A pandemia e os palestinos: medidas severas, baixa mortalidade e apreensão

O magnata Bashar Masri, 59 anos, um dos principais empresários palestinos, está otimista e pessimista ao mesmo tempo. Ele elogia as medidas tomadas pela Autoridade Palestina (AP) na crise do COVID-19, que, segundo ele, evitaram que a epidemia galgasse altos patamares nos territórios palestinos (Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental). A AP agiu rápido, fechou fronteiras, determinou um severo isolamento social e informou a população sobre a severidade do coronavírus. Desde o começo da epidemia, foram diagnosticado 520 doentes e houve apenas duas mortes. Nada mal para algo em torno de os 5 milhões de palestinos (estimativa) nesses territórios.

Mas, ao mesmo tempo, Bashar Masri, presidente da empresa de investimentos Massar e do Palestine Investment Company (Padico), além de idealizador de cidade de Rawabi – a nova e moderna cidade da Cisjordânia –, teme o futuro da economia palestina. Ele diz que o governo palestino não tem a força e a capacidade para anunciar um pacote de estímulo econômico e que, em breve, assim que o pior momento da pandemia passar, o povo começará a reclamar. Por enquanto, no momento, o presidente palestino, Mahmoud Abbas, e o primeiro-ministro Muhammad Shtayyeh, estão com a popularidade em alta.

Masri não poupa Israel de críticas, apesar de não culpar o país pela epidemia (o asseguram que muitas teorias conspiratórias que circulam entre os palestinos). Ele acha que Israel não tem ativamente ajudado os palestinos – mesmo que, ao mesmo tempo, acredite que os israelenses devam deixar os palestinos resolverem seus problemas sozinhos. A maior crítica dele é o fato de Israel continuar sendo responsável pela arrecadação dos impostos dos palestinos, muitas vezes adiando – por um motivo ou outro – a transferência do dinheiro.

Abaixo, o que pensa Bashar Masri sobre a situação atual:

Como os palestinos estão sendo afetados pela crise do Coronavírus?
Todas as nações foram duramente atingidas por esta epidemia. No entanto, a Palestina foi duramente atingida simplesmente porque  não somos um país, ainda. Somos uma nação em formação. Não temos uma rede de segurança. As consequências são bastante graves: 92% da nossa economia depende de pequenas empresas e de trabalhadores que trabalham em Israel. É claro que muitos negócios irão à falência. A economia palestina também depende muito de Israel. Pelo menos 150 mil trabalhadores trabalham em Israel, e isso também foi afetado. Obviamente, a economia de Israel também foi duramente atingida. Os hotéis estão fechados e muitos dos funcionários são palestinos. 

Qual será a consequência disso?
Ainda não vimos os efeitos, porque todo mundo está assustado. A Autoridade Palestina foi um dos primeiros governos a declarar emergência e a realizar isolamento social. A confiança na AP aumentou dramaticamente, desde o começo da crise. A doença não está fora de controle em relação a outros lugares. Há entrevistas coletivas organizadas diariamente. Eles centralizaram as informações. Vemos uma AP coordenada, forte e coerente. No entanto, agora é que vem o verdadeiro teste: como eles manterão a popularidade? Haverá muita dificuldade, pois as pessoas começarão a sentir as consequências de perder empregos, perder negócios, perder renda e a AP não poderá ajudá-los.

Como assim?
A economia da Palestina, como o resto do mundo, deve levar muito tempo para se recuperar e as medidas que estão sendo tomadas agora para lidar com a desaceleração econômica são, na minha opinião, fracas. Pelo menos as que foram anunciadas e que são baseadas em mais empréstimos. Mas as receitas tributárias estão caindo e o pagamento será difícil. Além disso, Israel às vezes retém nosso dinheiro dos impostos. Não temos nenhum pacote de estímulo. É por isso que acho que, imediatamente após o feriado do Eid al-Fitr, que começa em três semanas (23 de maio), a Autoridade Palestina tem que abria a economia. Aliás, já começou na semana passada. Eles aliviaram a pressão e permitiram que certas empresas voltassem ao trabalho. E parece que a doença não está se espalhando tanto.

Como os empresários palestinos estão ajudando, neste momento de crise?
Quando a emergência foi declarada, nós do setor privado nos oferecemos para ajudar no esforço nacional. Sabemos que o governo não estava pronto. Eles não tinham as instalações e os equipamentos. Por exemplo, minha empresa opera quatro hotéis, dois em Gaza e dois na Cisjordânia (um em Belém e um em Jerusalém Oriental). Imediatamente, colocamos esses hotéis à disposição das autoridades locais. Eles se tornaram o principal local para colocar as pessoas em quarentena. Também conseguimos alguns suprimentos de máquinas e medicamentos. Montamos um centro de testes para o Coronavírus em Nablus, em um prédio que possuímos. Se no Ocidente, dezenas de milhares ou talvez centenas de milhões foram demitidos imediatamente, na Palestina isso não aconteceu. O setor privado ainda não demitiu, até porque a Autoridade Palestina é incapaz de pagar benefícios de desemprego e isso impõe um ônus para nós, o setor privado, de não demitir pessoas. Por exemplo, assumimos o compromisso de não demitir ou reduzir salários até o final do ano. Isso faz parte da responsabilidade social de ser palestino. Mas, obviamente, não podemos fazer isso por muito tempo. 

Há palestinos que culpam Israel pela epidemia em seus territórios, afirmando que eles infectaram trabalhadores palestinos de propósito para difundir o vírus na Cisjordânia e em Gaza. O que o senhor acha disso?
Tudo é politizado na Palestina, tudo. A verdade é que a doença em Israel se espalhou muito mais rapidamente do que na Cisjordânia. Acho que a questão dos vistos de trabalho para palestinos foi muito mal organizada. Foi tudo mal coordenado, para dizer de maneira grosseira. Certamente Israel poderia fazer mais ou, devo dizer, poderia fazer menos… Deveria nos deixar fazer do nosso jeito, sem nos controlar.

O mundo parece estar parado e não pensa em outra coisa, além do Coronavírus. O mundo esqueceu dos palestinos?Sinceramente, eu gostaria que a comunidade internacional se esquecesse de nós, agora. Isso porque o único assunto que importa parece ser o plano de anexação (da Cisjordânia, parte do Acordo do Milênio do presidente americano Donald Trump). Esta é a única política que está sendo discutida e que apenas adicionará mais combustível ao incêndio. É vergonhoso que o líder israelense e alguns líderes internacionais, principalmente nos Estados Unidos, estejam apoiando Israel a implementar uma decisão estratégica histórica unilateral. A coisa ética a fazer seria abandonar esse assunto neste momento de pandemia mundial.

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