Guerra fortaleceu o Hamas, mostra enquete entre palestinos

Manifestação em apoio ao Hamas. (Foto: Shadi Hatem/Apaimages)

TEL AVIV – Mais palestinos apoiam a luta armada contra Israel do que negociações de paz. Poucos acreditam em uma solução de Dois Estados para Dois Povos. O Hamas, o grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza com mão de ferro, é mais popular do que o Fatah, o partido da Autoridade Palestina que governa na Cisjordânia. 

Essas são algumas das conclusões de uma pesquisa de opinião do Palestinian Center for Policy and Survey Research (PSR), do respeitado pesquisador palestino Khalil Shikaki, com apoio do instituto alemão Konrad Adenauer, que fez um raio-X sobre o que pensam os palestinos neste final de 2021. Os resultados foram divulgados em 21 de setembro após uma enquete com 1.270 palestinos, feita de 15 a 18 de setembro.

Segundo a pesquisa, o cancelamento das eleições presidenciais palestinas, em abril, seguido de mais um conflito armado entre Israel e o Hamas, em maio, levou a um aumento no apoio ao Hamas entre os palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Em 21 de março, quando as eleições – marcadas para maio – ainda aconteceriam como planejado, 43% dos palestinos apoiavam o Fatah, partido mais moderado que não prega oficialmente a luta armada contra Israel. Só 30% apoiavam o Hamas. A ideia de democracia animava os palestinos a acreditarem em política e diplomacia, não em luta armada.

Mas, em 21 de junho, após o cancelamento das eleições e a guerra contra Israel iniciada pelo Hamas, que prega oficialmente a luta armada e a destruição de Israel, os dados se inverteram: 41% dos palestinos disseram apoiar o Hamas e só 30%, o Fatah. Em 21 de setembro, os dados mostravam outro cenário, com Hamas e Fatah praticamente empatados. Mas o Hamas ainda com 37% e o Fatah com 32%. Isto é: a guerra já começava a esfriar na mente dos palestinos. Mas, essas mudanças rápidas de opinião da população são prova de que violência reforça o Hamas, e a democracia, o Fatah.

Outro dado da pesquisa fortalece essa conclusão. Em 21 de março, 37% dos palestinos defendiam a luta armada como melhor opção contra a ocupação de Israel, sendo que 36% defendiam a diplomacia. As duas estratégias estavam, portanto, empatadas, com outros 20% apoiando a luta não-violenta, “estilo Mahatma Gandhi”. Em 21 de junho, após a guerra e o cancelamento das eleições, 49% apoiavam a luta armada e só 27% a diplomacia (e 18% a luta não-violenta). Em 21 de setembro, esses números não haviam mudado muito: 48% luta armada, 28% diplomacia e 18% luta não-violenta.

Mais um dado interessante da pesquisa diz respeito à influência da saída americana do Afeganistão, que deu lugar à volta do regime do Talibã. No total, 36% dos palestinos acreditam que algo parecido poderia acontecer na Palestina: se Israel sair da Cisjordânia, isso pode levar ao colapso da AP e à tomada de controle dos islamistas do Hamas, que já controlam Gaza. Na Faixa de Gaza, 53% pensam isso. Mas na Cisjordânia, apenas 25% acreditam nesse cenário.

Para entender os resultados, é preciso entender o que estava na cabeça dos palestinos em setembro. Quatro pontos principais são importantes para entender o contexto:

1) ASSASSINATO DE ATIVISTA – O assassinato do ativista palestino de oposição Nizar Banat, de 43 anos, supostamente por membros do partido Fatah, que compõe a Autoridade Palestina. Ele foi morto a pancadas no dia 24 de junho em Hebron, na Cisjordânia, e 14 membros do Fatah foram presos. O julgamento deles começou em setembro. A morte de Banat passou em branco em Israel e no mundo, mas milhares de pessoas saíram em protesto contra o assassinato, desde que ele ocorreu, piorando ainda mais a popularidade da AP.

2) CANCELAMENTO DE ELEIÇÕES – Para os palestinos, o assassinato foi mais uma prova de que a AP é autoritária e já deixou de ser democrática há muito tempo, se transformando numa engrenagem corrupta. Afinal, não há eleições presidenciais entre os palestinos desde 2005, quando Mahmoud Abbas – hoje absurdamente impopular – foi eleito. 

3) GUERRA DO HAMAS COM ISRAEL – O mais recente conflito entre Israel e o Hamas, em maio, ainda está na cabeça dos palestinos (e dos israelenses), seis meses depois. O conflito solidificou o Hamas como o grupo que mais estaria “lutando” pelos palestinos, enquanto a AP estaria “acomodada”, acostumada com a ocupação israelense e roubando dinheiro de doadores internacionais. No imaginário de muitos palestinos, o Hamas, que prega a luta armada, o terrorismo e o conflito, se tornou sinônimo de ação. E a AP, que prega a diplomacia ou a luta não-violenta contra Israel, de fracasso.

4) FUGA CINEMATOGRÁFICA – A fuga de seis presos palestinos da prisão Guilboa, em Israel, no dia 6 de setembro, reacendeu o imaginário palestino de heroísmo contra Israel. A pesquisa do Khalil Shikaki foi feita quando alguns deles já haviam sido recapturados. Mas a fuga cinematográfica reacendeu o sentimento nacional de audácia e bravura contra os vilões israelenses.

A pesquisa de Khalil Shikaki, do Palestinian Center for Policy and Survey Research (PSR), é importante para medir o pulso dos palestinos e o que se passa na cabeça deles. Mas o resultado mais importante é indelével: violência fortalece os radicais. Democracia, os moderados. 

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