IBINews 206: A consciência negra no Brasil e em Israel

No dia da Consciência Negra, data em que chamamos a atenção para as questões e reivindicações da luta antirracista, o IBI se mobiliza em várias frentes. 

Pois, como escreveu Anita Efraim, apresentadora do “E eu com isso?”, em artigo de opinião publicado no Yahoo, sobre o desastrado episódio envolvendo o jornalista José Carlos Bernardi, na Jovem Pan, “não há luta contra o antissemitismo sem luta antirracista, sem luta anti LGBTfobia, sem luta anti machista. E a recíproca é – ou deveria ser – verdadeira”.

No IBI, trabalhamos com a ideia de interseccionalidade. O conceito refere-se à sobreposição de identidades sociais e sistemas relacionados de discriminação. Assim, procuramos destacar vivências de pessoas que são, ao mesmo tempo, judias e LGBTQIA+, judias e negras ou mesmo judias, negras e LGBTQIA+. No Brasil e em Israel.

A semana contou com dois eventos significativos nesse sentido.

No debate “Mulheres Negras e Antirracismo: Brasil e Israel”, produzido em parceria com a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial e a Universidade Zumbi dos Palmares, conversou-se sobre em que medida as experiências brasileira e israelense dialogam na luta antirracista. A atividade contou com a participação de Linoy Jember, do movimento sionista-socialista Hashomer Hatzair, que trabalha com a inclusão social de jovens negros etíopes judeus na sociedade israelense, Juliana Kaiser, professora da UFRJ, especialista em ESG, e mediação de Rosiane Rodrigues, doutora em antropologia pela UFF e conselheira consultiva do IBI.

“Um fórum como esse, por exemplo, já nos traz uma dimensão de desconstruir o judeu imaginário. Sim, existem judeus negros”, lembrou Juliana.

Já o debate ocorrido ontem, “Vivências negras LGBTQIA+ na comunidade judaica brasileira”, promovido pelo Gaavah, coletivo LGBTQIA+ do IBI, mostrou como a comunidade judaica pode ser um ambiente pouco acolhedor da diversidade. Julia Schaan, coordenadora de educação do movimento juvenil judaico Habonim Dror em Porto Alegre – RS, e Eduardo Barros, artista LGBTQIA+ atuante na comunidade judaica em grupos como a Lehakat Carmel do clube Hebraica de SP e Beiachad, da Beth-El, contaram situações constrangedoras e agressivas que viveram na pele negra, em escolas, clubes judaicos, viagens a Israel ou sinagogas.

E Israel?

Apesar de todos os estereótipos que associam o Estado de Israel à branquitude, como se a população judaica local fosse formada por descendentes de europeus de pele clara, a realidade é muito mais diversa.

Já nos anos 50 e 60, a imigração de centenas de milhares de judeus oriundos dos países árabes do Oriente Médio e norte da África transformou significativamente as características étnicas do país.

Foram eles, os judeus orientais, de pele mais escura, que, nos anos 70, realizaram os maiores protestos que desafiaram a elite ashkenazita. Inspirados no partido norteamericano, fundaram o movimento dos Panteras Negras Israelenses.

Mas há, também, negros retintos. Hoje, são cerca de 2,2% da população, sendo a maioria judeus de origem etíope. Existem, ainda, refugiados da Eritreia e do Sudão, em geral muçulmanos. Muitos alegam terem sido perseguidos em seus países de origem e pedem asilo a Israel, mas raramente recebem esse status.

Judeus etíopes começaram a chegar em Israel no final dos anos 70.  A despeito de, em muitos casos, terem acessado melhores condições de vida, o processo de absorção não os introduziu plenamente nos “sistemas de aceitação social”.

Até hoje, encontram mais dificuldade de participação e representação na vida pública, bem como para conseguir empregos. Habitam as periferias e, com alguma frequência, são alvo de racismo e da violência policial.

Infelizmente, as experiências brasileira e israelense dialogam também nesta chave. “É cada vez mais normal ver pessoas negras nas ruas, na TV, em propagandas, em locais de trabalho. Mesmo assim, existe racismo e preconceito”, afirma a jornalista Daniela Kresch, correspondente em Tel Aviv, que escreveu, para o IBI, um artigo sobre a questão racial no país.

Que a visibilidade a essas questões, impulsionada pelo Dia da Consciência Negra, sirva de inspiração para que possamos todos assumir um compromisso antirracista de transformação social.

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Um candidato judeu de extrema-direita: Eric Zemmour, pré-candidato judeu da extrema-direita francesa, com reais chances de disputar o segundo turno das eleições presidenciais, foi tema de novo e alarmante episósio de nosso podcast “E eu com isso?”, que contou com a participação de Miguel Lago, cientista político, diretor do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde), professor na Sciences Po, de Paris, e na Universidade de Columbia (NY), e de Michel Gherman, professor de História da UFRJ e assessor acadêmico do IBI. As apresentadoras Anita Efraim e Amanda Hatzyrah conduziram a entrevista sobre o que vem sendo considerado o fenômeno mais importante da nova direita mundial nos próximos anos. “Zemmour abre muito espaço para o antissemitismo na França”, afirmou Miguel. Ouça.

O sefardismo no século 21: Contando com especialistas de várias partes do mundo, o I Congresso Internacional de Estudos Sefaraditas (CIES), realizado pelo Centro de Estudos Judaicos da Amazônia, com o apoio do IBI, acontece neste domingo e segunda-feira, de forma online gratuita, no canal do Amazônia Judaica TV, no YouTube. “É a primeira vez que se discute este assunto em nível internacional tendo o Brasil como centro, a partir de uma perspectiva periférica, contra-hegemônica, trazendo um debate sobre identidade brasileira, marrana, pós-inquisitorial. É um marco nos estudos judaicos”, afirma Michel Gherman, assessor acadêmico do IBI. Não perca. 

Homenagem a Henry Sobel: Marcando o segundo aniversário da morte do rabino Henry Sobel (1944-2019), no dia 22 de novembro, a partir das 19h, a Brown University e o Projeto Henry Sobel, realizam, com o apoio do IBI, o debate virtual “A importância de Henry Sobel para a democracia e os direitos humanos no Brasil. Participam do debate Fernando Lottenberg, primeiro comissário para o monitoramento e combate ao antissemitismo da OEA e integrante do Conselho Consultivo do IBI; Celso Amorim, ex-chanceler do Brasil; James Green, professor de História Moderna da América Latina na Bronw University; Marcelise Azevedo, advogada e dirigente do Movimento de Juristas Negras; e Jayme Brenner, coordenador do Projeto Henry Sobel – História e Memórias. Inscreva-se. 

Aula gratuita com Tanguy Baghdadi: Em uma aula online e gratuita promovida pelo IBI, o professor de relações internacionais Tanguy Baghdadi, comentarista da GloboNews e podcaster no Petit Journal, abordará o conflito israel-palesitno diante das mudanças pelas quais o Oriente Médio vem passando nos últimos anos. Inscreva-se.

Ministra israelense na GloboNews: No último domingo, a Ministra da Proteção Ambiental de Israel, Tamar Zandberg, conversou com o jornalista Marcelo Lins, da Globonews, em entrevista que contou com o apoio e produção do IBI. Assista.

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