contra judeus durante séculos.

Fora isso, há um temor de que o crescimento da presença cristã no Estado Judeu influencie numa sociedade ainda em formação e que preza a identidade judaica.

Por vezes, símbolos natalinos são deliberadamente ignorados. Um exemplo foi a temporada de Chanuká do Balé de Israel este ano, que viajou pelo país apresentando o clássico natalino “O Quebra-Nozes” para adultos e crianças. Para a surpresa de quem conhece a obra de Tchaikovsky inspirada em uma obra de Alexandre Dumas, a festa do primeiro ato não era de Natal. Não havia árvore à vista, nenhuma guirlanda ou enfeite natalino no palco.

Menos de 1% dos cristãos do mundo moram atualmente no Oriente Médio. Em Israel são cerca de 160 mil pessoas (2% da população), entre árabes-cristãos, trabalhadores estrangeiros (de países como Filipinas e Índia) e refugiados africanos. O percential pode ser pequeno, mas o número de denominações e seitas cristãs é grande. Há melquitas, gregos ortodoxos, católicos, maronitas, armênios, coptas, protestantes e mais.

Eles vivem no Estado Judeu e não apenas visitam os locais sagrados como a Igreja do Santo Sepulcro (Jerusalém), da Natividade (Belém) ou da Anunciação (Nazaré) como fazem milhões de peregrinos anualmente. Os cristãos locais rezam em mais de 30 igrejas espalhadas em bairros da periferia do país.

Nos dias que antecedem o Natal, costumam festejar em locais como a rodoviária de Tel Aviv. No quarto andar da enorme e parcialmente abandonada estação central de ônibus, um mercado improvisado, com suas luzes de Natal cintilantes e roupas festivas de Papai Noel, é montado. Os frequentadores são imigrantes – legais ou não –, trabalhadores estrangeiros e, principalmente cidadãos oriundos da antiga União Soviética.

Entre os 1,5 milhão de imigraram para Israel nos últimos 25 anos, 20% são cristãos. Mas, mesmo os outros 80% – que são judeus – costumam montar árvores de Natal em dezembro, tradição soviética mantida até hoje para comemorar uma festa chamada de Novy God, que marca a passagem do Ano Novo. Era o único feriado não-político permitido pelo regime comunista na antiga União Soviética, que incorporou alguns símbolos costumeiros de Natal – como a árvore – na celebração.

Famílias da ex-URSS montam árvore de Natal em dezembro. Há alguns anos, a tradição era mantida quase em segredo. Mas, recentemente, as novas gerações passaram a sair em campanha para explicar que seus enfeites e papai noel não significam que sejam cristãos. O estigma e a ignorância quanto ao Novy God ainda existem, no entanto.

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