IBINews 226: Narrar para curar feridas

Há pouco menos de um ano, o IBI selou uma parceria com a Quatro Cinco Um, a revista literária de maior alcance no Brasil. 

Apoiamos a criação e a curadoria de uma seção fixa de literatura israelense, que apresentou textos cobrindo um arco que foi do humor judaico ao ativismo pela paz – em artigos assinados por Gregorio Duvivier e Christian Dunker respectivamente -, passando pela investigação dos sonhos de israelenses e palestinos em áreas deflagradas pelo conflito e muito mais.

“Os discursos sobre Israel no Brasil são construídos principalmente por ativistas que excepcionalizam o país, para o bem ou para o mal”, afirma Daniel Douek, diretor do Instituto Brasil-Israel. “A literatura, ao contrário, dá visibilidade a dramas pessoais e contradições sociais que fazem emergir camadas muito mais interessantes e complexas do que aquelas comprometidas com perspectivas ideológicas excludentes”.

Neste mês de março, a literatura israelense foi tema de capa da revista, trazendo um conteúdo de fôlego: o destaque principal foi a entrevista exclusiva do jornalista Diogo Bercito com David Grossman, um dos principais escritores de Israel. 

A resenha sobre “A vida brinca muito comigo”, que está sendo lançado no Brasil pela Companhia das Letras, assinada por Thais Lancman, e o perfil de Paulo Geiger, tradutor da obra, por Mauro Ventura, também compõem o especial.

“Quero que o romance seja tão contraditório quanto a vida”, afirmou Grossman, na entrevista. 

“A vida brinca muito comigo” demorou duas décadas para ser escrito e narra histórias reinventadas por ele sobre Eva Panić Nahir, uma leitora que o procurou e lhe pediu para que escrevesse um romance sobre sua vida. Nascida em uma família judia na antiga Iugoslávia, Eva sobreviveu à ditadura e foi presa em um gulag.

Na versão que Grossman inventou, Eva virou Vera. Aparecem também sua filha Nina e sua neta Guili. As três decidem gravar um documentário sobre a história da família e, no processo, desenterram seus segredos. 

Grossman discute, de certo modo, como o ato de contar uma história transforma os personagens — e o narrador. “Podemos mudar a ferida de lugar. Assim, nós nos libertamos”, afirmou Grossman, na entrevista. De tal maneira que, como sugeriu Thais Lancman em sua resenha, o autor criou uma narrativa calcada em fatos históricos com contornos míticos. 

Completa a seção de literatura israelense desta edição uma reportagem sobre o tradutor Paulo Geiger. “A vida brinca muito comigo” é a quarta obra de Grossman traduzida por Geiger, que também verteu ao português vários livros de Amós Oz, de quem se tornou amigo.

Segundo Paulo, para traduzir o conteúdo de um livro em outra língua com maestria, é preciso conhecer a obra e o autor. No caso de Grossman e Oz, isso é facilitado pelas afinidades políticas. 

“Os dois são, como eu, sionistas de esquerda, que defendem a ideia de dois Estados para dois povos. Traduzo os livros de política de Oz quase como se estivesse repetindo o que penso”.

Todo o material está disponível no site da revista, sem paywall.

O projeto com a Quatro Cinco Um é composto ainda por uma newsletter mensal sobre literatura israelense, que pode ser assinada gratuitamente, e um clube de leitura em parceria com o Centro de Estudos Eliezer Max.

CONFIRA OS DESTAQUES DA SEMANA PASSADA!

Alta tensão em Israel: A onda de atentados terroristas em Israel, que começou no princípio de março, continua. Um ataque fatal paralisou o país na noite desta quinta-feira, 7 de abril, deixando três mortos no centro de Tel Aviv. Mais precisamente na rua Dizengoff, uma das mais visitadas por jovens locais e turistas. Os três israelenses assassinados tinham idades entre 27 a 35 anos. No total, 14 pessoas já morreram. “A pergunta, agora, parece ser ‘quando’ será o próximo atentado, não ‘se’ haverá mais um”, escreveu Daniela Kresch, nossa correspondente em Tel Aviv, que analisou a sensação de insegurança no país. Leia aqui.

O governo de Israel vai cair?: No Expresso Israel desta semana, as jornalistas Daniela Kresch e Isabella Marzolla conversaram sobre a maior crise política desse governo até o momento, deflagrada pela saída da parlamentar Idit Silman da coalizão governamental. Sem ela, a coalizão perdeu sua maioria. Por enquanto, a oposição não tem votos suficientes para derrubar o governo – são 60 votos para cada lado, de um total de 120 -, mas sua sobrevivência está por um fio. Assista. 

O rabino do Brasil: O jornalista e escritor Jayme Brener acaba de lançar a biografia “Henry Sobel, o Rabino do Brasil”, que contou com o apoio do IBI. Sobel foi um protagonista na luta pelos direitos humanos no Brasil e uma das maiores referências da comunidade judaica. Este foi o tema do podcast “E eu com isso?” desta semana, apresentado por Amanda Hatzyrah e Anita Efraim. Ouça.

E um dos eventos de lançamento da obra, realizado pelos grupos Hashomer Hatzair, CCMA – Centro Cultural Mordechai Anilevitch e Judeus Pela Democracia, contou com a participação de Andrea Kulikovsky, Beatriz Kushnir, Renato Bekerman, além da diretora do IBI, Ruth Goldberg

Laboratórios a todo vapor: No mês de março aconteceram os primeiros encontros dos laboratórios do IBI no Campus. Os monitores já propuseram debates sobre textos de diferentes autores, como Moishe Postone e Micah Goodman. Além de fazerem introduções sobre temas relacionados a sionismo, antissemitismo, conflito Israel-Palestina e questões de gênero. Acompanhe. 

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