Estudante espalha cartazes na USP chamando atenção para o antissemitismo

Laura Baptista, de 21 anos, é estudante de Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Na semana passada, ela começou a espalhar cartazes com a definição da palavra “antissemtisimo” pelos corredores da instituição, chamando a atenção para o preconceito e a discriminação contra os judeus no campus. “Indicar o que é antissemitismo, mesmo que em sua definição mais básica encontrada no dicionário, é um caminho para chegar na mente das pessoas”, afirma. Em entrevista ao IBI, ela falou sobre a experiência.

O antissemitismo está presente na USP? De que maneira ele se expressa?

É chato admitir, mas existe antissemitismo dentro da USP – tímido, mas existe. Por experiência própria posso afirmar que se reproduz o discurso de ódio ao judeu de forma constante, mesmo inconscientemente, por piadinhas que parecem inofensivas. Se perguntado a qualquer aluno ou frequentador da universidade se o mesmo se considera antissemita, a resposta certamente será não, mas dentro de sua mente ainda existirá um mundo de estereótipos acerca da cultura judaica. E está aí o pulo do gato: estereótipos nascem da falta de conhecimento e, se não forem adequadamente tratados, se tornarão uma forma de preconceito mais profunda e preocupante. Indicar o que é antissemitismo, mesmo que em sua definição mais básica encontrada no dicionário, é um caminho para chegar na mente das pessoas, afinal, nem sempre ligamos o significante ao significado.

Você recebeu algum tipo de apoio? Há instâncias às quais é possível recorrer para reportar casos como esse?

Dentro da universidade temos a Comissão de Direitos Humanos da USP e outras instâncias como o USP Mulheres, a Comissão de Ética da USP, o Núcleo de Estudos da Violência, além da Superintendência de Proteção e Prevenção Universitário. Já precisei procurar coletivos e entrar em contato com estes para amigos que sofreram LGBTfobia, contudo, nada de fato foi feito – isso nos casos em que conseguimos entrar em contato – assim, é difícil acreditar que em um caso extremo de antissemitismo algo seria feito pelo aluno. Acredito, inclusive, que levantar a voz diante o antissemitismo dentro da universidade é um ato de rebeldia que ainda não tive coragem: há o estereótipo do judeu rico, ranzinza, de direita conservadora e que pouco se importa com as vidas palestinas.

Na sua opinião, por que o antissemitismo não é levado tão a sério na pauta dos movimentos estudantis, a exemplo do machismo, racismo ou islamofobia?

Colocar o antissemitismo dentro das pautas dos movimentos estudantis seria uma tarefa árdua, visto que dado aos estereótipos se cria a falsa impressão de que o judeu não é uma minoria, mas sim parte daqueles que oprimem e destilam preconceitos. A universidade deve cumprir seu papel intelectual em todas as áreas da vida, nos ajudando a conhecer mais sobre a cultura do próximo. A prova disso é o fato de ter feito uma amiga no curso de origem síria, que me afirmou abertamente que sua família odeia judeus. Se não fosse pela troca de experiências que a USP propõe, talvez nunca tivéssemos nos tornado amigos. Estamos em um ambiente com pessoas supostamente dispostas a entender o mundo e o próximo e isso deve ser colocado em prática. É preciso entender não apenas a cultura ou língua que é desconhecida, mas também desconstruir os estereótipos que temos sobre o outro. É fundamental entender o que significa o antissemitismo, como é sua face em pleno 2019 e se aquela piadinha feita para o amigo judeu foi realmente necessária.

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