Decisões irritam esquerda e podem rachar governo Bennett

Crédito: Olivier Fitoussi/Flash90
TEL AVIV – Com o fim da quarta onda da Covid-19 em Israel e a reabertura do país para o turismo, em 1° de novembro, o governo de coalizão liderado pelo primeiro-ministro Naftali Bennett enfrenta seus primeiros reais desafios para manter-se de pé. Se a luta contra o coronavírus era um consenso apartidário, outras agendas que pipocam neste momento não são. 
Nos últimos dias, alguns assuntos polêmicos levaram muitos a pensar que a coalizão, que está no poder há apenas cinco meses, pode não aguentar e rachar. Entre eles, a construção de milhares de novas casas em assentamentos judaicos na Cisjordânia e a qualificação de 6 ONGs palestinas como terroristas. Os dois assuntos estão longe de serem consenso dentro de Israel e da coalizão e colocaram Israel novamente na linha de fogo da crítica internacional.
Como se sabe, a coalizão liderada por Bennett é formada por oito partidos distintos ideologicamente: 2 de esquerda, 2 de centro, 3 de direita e um da minoria árabe. O próprio Bennett é um conservador da ultradireita, mas o chanceler Yair Lapid – com o qual ele divide a responsabilidade e deve trocar de lugar em ano e meio – é um progressista de centro. O que une Bennett e Lapid? Só um sentimento: a ojeriza ao ex-premiê Benjamin “Bibi” Netanyahu. Eles querem fazer de tudo para manter a coalizão de pé e evitar uma volta de Bibi ao poder.
Para isso, combinaram que o atual governo não tomaria decisões drásticas nem para a esquerda e nem para a direita. Mas a revelação de uma nova concorrência para a construção de milhares de unidades habitacionais na Cisjordânia surpreendeu os integrantes mais à esquerda da coalizão. Primeiro, foram 1.300 casas. Depois, o número aumentou para 3 mil. A esquerda condena os assentamentos. A direita quer expandi-los.
Como se não bastasse, o Ministério da Defesa anunciou a inclusão de 6 ONGs palestinas em uma conhecida lista de organizações terroristas. Na prática, isso criminaliza essas ONGs que dizem atuar por direitos-humanos. Novamente, os partidos mais à esquerda da coalizão reclamaram que não foram avisados antes. E Israel foi alvo de críticas da União Europeia e dos Estados Unidos.
Construção em assentamentos e questões relacionadas aos palestinos são justamente temas nos quais esse governo não deveria tocar, de acordo com os acordos de coalizão firmados entre os partidos. Então, o que aconteceu? E, mais importante: será que isso pode levar a um racha séria no governo e à queda dele? Será que teremos novas eleições em breve, com a possibilidade de que o Likud de Netanyahu volte ao poder?
Pelo que entendi ouvindo a imprensa local, alguns acordos informais foram decididos quando o governo foi formado. O principal deles é que cada partido da coalizão (o partido árabe Ra’am é um deles, apesar de não estar formalmente no governo) ficaria livre para falar o que quiser para seu público interno. Quer dizer: a ministra do Interior Ayelet Shaked, do partido ultranacionalista Yamina (do Bennett) não vai deixar de ser de extrema-direita de uma hora para outra. Mas, para manter seu público fiel e justificar a permanência no governo, ela pode discursar para seu público, dizendo que está fazendo tudo o que pode para contemplá-lo.
O mesmo no caso de partidos de esquerda como o Trabalhista e o Meretz. Ou todos os outros.
Mas, ao que parece, houve acordos informais. Ao que tudo indica, a construção em assentamentos teria sido um deles. Seria aceitável a todos apenas se acontecesse no contexto do chamado “crescimento natural” desses vilarejos. Quer dizer: não construir novas colônias nem aumentar o perímetro existente delas, atraindo novos moradores. Mas sim construir alguns novos bairros ou prédios para os moradores que já estão lá e que se casam e querem se mudar para um apartamento próprio. 
Já a questão das ONGs, isso não. Não houve acordo informal algum aceitando criminalizar ONGs palestinas. Os partidos de esquerda estão furiosos porque não foram incluídos na tomada de decisão do ministro da Defesa, Benny Gantz, que afirma ter provas de que essas ONGs foram infiltradas por terroristas. Quer dizer: não foram criadas para ser organizações terroristas, mas foram infiltradas. Só que Gantz não teve o cuidado de reunir os líderes dos partidos da coalizão para mostrar o relatório e avisar o que faria. Não achou que a medida seria tão controversa.
Aliás, Gantz também esticou a corda em setembro, quando se encontrou com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, para chateação dos partidos mais à direita da coalizão. Ao que parece, Gantz está conseguindo irritar tanto direitistas quanto esquerdistas ao tomar decisões unilaterais sem consultar ninguém.
No final das contas, tudo isso mostra como esse governo Bennett-Lapid pisa em ovos e anda em cima do muro. Por enquanto, todos ainda querem se manter unidos e a turma do “deixa disso” está a pleno vapor. O ódio a Netanyahu é tão grande que talvez consigam se manter unidos, apesar das querelas. Mas a complexidade é grande. Assuntos como a luta contra a corona e o aquecimento global, a violência urbana nas cidades árabes e investimento em infraestrutura são apartidários. Todos concordam. É nisso que o governo deveria focar, se quiser sobreviver. 

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