Editorial: assentamentos na Cisjordânia e a nova decisão dos EUA

Por trás do debate sobre a decisão norte-americana em desconsiderar a colonização da Cisjordânia como “obstáculo para a paz”, há três elementos centrais: O primeiro se constitui em um debate conceitual de política internacional, o segundo está relacionado a um reposicionamento dos EUA nos acordos internacionais, e o terceiro, como não podia deixar de ser, tem a ver com decisões internas da política israelense.

Em relação ao primeiro ponto, a nova decisão do governo dos Estados Unidos desconsidera que a permanência de Israel nos Territórios da Cisjordânia sejam ilegais e que contradigam a quarta Convenção de Genebra, de 1949. Essa convenção, adotada pelos órgãos e conselhos multilaterais, lida com as relações entre potenciais ocupantes e populações ocupadas após conflitos armados.

É importante notar que a decisão de considerar israelenses ocupantes e palestinos um povo sob ocupação é polêmica para setores conservadores na política israelense. A primeira polêmica, de ordem das convenções internacionais, está relacionada ao fato de Israel ter conquistado, em 1967, a Cisjordânia (e Gaza) de terceiras partes (Jordânia e Egito). Nesse sentido, estruturas jurídicas palestinas não existiam, não podendo exercer papéis de negociação plena em caso de administração ou retorno dos territórios.

O segundo elemento relacionado, também ligado à quarta convenção de Genebra, tem a ver com uma questão ideológica importante no governo Trump. Nesse caso, Israel sequer é visto como ocupante ou invasor. Isso porque, ideologicamente, Israel, representante do povo judeu e de seus antepassados bíblicos, seria o herdeiros natural das terras em questão. Nesse sentido, os palestinos (os jordanianos ou egípcios) seriam os invasores.

Essa opção não pode ser descartada em um momento em que evangélicos norte-americanos têm importância fundamental no apoio ao governo Trump, sacudido por crises. Justamente por conta disso, há uma tentativa de reaproximação do presidente dos EUA ao governo Bibi Netanyahu, abalada pela recente retirada americana do Curdistão, no norte da Síria, pela aproximação de Trump do presidente turco, e por conta de uma certa quebra de tensões com o regime iraniano. Pontos que colocaram em dúvida a suposta relação pessoal entre Trump e Bibi.

Com essa decisão, o presidente americano parece querer dar mostras de ser próximo a Israel. Além disso, tenta fazer avançar, de algum jeito, negociações de paz das quais os EUA seriam credores.

O terceiro elemento seria, certamente, de política interna israelense. Escanteado nas últimas decisões americanas, Bibi precisava mostrar que ainda era um parceiro preferencial de Trump. A decisão pode cacifá-lo para uma possível eleição, aproximando-o da extrema direita religiosa, que sonha com anexação dos territórios da Cisjordânia.

Enfim, apesar de poucos resultados práticos, a decisão norte-americana tem muitos elementos simbólicos que podem mudar o equilíbrio no Oriente Médio.

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