Onde você estava na noite de 4 de novembro de 1995?

Vinte e quatro anos e ainda é difícil de acreditar. 

Vinte e quatro anos e as lembranças daquela noite terrível ainda vivem no coração de cada um de nós que estava lá ou é da mesma época.

Onde você estava na noite de 4 de novembro de 1995?

Cada um de nós, seja em Israel, no mundo judaico ou no mundo inteiro, que tenha experimentado o mesmo momento, fez esta pergunta.

Cada um de nós tem sua própria memória daquela noite. Cada um se lembra. Ninguém vai esquecer.

Cada um de nós tem uma história pessoal relacionada com Rabin ou com seu assassinato: onde foi, o que fez, o que falou, com quem estava. Cada um tem o “seu Rabin”.

Eu também  tenho a minha pequena história e gostaria compartilhar com vocês.

Eram os dias do processo de Oslo e das negociações com os palestinos. Naqueles dias, eu era diplomata no Ministério das Relações Exteriores de Israel, na função de conselheira política do Diretor Geral, que foi chefe da equipe israelense de negociação com os Palestinos. Eu fazia parte da pequena equipe ao redor do Shimon Peres, o então ministro das Relações Exteriores.

Nossa vida profissional girava ao redor do processo e dos líderes que atuavam (Rabin, Peres, etc.). Acreditávamos no que estávamos fazendo, não poderia ser diferente. Reuniões entre a equipe de Shimon Peres e a equipe de Rabin faziam parte de nossa rotina diária. Eu aprendi a reconhecer, valorizar e apreciar a pessoa por trás do título.

O ambiente público em Israel nesta época era tumultuado e difícil. A sociedade Israelense estava dividida pelo processo do Oslo. Parte do povo estava a favor, parte estava contra. Ataques terroristas faziam parte do dia-dia. Rabin, que acreditava na paz e na necessidade dela, continuou. No dia 28 de setembro de 1995, foi assinado, em Washington, o esquema de Oslo B. O debate no Knesset foi realizado alguns dias depois. O acordo foi aprovado. O país estava como um vulcão em erupção. 

Dentro deste clima controverso, Rabin e Peres decidiram que era necessário agradecer a cada uma das pessoas que faziam parte do acordo – um total de algumas centenas de pessoas que dedicaram dias e noites inteiros para que esse acordo tornasse realidade: diplomatas, assessores jurídicos, oficiais do exército e soldados, profissionais de várias áreas, assistentes, secretárias, motoristas, técnicos, etc. Todos eles, juntos com seus familiares, foram convidados a um evento festivo em Jerusalém para receber um Toda Raba (“Obrigado”, em hebraico) diretamente do Primeiro Ministro e do Ministro das relações exteriores. A data marcada era 6 de novembro de 1995 e a mestre de cerimônias nomeada era eu. Fiquei muita emocionada, preparei minhas palavras com muita dedicação e humildade, escrevi e reescrevi o texto e treinei muito para discursar.

“Sr. Primeiro Ministro, Sr. Ministro das Relações Exteriores, 6 de novembro será uma noite de muita alegria! […]”, escrevi e acreditei. Ninguém foi capaz de imaginar o horror que estava por acontecer.

A cerimônia em Kikar Malchei Israel (a praça principal de Tel Aviv, que foi nomeada depois como “Kikar Rabin” – Praça Rabin) foi marcada para sábado a noite, dia 4 de novembro de 1995. Por questões familiares planejei chegar na praça no decorrer do evento. Porém nunca cheguei. As notícias já estavam sendo anunciadas na rádio, quando eu estava a caminho. “Não pode ser! Não pode ser!” disse a mim mesma. Eu não podia acreditar nas palavras que acabara de ouvir no rádio. Elas não entravam em minha cabeça.

Imediatamente, me dirigi ao ministério das Relações Exteriores, onde trabalhava, ao “situation room”, onde já começara o alvoroço: chamadas telefônicas do mundo inteiro, muito choro, as pessoas estavam em choque, corriam sem acreditar no que estava acontecendo.

Havia necessidade de começarmos a organizar o funeral. O Knesset é a autoridade formalmente responsável pelos funerais nacionais, mas cada entidade oficial tinha que enviar o seu representante, para cuidar de seus convidados, e nós tínhamos muitos. E eu? Fui nomeada como representante do ministro Peres para a preparação do funeral.

Voltei para casa na noite de 6 de novembro, depois do funeral. Quase 48 horas após o assassinato, tudo mudou. Novos dias, uma nova realidade triste e muito complexa, ainda hoje. “Um judeu matou outro judeu? Não pode ser verdade!”, pensava. Esse foi um marco histórico, pessoal, nacional e político. Nada voltou ao seu lugar original desde então. Na minha cabeça, fiquei com a “frase de abertura” que eu planejava dizer no evento que nunca aconteceu.

Adeus caro amigo, adeus Sr. Primeiro-Ministro.

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