IBINews 224: Não é por que eu sou negro

Por ocasião do Dia Internacional contra a Discriminação Racial, que foi celebrado na última segunda-feira, o IBI convidou alguns integrantes do coletivo Judeidade e Negritude para compartilharem suas reflexões em uma campanha nas redes sociais intitulada “Desafie o senso comum”.

Em vídeo difundido nas redes sociais, Ariel Strauss, estudante de Geografia na UFF, Fercho Marquéz-Elul, doutorando em Artes Visuais pela UFRGS, João Torquato, jornalista, estudante de Artes na Belas Artes de São Paulo, Tarsis Silveira da Conceição, cinegrafista, e Thayane Fernandes, cientista social, mestra e doutoranda em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco, complementavam, a partir de suas próprias percepções e perspectivas,  a seguinte frase: não é porque eu sou negro/ negra, que eu…

“Moro na periferia”

“Sou sua empregada”

“Tenho que ser bom em esportes”

“Não sei falar outro idioma”

“Não gosto de coisas fofas e delicadas”

“Sou hetero ou cis”

“Sou uma enciclopédia ambulante sobre o racismo”

E finalmente, 

“Que eu não frequento a sinagoga”

“Que eu não sou judeu”

Aprofundar os laços entre judeus e negros, estabelecendo alianças no enfrentamento do racismo e do antissemitismo, e trazer visibilidade para a comunidade negra judaica brasileira, composta por 1.690 integrantes, de acordo com o IBGE, tem sido um dos eixos de trabalho do IBI neste ano de 2022. Menos conhecida, esta identidade, como já antecipava uma edição do podcast “E eu com isso?”, produzida em junho de 2021, parte de várias direções: casamentos interraciais, conversões e ascendência etíope ou mizrahi.

“No imaginário social brasileiro, as identidades judaica e negra poucas vezes são postas como identidades coexistentes. Isso gera um apagamento dos negros judeus, anulando sua existência e vivências”, explica Rafael Kruchin, coordenador de programas e projetos do IBI.

O coletivo Judeidade e Negritude foi criado no começo deste ano justamente com o propósito de redesenhar este contexto. O repertório remete a uma série de questões que precisam vir à tona e atravessam basicamente o racismo e o antissemitismo tanto no seio da comunidade judaica, como na sociedade brasileira como um todo, trazendo um contraponto ao estereótipo predominante, do judeu branco e europeizado.

Isso é vivido na pele, como atestou Ariel Strauss, na live de lançamento do coletivo: “Eu sou fruto de um relacionamento interracial, meu pai também era judeu, ele é negro, só que eu não tenho contato com ele. Fui criada pela família da minha mãe, que é de judeus ashkenazim, todos eles brancos, vieram da Polônia, Alemanha. Até uns 14, 15 anos, se alguém perguntasse, eu falava que era branca ou só que eu pegava muito sol. Fui ensinada a não me reconhecer enquanto uma pessoa negra. Quando fui me reconhecer, aconteceu de uma forma até um pouco traumática, porque sofri racismo explícito, não tinha como inventar desculpas”.

A pauta envolvendo judeidade e negritude é extensa e extrapola fronteiras. Em Israel, negros são 2,2% da população. Tal qual no Brasil, encontram mais dificuldade de participação e representação na vida pública, bem como para conseguir empregos. Habitam as periferias e, com alguma frequência, são alvo de racismo e da violência policial.

O espectro de judeus israelenses “não brancos”, oriundos do Oriente Médio e do norte da África é ainda mais amplo. Nos anos 70, esse grupo, sugestivamente intitulado  de “Panteras Negras” – referência ao partido norte-americano – realizou protestos desafiando a elite ashkenazita do país, de origem europeia.

Tanto em Israel como no Brasil, os desafios são múltiplos. De qualquer forma, é bom que se reconheça: judeus são plurais, inclusive na cor de sua pele.

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A arte e o artista: Movimentos recentes de cancelamento e boicote contra assediadores, tais como #MeToo, têm atingido vários artistas – muitos deles, judeus. O que fazer quando o repudiamos as condutas de um alguém, mas apreciamos o seu trabalho? É possível separar a obra de seu autor? No “E eu com isso?”, Amanda Hatzyrah e Ana Clara Buchmann conversaram sobre o tema com o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP. Ouça. 

O enterro que parou Tel Aviv: Israel ainda tem uma maioria secular, mas a minoria religiosa está cada vez mais presente no cenário nacional. No último domingo, a grande Tel Aviv presenciou um dos maiores enterros de sua história, do rabino Chaim Kanievsky, que faleceu em Bnei Brak. 350 mil pessoas se reuniram para acompanhar a procissão até o cemitério. A jornalista Daniela Kresch, correspondente do IBI em Israel, analisa as repercussões e significados deste momento. Leia. 

Escalada de tensão em Israel: O atentado que matou quatro pessoas em Be’er Sheva, no sul de Israel, ocorrido esta semana, prenuncia as tensões esperadas para este período do ano no país. No dia 30 de março é comemorado o Dia da Terra, que relembra um protesto de 1976 de árabes-israelenses contra o governo de Israel; a partir do dia 1 de abril, começa o Ramadã, o mês mais sagrado para o islamismo. E no dia 15 acontece o Pessach. Essa proximidade de datas importantes para judeus e muçulmanos já serviu de estopim para conflitos importantes, como a Guerra de Gaza no ano passado. As jornalistas Isabella Marzolla e Daniela Kresch falaram sobre o assunto no Expresso Israel. Veja. 

CEJ-USP de portas abertas: Depois de dois anos sem atendimento presencial por conta da situação de pandemia, o Centro de Estudos Judaicos da USP voltou a abrir as portas ao público esta semana, com o apoio do Instituto Brasil-Israel. Dias e horários atendimento: segundas, quartas e sextas, das 14h30 às 19h30; terças e quintas, das 13h às 18h. O CEJ-USP fica na sala 105 do prédio da Faculdade de Letras. Av. Prof. Luciano Gualberto, 403. Cidade Universitária. São Paulo-SP.

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