Imprensa israelense dá destaque à invasão de Brasília

Daniela Kresch

TEL AVIV – A imprensa israelense deu destaque sem precedentes à invasão criminosa do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto. Todos os sites de notícias do país deram as informações como manchete principal de seus portais. Do YNET (o site do maior jornal, o Yedioth Aharonoth) ao site do Kan 11 (importante rede de rádio e TV), passando pelo Jerusalem Post, o Haaretz, o Times of Israel e outros.

“Os partidários do ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, invadiram o prédio do Congresso em Brasília na noite desta segunda-feira (domingo) e, segundo relatos, causaram muitos danos”, escreveu o YNET. “Além disso, também invadiram o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto – que ficam próximos ao Congresso, em um complexo denominado Praça dos Três Poderes.

“Os eventos dramáticos, que lembram os distúrbios do Capitólio por apoiadores de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021, ocorreram uma semana após a posse do novo presidente do Brasil”, continuou o YNET. “Assim como nos motins nos EUA, também do Brasil vieram imagens extraordinárias de manifestantes fazendo estragos no plenário e nos gabinetes de ministros e atacando soldados e policiais”.

O Kan 11 está chamando o os eventos de “6 de janeiro brasileiro”. A matéria do site diz: “Caos no Brasil: apoiadores de Bolsonaro invadiram os prédios do Congresso, do Supremo e o escritório do presidente. As forças de segurança começaram a usar gás lacrimogêneo na tentativa de repelir os manifestantes”.

“Em imagens nas redes se vê apoiadores de Bolsonaro destruíram o plenário do Senado”, disse o apresentador da Rádio Reshet Bet no noticiário das 22h. “Nossos repórteres dizem que as forças de segurança começaram a utilizar gás lacrimogêneo para afastar os apoiadores de Bolsonaro”.

Quase todos os sites usam informações de agências de notícias como Reuters e Associated Press porque não têm correspondentes fixos no Brasil. Então, os textos são muito parecidos.

Manchete prinicpal do jornal The Time of Israel

Enquanto eu escrevo essas linhas, na noite de 8 de janeiro de 2022 (horário de Israel), nenhuma autoridade israelense se manifestou. Há dúvidas se o novo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que tomou posse no dia 29 de dezembro pela 6ª vez, irá se pronunciar. Afinal, não é segredo que Netanyahu apoiou efusivamente o ex-presidente Bolsonaro e até esteve na posse dele, em 2018.

Agora que voltou ao poder, Netanyahu não encontrará a mesma boa vontade do governo anti-bolsonarista de Lula que foi empossado em 1° de janeiro. Netanyahu certamente não tem o relacionamento tão próximo com Lula que tinha com Bolsonaro, com o qual divide muitos ideais.

Não se pode esquecer também que Netanyahu apontou para a embaixada de Israel em Brasília o ativista do Likud Yossi Shelley, em 2017, que se tornou amigo íntimo de Bolsonaro enquanto ocupou a embaixada, até meados do ano passado. Shelley costumava ir à casa do ex-presidente, almoçar (refeições nada kasher) e ir a jogos de futebol com ele. Agora, Shelley trabalha diretamente com Netanyahu em seu gabinete. Sabe-se lá a influência que isso tem nas decisões de Netanyahu em relação ao Brasil. E se Netanyahu viu o que aconteceu em Brasília com “bons olhos”.

Também não sei se Netanyahu gostou de ouvir Lula chamando os criminosos pró-Bolsonaro de “nazistas”.

O caso do presidente de Israel, Isaac Herzog, é diferente. Herzog, que presidiu o Partido Trabalhista, é um democrata e um amante do Brasil. Ele não hesitou em parabenizar o presidente Lula por sua vitória no segundo turno das eleições assim que os resultados foram confirmados. Dele eu esperaria alguma solidariedade com a democracia brasileira.

Aliás, o ex-presidente Shimon Peres, que sempre admirou Lula, ficaria impressionado com o que aconteceu em Brasília – e continua acontecendo no Brasil – e não esperaria nem um segundo para condenar os depredadores.

Para os diplomatas israelenses no Brasil, não será fácil convencer o Itamaraty a votar em favor de Israel em fóruns internacionais, de agora em diante. A diplomacia do novo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, voltará a ser como era nos primeiros dois governos de Lula e nos anos Dilma: em prol da solução de Dois Estados para dois Povos. Não mais aquele corte de relacionamentos com os palestinos e a aproximação apenas com Israel. A diplomacia do Brasil voltará à moderação de sempre quanto ao conflito entre israelenses e palestinos.

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