Jovens – 70 anos depois

Israel comemora 70 anos de sua fundação. A ocasião desperta inúmeras justificadas manifestações de orgulho e regozijo, ao lado de gestos de exagerado teor “patriótico” e nacionalista.

A orientação de direita que há anos dirige os destinos do país faz com que se ponha mais ênfase nas conquistas econômicas e científicas, no poderio militar considerável numa concepção populista e vulgarizante da cultura, com inclinações preferenciais das comunidades oriundas do oriente. E uma parte deste quadro denota uma tendência de re-interpretação histórica, na qual se procura sufocar a essencial contribuição do movimento obreiro e da corrente Sionista-Socialista no estabelecimento do Estado.

Falar dessa corrente é falar da Histadrut, a poderosa central dos trabalhadores, e de sua vital importância na formação de uma economia sólida ainda antes da proclamação da independência. É falar dos kibutzim e de seu exemplar contingente de ação voluntária sobre o qual se apoiou o esforço de construção das primeiras bases do Estado.

E é falar dos movimentos juvenis sionistas-socialistas, que foram a fonte quantitativa e qualitativa da reserva humana daqueles tempos de penúria e de luta; da Haganá e da Palmach, que lançaram o alicerce do Exército de Defesa de Israel; de veneráveis figuras como A.D.Gordon ou Berl Katzenelson, inspiradores de uma moral de comportamento social anti-retórico e baseado na ação e no exemplo pessoal; ou de Ben Gurion, o incansável líder da ressurreição  e o grande promotor da unidade nacional, pela qual não hesitou em dissolver mesmo setores de sua própria formação partidária. E é falar do estabelecimento de Ishuvim que marcaram as fronteiras do país frente às muitas propostas internacionais de partilha da Palestina e à agressão dos exércitos árabes hostis.

Neste capítulo, destaca-se o papel dos movimentos juvenis sul-americanos, e dentre eles os brasileiros. Entre outras muito válidas e importantes, sua função foi e continua sendo imprescindível na criação de uma barreira perante o território de Gaza, do qual exatamente nestes dias está mais uma vez se lançando uma onda de provocação e destruição, impelindo uma população em estado de desespero mas incitada por uma liderança fanática, a atos de protesto e de terror dirigidos contra Israel.

Os noticiários se concentram muito mais nos aspectos da tática militar diante da atual situação, do que na valente não rumorosa resistência da população civil – em sua grande parte dos kibutzim. E a atitude do governo tem sido de uma atenção mínima para as necessidades dessa população,  que evidentemente não compartilha das aspirações eleitoreiras de seus ministros e deputados, nem subscreve cegamente o entusiasmo com que políticos israelenses observam os passos imprevisíveis do Presidente americano Trump.

Neste ponto, forçoso é também dedicar algum comentário quanto à repercussão dos acontecimentos sobre o judaísmo mundial. O governo de Netanyahu procura inculcar o conceito de que o judaísmo da Diáspora deve aceitar silenciosa e automaticamente sua política (que no caso do maior setor do judaísmo americano é francamente discriminatória)

E no caso do judaísmo Brasileiro, quem como nós observa seu comportamento frente aos problemas desta região, mas também da cena política brasileira – não pode deixar de sentir essa tendência, que, ao par do receio de provocar abalos na delicada estrutura da prosperidade econômica da comunidade, envia injustificados ataques a opiniões de “esquerda”, que na visão do establishment comunitário é sinônimo de anti-sionismo e de identificação com correntes hostis.

 Vítimas desta injusta e irresponsável visão são – mais do que quaisquer outros – os movimentos juvenis. Oxalá fossem eles realmente um fator de maior peso no panorama geral da comunidade. Oxalá as posições de solidariedade humanitária expressas por jovens sinceramente empenhados, quanto a acontecimentos polêmicos dentro da sociedade brasileira, tivessem uma repercussão que pudesse gerar uma maior compreensão da problemática de Israel e do povo judeu, junto a largas camadas do público brasileiro. Oxalá seus pronunciamentos pudessem alterar o foco do efêmero prazer proporcionado pela frequência a luxuosos e caros clubes esportivos e recreativos, em direção a um frutífero intercâmbio de idéias e opiniões, cuja síntese só pode ser benéfica para a sobrevivência de nossa cultura: uma sobrevivência que muito se apoia no fazer educativo voluntário, sincero, autêntico e convincente dos jovens provenientes dos movimentos juvenis.

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Atentos como somos a tudo o que se refere ao judaísmo brasileiro do qual nascemos; e aos autênticos interesses da existência judaica na Diáspora e em Israel – esperamos poder encontrar na imprensa judaica brasileira; na constituição humana das camadas dirigentes e educativas da comunidade; no apoio solidário à atividade dos movimentos – a esperada mudança de rumo que seja um anúncio de abertura democrática da opinião pública judaica. E o retorno a uma orgânica ligação do ishuv brasileiro com sua  Aliá em Israel e seus pioneiros representantes desde os primórdios: uma Aliá que embora reduzida numericamente, já pode se gabar de passos e pessoas significativos no panorama social israelense.

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